Foto de Flavia Mendes
Com este meu “vasto entendimento”
de arte estava eu, passando em frente a uma galeria de arte e resolvi entrar. Havia
uma exposição de um artista internacional, que não me lembro de que país e
muito menos seu nome. Viu o que eu disse? Não assimilo algumas coisas. Pois
bem, esta exposição consistia em papéis borrados de tinta jogados no chão, com
bisnagas (de pão) por cima. Havia também uma espécie de cabana também feita de
bisnagas e quadros com desenhos em preto e branco de, acreditem, homens
bisnagas. Eu olhei, enjoei, inclinei a cabeça, desejei rir e chorar e, por fim,
resolvi ignorar. Saí desta parte da galeria e fui pra o outro ambiente. Lá sim,
as obras, de sei-lá-quem, estavam esteticamente compostas e fazendo todo o
sentido do mundo. Reconhecia às paisagens, as molduras, a limpeza do lugar.
Tudo muito bem. Não enjoei, não arrepiei, não suspirei, também não precisei
inclinar a cabeça e sai de lá, sem rir, chorar ou ignorar. Simplesmente saí.
Voltei à exposição anterior, não
tinha como sair da galeria sem levar uma bisnagada, era o único caminho. Só que
algo aconteceu. De repente, olhei para tudo com outros olhos. Aquela exposição
que me pareceu tão ridícula no primeiro olhar começou a me instigar. Sabe
aquele livro chamado Olho Mágico, onde você não consegue ver nada, mas quando
fixa um tempo o olhar a imagem aparece nítida, como se sempre estivesse lá? Foi
isso o que aconteceu. Eu consegui entender toda a crítica, a força e o humor presentes naquela obra. Apaixonei-me, queria ficar lá.
Sensação diferente eu tive quando
fui à exposição !(a)notações – paisagem,
de Matias Monteiro. Lembro do nome da exposição, do artista e até do ano
(2011). Lembro, em parte, porque Matias é um sobrinho muito querido. Acontece
que não foi o Matias (sobrinho) que me marcou, foi sua obra que me
envolveu e me emocionou. Eu reconhecia
naquela exposição uma atmosfera que era toda feita de encanto, ao mesmo tempo
doce e forte. Enquanto era passado era futuro. Era simples e complexa. Mas,
acima de tudo, era profunda e aconchegante. Nesta exposição não usei nenhum dos
critérios acima mencionados porque, de alguma maneira eu estava ali de forma
simbiótica. Eu era a expectadora e era a arte... Também era a artista.
O incrível disso tudo é saber que na vida e na arte, algumas pessoas, fatos e obras pedem um segundo olhar.
Muitas vezes atropelamos por não ter paciência de olhar mais uma vez, por não
perceber que o que nos incomoda pode passar a nos encantar. Tudo bem, outras vezes um
segundo olhar pode reforçar o nosso asco. Algumas vezes encontraremos pessoas
como a obra de Matias, que prescindem de explicação. Apenas nos reconhecemos.
Espero ter aprendido com estas
experiências algo que me acrescente. Que eu tenha um olhar mais atento. Para
isso rendo minhas homenagens a todos os artistas plásticos, capazes de gerar
revoluções íntimas e sociais.
Anita Safer
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