domingo, 3 de novembro de 2013

A Casa Monstro

Foto: Érica
Quem gosta de filmes de terror já deve ter assistido Poltergeist-O fenômeno (década de 80) ou algum da série Atividade Paranormal. Pois então, é isso que vira e mexe acontece na minha casa. Segundo relatos de conhecidos, este fenômeno acontece também em suas residências. De repente, sem aviso prévio, TUDO COMEÇA A QUEBRAR OU DAR DEFEITO!!!! Ai, que medo!!!!
Isso é uma coisa que tira a gente do sério, ainda mais que sempre acontece quando estamos super "desfavorecidos financeiramente", ou seja, durinhos da Silva. 
Eu tenho o estranho hábito de pensar sobre tudo, intercalando com momentos em que não penso em absolutamente nada. Mas, pensando sobre este momento "desabatório" da minha vida, resolvi tirar disso tudo algum aprendizado filosófico. Apesar de ficar  tentada a ver um fundo espiritual neste quebra-quebra, o fato é que as coisas na casa estão velhas, muito usadas, caducas mesmo. Não quero defender a ideia de que tudo o que fica velho precisa ser substituído, longe de mim, tem coisas que duram anos, até mesmo séculos; com certeza, elas não foram compradas na maior promoção da loja mais "ralé" da cidade, como é o meu caso.
Minha atitude natural diante destas fases é me desanimar. Mas estou me esforçando pra ter uma atitude diferente diante de situações assim. Confesso que não tem sido fácil, pois quanto mais eu rezo, mais assombração aparece. Começou com o vaso do banheiro, depois foi a pia, depois foi o registro, então começou a vazar embaixo do bloco. Lâmpada queimada pra lá, outra pra cá. As cadeiras da sala de jantar começaram a arriar - mas friso que as bichinhas até que foram guerreiras, pois são fraquinhas de tudo...
O fato é que estou disposta a lutar bravamente. O passar dos anos nos ensina algumas coisas e uma das coisas que aprendi é que de tempos em tempos isto acontece. Acredito que possa realmente aprender com este momento. Não só na nossa casa, mas também em nossas vidas, as coisas precisam ser renovadas periodicamente. Roupas deixam de nos servir e precisam ser substituídas. Algumas pessoas precisam se afastar, para dar espaço para que outras se aproximem. Uns hábitos se tornam prejudiciais e precisam ser abandonados. Sei que depois de uma grande tempestade, apesar de alguns destroços, as plantas ficam lindas e verdes. 
Por que então enfrentar estes contratempos como algo ruim, do mal? Pode ser a oportunidade de apertar um pouco mais o cinto e reformar o banheiro. Quem sabe abrir mão das cadeiras e criar um cantinho oriental, onde a gente coma sentado no chão, por que não? É na adversidade que a criatividade aflora. 

Anita Safer

sábado, 31 de agosto de 2013

Poema

Dama do dia e da noite

Um muro foi erguido
entre a dor e o lamento

Não é tarde
nunca é tarde

Meus olhos
que não sabiam chorar
estavam secos
de saudade e sal

Sal das lágrimas represadas
por tempo infinito

Como pronunciar seu nome
sem sucumbir às punhaladas
do desespero por sua ausência?

Enquanto lustrava minha armadura
reluzente e fria
a dama da noite exalava seu perfume
desafiando minha fortaleza

A dama do dia esta lá
intacta
exuberante
bela
Também serena
sempre

Não é tarde
nunca é tarde

Me rendo...
abro os portões
para que você vagueie
por todos os cantos da minha cidade

Me desmancho em lágrimas
de sal

Saudade

Anita Safer

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O tempo nos torna uma pessoa madura ou mais dura?

Estava eu em minha aula de bandolim. Ansiosa como sempre; triste por não conseguir materializar o som que estava em minha mente. Na minha cabeça as notas soam harmoniosas, melodiosas, deliciosas, mas minhas mãos só produzem grunhidos - um aqui, outro ali. Sensibilizado com minha frustração, meu professor disparou uma analogia, muito oportuna por sinal: "Eu tenho uma filha de nove meses, tudo o que ela consegue fazer é emitir umas sílabas, dá dá pá pá... se ela estivesse aqui não conseguiria travar uma conversa como a que estamos tendo...". 
Acho que nascemos com uma sabedoria nata. Quando o bebê está aprendendo a andar, ele vive este processo de forma natural, acompanhando seu próprio ritmo, caindo e levantando, quantas vezes forem necessárias. Ele supera o medo, se lança. Não pensa em agir com perfeição, apenas age de forma persistente para atingir aquele objetivo. Alcançado aquele objetivo ele parte para outros, com a mesma curiosidade e determinação. 
Em algum momento do caminho perdemos esta fluidez. Começamos a cobrar de nós mesmos um desempenho impecável. Afinal, somos pessoas "maduras", como podemos realizar uma atividade qualquer sem perfeição? Se as coisas da vida fossem tão fáceis assim seríamos brilhantes em todas as áreas. 
As exigências que faço em relação a mim mesma mostram que não estou sendo uma pessoa madura, sim uma pessoa mais dura. Maturidade não é estar pronto, finalizado. Maturidade é saber lidar com os próprios limites, tentar realizar o melhor possível de forma realista. É vivenciar as delícias do processo de aprendizagem. 
No caso da música, a técnica é importante, mas não serve de nada se eu não sentir prazer com ela. Vi que posso ter dificuldades na execução de uma música, meus dedos ainda são duros e lerdos. Mas sei que tenho um ótimo ouvido musical, consigo tirar música de ouvido, senti-la e me emocionar com ela. Isso é belo, é pleno. Aprecio o som do instrumento e posso me dedicar a estudá-lo sempre que quiser.
Esta perspectiva me agrada. Se me agrada e me traz paz, então é a forma correta de lidar com a situação. A partir desta linha de pensamento posso abrir mão da busca pela perfeição e me entregar de corpo e alma ao sentimento, este sim, me faz fluir. Então, deixo de ser dura e não me preocupo em ser madura. Aproprio-me da minha alma de criança, descobrindo as dificuldades e as superações para dar meus primeiros passos. Do que estou falando mesmo? De música? Também.
Agora, Jacob do Bandolim, pode descansar em paz... Vou seguir sendo eu mesma, com os grunhidos e sustenidos do meu lindo bandolim.

domingo, 25 de agosto de 2013

Sobre pessoas e anjos

Foto: Érica
De vez em quando ouço pessoas dizendo: "Prefiro bicho a gente, gente não presta... tals e tals". Eu não penso assim. Gosto muito de bichos, nem todos, baratas eu não gosto. Amo gatos, golfinhos e macacos. Mas gosto muito de pessoas, não de todas. Sei que muitas gostam de mim... Não todas. Antes eu não entendia como alguém podia não gostar de mim. "Como assim, tal pessoa não gosta de mim? Sou tãooooo legal", era o que eu pensava. Hoje sei que sou legal, mas também não sou essa (marca de refrigerante de cola) toda. Ninguém é obrigado a gostar da mim e vice e versa. Tem pessoas de quem eu gosto e ponto. De outras não gosto e ponto. Algumas pedem uns três pontinhos... passando pelo estágio probatório. Gosto de pessoas por razões diversas. Pode ser porque falam demais ou nada falam. São extravagantes, sensíveis, simples, bagunceiras; os motivos são intermináveis e indecifráveis, porque o critério não passa pela razão, mas pelo sentimento.
Mas nada supera o aparecimento de certas pessoas que surgem na vida da gente, que vou chamar de anjos. São relações mágicas que acontecem, sem explicação aparente. Acontecem como que por acaso. Inicialmente parecem ser apenas mais uma pessoa que está entrando na sua vida, como muitas outras. Podemos gostar dela de cara... ou não. O fato é que esta criatura se embrenha na sua alma e passa a constituir um dos alicerces da sua felicidade. Esse alguém, que é um anjo pra você, não é - ainda bem - uma pessoa perfeita. Mas sente por você tanta ternura que te faz sentir amado. Não deseja que você seja diferente do que você é. Vibra com suas conquistas, se compadece da sua dor. É alguém com quem você não precisa ter medo de mostrar suas fragilidades, porque a pessoa nunca vai usá-las contra você. Quando seu coração está doendo, você recorre a esta pessoa e ela "fu...fu...fu...", sopra em seu coração pra amenizar sua dor. 
Um amigo anjo nunca te abandona. Ele pode estar a quilômetros de distância, do outro lado do mundo, mas você sente que, mesmo andando por outros caminhos, ele não larga a sua mão. Vocês procuram cuidar um do outro, quando necessário; mais que isso, cada um procura cuidar de si pelo outro, porque sabe que seu bem estar faz a diferença na vida de alguém. Quando você está na companhia de alguém assim, o tempo passa de forma diferente, os momentos são longos e leves.  
Não há cobranças neste tipo de relação, pois não há necessidade de afirmação do afeto; ele existe e é claro e cristalino. Para que prender um amigo anjo? Ele tem asas para voar, as mesmas asas que usa para buscar a sua companhia e dividir com você as mazelas e delícias da vida.

Anita Safer




domingo, 11 de agosto de 2013

Quermesse - Despertando a comunidade para a paz

                                                                                                                                                                           Foto: Arquivo pessoal
Todos os anos Brasília é presenteada com um evento muito legal. É a tradicional Quermesse do Templo Budista. Este ano é a 40ª Quermesse. De uns anos para cá tenho procurado ir em todas. É bonito ver um povo buscando manter suas tradições em uma terra distante. Vivenciar um pouco a cultura dos outros nos enriquece. Nos permite ouvir novos sons, experimentar novos sabores. Bom demais. 
Nestes eventos o antigo e o novo se fazem presentes. Ao mesmo tempo em que as tradições são mantidas através das meditações, das comidas, dos rituais - como o tocar do sino; o novo também tem sua vez. Os jovens tem espaço para expressar sua maneira de vivenciar o mundo.
Lá você pode comer Sushi, Temaki, Yakisoba, camarão empanado, entre outras delícias da culinária japonesa. Mas se não gostar de nada disso pode partir pro hotdog ou pra tapioca. São montadas diversas barracas para quem quiser comprar artesanatos, bijouterias, camisetas, enfim, diversas coisas, a maioria ligadas à cultura japonesa. Se quiser relaxar, uma das tendas oferece o shiatsu expresso.
Na parte cultural são feitas apresentações de artes marciais além do bon-odori (dança folclórica japonesa) ao som de Taiko e Matsuri Dance. O que mais gosto são as danças coletivas. É como se fosse um tai chi dançante. A maioria dos jovens conhece as coreografias, mas quem não conhece também pode participar e vira uma grande brincadeira. Sou capaz de ficar horas vendo o pessoal dançar e até me atrevo a arriscar uns passos. Outra coisa que me diverte é ver o estilo da turma mais jovem, eles capricham no visual, é bem bonito de ver. Quem gosta, também pode participar da meditação.
Vale muito a pena dar uma passada por lá. A quermesse acontece durante todos os finais de semana de agosto a partir das 16 horas. Entrada: 1k de alimento não perecível (exceto sal). O Templo Budista fica na 315/16 Sul.

Anita Safer

A voz e a dona da voz

É engraçado como muitas coisas em que pensamos, simplesmente acontecem. Estava indo para o meu forrozinho com minha amiga Sílvia. Sílvia, assim como eu, é uma pessoa eclética e estava ouvindo no rádio do carro músicas clássicas. Ela disse que andava ouvindo sempre a Brasília Super Rádio FM quando estava no trânsito. Eu disse a ela que gostava da rádio também. Especialmente da voz da locutora que dizia A Diferença é a Música. Acho incrível sua voz. A voz dela é uma música. Passados três dias fui ao Conjunto Nacional resolver umas coisas e, de repente, ouvi aquela voz conhecida. Pois não é que o programa Piano ao Cair da Noite é gravado ao vivo de lá? 
A dona da voz estava lá. Uma mulher muito bonita, sofisticada. Harmonia total: ela/a voz/ a programação. Seu nome é Lucia Garofalo. Fiquei me deliciando com o programa. Gostaria de ter esperado o final para cumprimentá-la e contar da feliz coincidência de ter falado sobre ela uns dias antes. Mas tinha um compromisso e não pude esperar. Acho bacana quando uma pessoa consegue imprimir sua marca pessoal em um trabalho e ela faz isso com maestria; queria dizer isso a ela.
Foto: arquivo pessoal
Retornei dias depois. Só que ela não estava lá. Mesmo assim fiquei lá, rendida ao som do piano do músico e compositor Toninho, que, na ausência de Lucia, também apresentou o programa. Seu repertório, bem variado, passou por Tom Jobim e Vinícius, Carlos Gardel, Richard Wagner e muitos outros. Apresentou também uma música belíssima, chamada Ciganice, de sua autoria com a parceira Neuza Doritto. Bela apresentação.
A rádio, que foi inaugurada há mais de 30 anos, foi a única emissora do mundo a ser inaugurada por um Papa; com exceção, claro, da Rádio do Vaticano. 
No decorrer do programa, Toninho contou sobre uma reportagem que tinha assistido sobre o Ray Charles, onde perguntaram para ele qual era o seu gênero musical favorito e ele respondeu: Para mim só existem dois tipos de música - a boa e a ruim. Faço minhas as palavras de Ray Charles, por isso recomendo este programa simples, gostoso e a cara de Brasília. Tomar um cafezinho gostoso na praça de alimentação e curtir este programa no Conjunto Nacional. Assim você acalma a mente com música de boa qualidade e encara o trânsito com mais tranquilidade.
O programa Piano ao Cair da Noite é transmitido ao vivo de segunda à sexta, das 18 às 19 horas, do palco-auditório (ao lado da agência do Banco de Brasília - BRB, no Conjunto Nacional)

Anita Safer

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

De olho na compulsão

Foto: Érica
"Tudo demais é veneno", diz um velho ditado. É muito difícil quando sentimos que somos controlados por ações e sentimentos que são mais fortes que a nossa vontade. Isso acontece com  drogas, álcool, comida, sexo, dependência afetiva ou outra coisa qualquer.  A pessoa compulsiva é alguém que busca um alívio para algo que não vai bem. É uma história solitária  que pode afastar o indivíduo do caminho de suas realizações pessoais. Além de ter que lidar com a pressão interna, de não ser forte o suficiente para lidar com o vício, sofre, às vezes, com julgamentos externos. Ela pode ser rotulada de fraca, mau caráter e um monte de outras coisas. Tudo bem, ela até pode ser isso tudo. Mas isso não tem nada a ver com compulsão, a compulsão é uma doença! Ninguém fala pra quem está com hepatite: "Você é um fraco, tá com hepatite porque quer. Larga já essa hepatite pra lá e sai dessa vida". 
Talvez o primeiro passo para lidar com o problema seja admitir que ele existe. Perceber que a compulsão está te fazendo mal física, emocional ou socialmente. A partir daí buscar ajuda. Nós não precisamos enfrentar sozinhos os problemas da vida. Este planeta está abarrotado de gente, elas precisam servir para alguma coisa, tipo, ajudar umas às outras. Aliás, muitas vezes a compulsão nasce da mania de perfeição, do orgulho, da culpa, dos ressentimentos. Então é preciso quebrar este ciclo. Precisamos aprender a lidar com nossas imperfeições e fazer parte do gigantesco grupo dos humanos, imperfeitos por natureza. Abrir mão do orgulho, tentar entender e perdoar as nossas culpas para seguir adiante com nossas vidas. Aprender a vivenciar os sentimentos, para no futuro não termos que re/senti-los (daí a palavra ressentimento).
Para buscar ajuda é preciso fechar os ouvidos às vozes internas que nos boicotam nesta busca e às vozes externas (de pessoas que não entendem o que você está passando e desqualificam seus sentimentos). Existem profissionais que estudaram pra caramba pra tentar te ajudar neste processo. É hora de buscar uma terapia. Outra alternativa são os grupos de apoio, que existem para os diversos tipos de compulsão. 
Não posso falar de todos os tipos de compulsão, pois, felizmente, não preciso lidar com eles, que são difíceis demais. Meu problema é alimentar. Foi muito difícil admitir que fico "alucinada" e "desorientada" diante de certos alimentos. A compulsão alimentar é complicada porque você não tem como fugir do agente que provoca a compulsão. Não tenho como ser uma eremita, que vive na solidão e só come frutinhas silvestres e plantinhas em geral. Tenho que dar de cara, quase todo dia, com os gatilhos da minha compulsão. Na minha busca por ajuda encontrei um grupo de apoio e estou achando muito legal. Por esta razão, estou aqui dando a cara a tapa e repassando esta dica. Se for seu momento e sua necessidade, procure ajuda. Os grupos de apoio são formados por pessoas imperfeitas, assim como você e eu (ô coisa difícil é admitir que não sou perfeita, mas tudo bem); por esta razão não vale a pena ir com a ideia de que lá vai correr tudo às mil maravilhas, mas utilize as reuniões como um instrumento para a sua melhora. Afinal, este é um problema seu e de mais ninguém. 
Para casos como o meu existem os Comedores Compulsivos Anônimos. São vários grupos no DF. Fica a dica.

Anita Safer

domingo, 21 de julho de 2013

Ela era miudinha...



Foto: Érica
Muitas vezes não é fácil ser baixinha, confesso. Andar de ônibus é uma agonia. A gente não pode ver aquela cadeira mais alta que vai feito doida pra sentar lá. Por que? Pra alcançar aquela cordinha infeliz que fica lá no alto. Sei que eles colocaram aqueles botõezinhos mais baixos pra gente alcançar, mas eles nunca funcionam. Parece de propósito pra deixar a gente naquela situação "vexaminosa" de ter que pedir ajuda pra um “adulto”,ficar dando pulinhos ou então achar um cano daqueles embaixo da cadeira pra subir nele. E quando o ônibus tá cheio, você fica lá, na linha de tiro dos sovacos. Ninguém merece.

“Não sou baixinha, sou compacta. Tudo de bom em pouco espaço”, frase criada por alguma baixinha pra mostrar que se garante. “Nos menores frascos estão os melhores perfumes” - essa é velha - e sempre respondem “e os piores venenos”, as pessoas sempre tentando nos jogar pra baixo, nem precisa, já estamos embaixo, somos baixinhas, lembra?

Mas ser baixinha tem suas vantagens. A maioria dos homens gosta de ter mais estatura que a companheira. Neste quesito tô na boa. Porém, a maioria acha a coisa mais linda aquelas mulheres bem altas.

No forró é uma beleza, as pessoas podem te chamar pra dançar porque dá pra fazer aqueles comandos de braço lá de cima, na maior tranqüilidade. Agora, quando o cara é muito alto ele tem que ser um artista tipo Circo de Soleil, um verdadeiro contorcionista. Melhor pra ele, aprimora a técnica. Acho que gosto do forró porque me sinto homenageada em algumas músicas como a de Luiz Gonzaga: 


Ela era miudinha
Botei seu nome
Tamborete de forró
Mas quando ela me deu uma olhada
Senti logo uma flechada
Meu coração foi logo dando um nó


Certo, tamborete de forró é sacanagem, mas ele admite que a miudinha mexeu com o coração dele. Tem outra cantada pelo Trio Virgulino que fala assim:


Tem dó pequenininha
Tem dó pequenininha
Tem dó eu não quero chorar

Mas quando a gente se vê
É uma alegria sem fim
A gente pega a saudade
E manda ao longe assim


Essa é mais bonitinha e sempre que uma dessas músicas toca, alguns parceiros que dançam sempre comigo falam: “Olha a sua música”, “Lembro de você sempre que ouço essa música”. Isso é bom. Ainda tem uma que não curto muito, mas foi uma tentativa e merece crédito... a do Roberto Carlos:


Ai, ai, ai, essa voz doce e serena,
Essa coisa delicada
Coisa de mulher pequena
Ai, ai, ai essa voz doce e serena,
O meu coração dispara por
Você mulher pequena.


Mas Roberto Carlos não vale, gente, acho que ele é apaixonado por mim; já fez música pra mulher madura, gordinha, baixinha e pra mulher de óculos.... fala sério, o Rei me ama.

Olhando agora vejo que não é tão trágico assim ser baixinha. Afinal, cada um tem que manter sua autoestima em alta. Em alta???? Me lasquei...

Anita Safer




sexta-feira, 12 de julho de 2013

Um encontro com a sabedoria


Arquivo pessoal

Quando minha irmã Cleo era viva, criou um grupo de encontro da terceira idade em nossa quadra. Nesses encontros ela convidava profissionais de saúde e de diversas outras áreas para dar palestras aos idosos. Promovia bailes, passeios, workshops e outras atividades. Um dia ela me pediu que criasse um grupo de teatro com eles. Topei o desafio na hora. O grupo foi formado por algumas poucas mulheres. Assim nasceu o Grupo de Teatro Digna Idade. Tinha a participação da Gilda, que estava longe de estar na terceira idade, mas era super animada e também quis participar. A primeira peça que escrevi para elas chamava-se O Encontro com a Sabedoria. Era a história de uma mulher sofrida, alcoólatra, que ia encontrando pouco a pouco algumas virtudes (representadas pelas atrizes), sendo que a última virtude com quem ela se encontra é a sabedoria e, a partir daí, a vida dela sofre uma transformação.

Todas elas eram maravilhosas. Talentosas, dedicadas, divertidas. Nossos ensaios eram sempre marcados para antes ou depois das novelas que cada uma gostava. Eram muitas negociações. O que eu não imaginava é que através desta peça eu teria um encontro pessoal com a sabedoria. Justamente a atriz que interpretou o papel da mulher que se encontrava perdida, Judith, se revelou uma pessoa incrível e que, a partir de então, tem me dado lições de vida e sabedoria. Na época ela estava quase com 90 anos. Possuía uma juventude exuberante refletida no olhar cheio de brilho e no sorriso aberto. Uma mulher lúcida, inteligente, espiritualizada. Sempre dizia o que queria, o que achava, de forma direta, mas com bom senso. Dava idéias maravilhosas para o texto e para as cenas. Nosso trabalho acabou ultrapassando as fronteiras de nossa quadra. Após uma apresentação simples, num salão de festas, elas foram convidadas para apresentar na UnB, no Conjunto Nacional e no aniversário do Pontão do Lago Sul, onde Judith foi aplaudida de pé.

Em seguida fizemos uma peça chamada Vitalina quer casar. Quem era Vitalina? Judith, claro. O cenário da peça era um bar de karaokê, onde a filha, a irmã e uma amiga de Vitalina se encontravam, desesperadas porque ela tinha resolvido casar e decidiu que encontraria um noivo naquele bar, naquele dia. Como era um bar de karaokê, elas cantaram e arrasaram. Judith interagia com a platéia procurando seu noivo, o que rendeu muita diversão.

Depois escrevi uma peça para o outro grupo que criei (de teatro infantil) e uni os dois grupos. Era uma versão moderna de Chapeuzinho Vermelho, chamada Chapeuzinho Rebelde e o Lobo Mala. A vovó foi a Judith e ela dançou funk na peça. As crianças ficaram apaixonadas por ela. Impossível não se apaixonar. Além de grande atriz, ela é artista plástica, artesã e fazia dança cigana na época. Antes de completar os noventa anos pediu que eu fizesse pra ela uma festa surpresa. Sempre queria saber como estavam os preparativos de sua festa surpresa. Eu morria de rir. A festa foi feita, não faltou quem quisesse ajudar.

Hoje não sei ao certo a idade dela. Isso não tem importância, ela é atemporal; mas sempre puxa minha orelha: “Bora logo fazer outra peça, menina, antes que a cortina se feche”.

Um dia desses, minha filha, Érica, perguntou a ela qual era o segredo para viver bem. Ela respondeu: “Todos os dias, independente das dívidas, dos problemas e chateações, eu ligo a TV à noite e assisto às minhas novelas. Sei que vou dormir e quando acordar no dia seguinte os problemas estarão me esperando, então, pra que me afobar, me desesperar e, pior, perder um capítulo da novela? No outro dia acordo e vou tentar resolver as coisas; às vezes a solução vem à mente quando estamos relaxados ou dormindo”.

Viver um dia de cada vez, querer sempre aprender coisas novas, não ter medo de desafios, saber que tudo tem seu tempo e deslizar pela vida dançando e fazendo amigos... São coisas que tenho aprendido em meus encontros com a sabedoria. Obrigada Judith, sou sua fã eterna.

Anita Safer

domingo, 23 de junho de 2013

Em busca da fé

Alguém me disse uma vez: "Você é uma pessoa maravilhosa, incrível, adoro você. Pena que você não vai pro céu". Fiquei parada, olhando e pensando... esta pessoa está profetizando ou me amaldiçoando? Eis o que não sei... só sei que entendi que ela disse isso com base nos preceitos religiosos dela; eu não iria pro céu porque não abracei a sua religião. Neste momento eu não gostaria mesmo de ir pro céu e nem pra lugar nenhum fora deste mundo. O desejo que tenho é de ir ficando por aqui o máximo que puder, mesmo com este mundo cheio de dificuldades e desafios.
                                                                                      Foto: Érica
Quando criança, queria ser freira. Vivia na igreja e era absolutamente apaixonada pelas histórias dos santos. Não suportava a Branca de Neve, achava ela uma chata, mas adorava Santa Clara. Depois a vida tomou outro rumo e desisti da ideia. Mas o meu "eu religioso" sempre esteve em busca de algo. Sou como a piada do cachorro que entra na igreja porque a porta está aberta. Vou a qualquer igreja, templo, lugar de oração, enfim, qualquer lugar que me aceite e tenha algo a me dizer, que possa me acrescentar. Vemos tantas notícias tristes sobre pedofilia, enriquecimento ilícito, vaidade e falsos profetas que tentam dominar as pessoas pelo medo, né mesmo? Chego à conclusão de que a salvação, a santidade, não usa, necessariamente, um hábito, um terno ou palavras macias. O filme O Livro de Eli trata deste tema e deixa a mensagem de que a religião pode ser boa ou má, dependendo das mãos de quem a conduz ou, acrescento, dos interesses de quem quer ser conduzido.
E a não religião? E a pessoa que não acredita em um Deus? E os budistas? Com ou sem religião somos indivíduos em busca do sentido da vida e de como podemos nos colocar diante do mundo (o conhecido e o desconhecido). Existe um filósofo suíço, ateu, Alain de Botton, que diz que "o problema do homem sem religião é que ele se esquece do que é realmente importante. Todos nós sabemos, na teoria, o que devemos fazer para sermos bons. Só que, na prática, nos esquecemos". Embora ateu, ele entende que muita gente busca, através da religião, se conectar com a bondade e evoluir.
Vejo que o que me encantou na história de alguns santos - e também de pessoas comuns que mudaram sua vida em busca de um ideal maior - foi o grande amor que aflorou diante da dor e do sofrimento humanos. A maioria delas não desejava fundar uma religião ou ter discípulos, só queria encontrar respostas e fazer o bem.
Por isso acredito que as pessoas, sendo diferentes, têm necessidades e credos diferentes... ou credo nenhum. Mas o que acho que devemos buscar em templos, ou fora deles, é o amor. Um amor que não julgue, que respeite, que acredite e que tenha humildade para saber que somos humanos, imperfeitos e teremos um longo caminho para sermos pessoas melhores do que temos sido até agora.

Anita Safer

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dia dos Namorados... ownnnnn

Arquivo pessoal
Acho tão engraçada a expressão que as pessoas postam nas redes sociais quando olham pra uma imagem bonitinha, normalmente fotos de crianças ou de bichos -"own". Mas hoje, em pleno Dia dos Namorados, dou de cara com a imagem que ilustra este post e na hora eu... Ownnnnnn... que lindinhas, as árvores estão apaixonadas! Sei que há uma razão absolutamente racional pra uma árvore estar escorada na outra, mas, desculpem-me os racionais de plantão, é bom viajar de vez em quando e fazer associações.
Concordo que o Dia dos Namorados - assim como dia das mães, dos pais, da sogra, etc - é uma data altamente comercial e explorada pelos capitalistas selvagens. Não vou entrar neste mérito; isso todos já sabem. Mas, vamos combinar, namoro é uma coisa legal. Tem gente que diz que é melhor estar só porque não tem homem que preste neste mundo (ou mulher que preste). Isso é uma baboseira, pra dizer uma coisa dessas precisa ter conhecido todas as pessoas do planeta. Tem muita gente legal por aí. Estar com alguém não é, e nem deve ser, pré-requisito pra ser feliz. Podemos sim ser felizes sozinhos, estar plenos, fazer o que gostamos, ir onde quisermos, jogar amor pelos quatro cantos, pros amigos, familiares, ficantes, pra natureza, pro trabalho. O amor existe pra ser usado. Porém, ter alguém com que distribuir junto este amor é muito legal. De mãos dadas é mais gostoso sair por aí enfrentando as mazelas da vida e isso não custa nada, o universo comercial não pode cobrar por este maravilhoso presente do dia dos namorados; também não pode cobrar pelos beijos, abraços, afagos, palavras de carinho. Tudo isso é de graça e é o melhor do namoro. Todos os dias são dias pra deitar a cabeça no ombro da pessoa amada (assim como as árvores... ownnnn). E, no caso de estarmos sós, não devemos deixar que a solidão seja uma coisa amarga e nos transforme em alguém incapaz de entender a felicidade a dois das outras pessoas. 

Anita Safer 

domingo, 9 de junho de 2013

Slackline e Educação juntos. Por que não?

Foto cedida por Nema de Sousa
Slackline - Modalidade esportiva que surgiu nos anos oitenta, num momento de descanso de escaladores nos Estados Unidos que, para fazer uma hora antes da escalada, amarraram uma fita, de uma árvore à outra e começaram a se equilibrar sobre ela, como se fosse uma corda bamba. Diferente da corda bamba - onde é utilizada uma corda bem esticada e de menor mobilidade - o slack é  montado com uma fita de nylon elástica, mais flexível. Por esta razão se chama slackline, que significa linha folgada. Existem várias vertentes do esporte, que vão da forma mais simples - 30 cm, aproximadamente, do chão - até as formas mais complexas - feitas de um prédio ao outro ou sobre a água, pelos desportistas radicais. 
Tenho visto muitos jovens praticando o slack pela cidade. Acho muito legal. Além de ser uma atividade física que trabalha diversos músculos do corpo, exige muita concentração e equilíbrio. Ainda tem a vantagem do baixo custo e pode ser praticado ao ar livre. Mas achei surpreendente descobrir que o esporte é oferecido para alunos de uma escola pública em Sobradinho. A professora de arte, Nema de Sousa, apaixonada pelas práticas circenses, vendo jovens praticando o esporte pensou: "Por que não?". Adoro esta pergunta, ela costuma fazer maravilhas em alguns casos. Com este espírito de experimentar e levar novas formas de expressão corporal aos seus alunos, ela arregaçou as mangas. Priorizando a segurança, comprou o equipamento necessário e... mãos à obra! Vislumbrou na atividade uma forma de desenvolver diversas capacidades pessoais e começou um trabalho realmente digno de mérito; em parceria com professores do Ensino Especial de sua escola, iniciou a prática do slackline com as crianças portadoras de necessidades especiais. 
Acho incrível esta proposta. Imagina o quanto pode-se trabalhar com estes jovens durante uma atividade assim. Equilíbrio, concentração, segurança, sentimento de liberdade e coragem. Sem falar na parte física. Eu e Nema já trabalhamos juntas com teatro. Admiro sua determinação e sua linha de trabalho sempre voltada para a inclusão social. Esta não é uma ação que ela iniciou agora, já foi muito atuante na questão dos menores de rua. Acredito que seja um desejo nato de proporcionar mais àqueles que necessitam de maior superação. 
Só posso desejar muito sucesso à Nema em seu trabalho. Que ela sirva de inspiração para muita gente e que suas crianças sejam craques em superar suas limitações no esporte e na vida.

Anita Safer

sábado, 1 de junho de 2013

Meditação - A viagem no silêncio

Foto: Érica


Às vezes, tudo o que precisamos é de um momento de silêncio. Um tempo para aliviar a cabeça de milhares de pensamentos, o coração de um punhado de sentimentos e o corpo do constante movimento. Parar. Parece fácil, mas não é, exige paciência, concentração e prática. Atributos de luxo nos dias de hoje.

A meditação entrou em minha vida no Parque Olhos d’Água. Estava caminhando quando vi um grupo de pessoas reunidas. Como sempre achava uma maneira de boicotar minha caminhada, resolvi ver o que estava acontecendo. Descobri que era um pessoal que se reunia uma vez por semana para praticar a meditação. Gostei da fala macia e dos gestos leves da pessoa que conduzia o grupo. Achei que aquela atmosfera de paz, de olhares doces, naquele lugar cheio de vida, de plantas, de busca pela saúde, só poderia me fazer bem. Lá aprendi algumas maneiras de meditar, mas preferi a mais simples. Apenas ficar em silêncio, prestando atenção na própria respiração. Sem música, sem mantra, apenas uns minutos de silêncio. Descobri que quando medito com freqüência, minha concentração melhora, minha disposição aumenta, durmo melhor e fico menos ansiosa.

São quinze minutos do meu dia em que me sinto inteira, centrada. Embora pareça fácil, não é. Uma vez minha irmã, Clélia, foi comigo num desses encontros. Quase morri de rir quando olhei pra ela e ela estava lá, sentada, parada, toda molhada de suor, parecendo uma cuscuzeira.Fiquei pensando “como uma pessoa pode transpirar tanto fazendo meditação?”. No final, muito irritada, ela me disse: “Por que não me disse que era meditação de alto impacto?”. Ri demais da conta, mas entendi o que ela quis dizer; ficar parada, sem pensar em nada, por um minuto sequer, neste mundo que está sempre em movimento, requer um esforço sobrenatural. Ela é super ativa, está sempre produzindo muito - uma característica muito linda e muito dela.

Somos todos diferentes e temos necessidades diferentes. Eu sinto necessidade de dar esta pausa no meu dia. Não é um ato esotérico ou religioso. É uma necessidade pessoal. Quando medito me sinto viva. Volto da meditação e vejo as cores mais vivas. Sinto o movimento em volta de uma forma diferente, nova. É como se fizesse uma breve viagem e voltasse cheia de saudade da parte de mim que quer aproveitar o que a vida tem pra oferecer.

Perdi o contato com este grupo do parque, nunca mais os vi. Já meditei também no Templo Budista, mas não me dou bem com cheiro de incenso, me dá dor de cabeça. Atualmente medito em casa ou em outro lugar tranqüilo. Se você nunca tentou, tente um dia, você pode se surpreender.


Anita Safer