quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O mosaico de cada um

Foto: Érica

Quando ganhei uma mandala da minha amiga Márcia Alves fiquei  numa felicidade louca. Já estava procurando uma pra comprar há um certo tempo, mas nunca encontrava uma do jeitinho que queria. A Márcia é uma mulher de inúmeros talentos, um deles é o de fazer lindas mandalas. Que sorte a minha. Acho que não acharia outra tão perfeita quanto esta. Junto com a mandala recebi alguns ensinamentos que nunca esquecerei. Ela me explicou que procurou escolher bem as cores, de forma que o conjunto ficasse harmônico e transmitisse esta harmonia. O espelho, ao centro, servia para que eu nunca esquecesse de olhar pra mim.
As palavras que saem da boca da Márcia tem um peso especial, porque ela é um grande exemplo de alguém que se supera, que se reconstrói sempre que necessário, ressurgindo cada vez mais completa e harmônica, como suas lindas mandalas.
Mandala é uma palavra em sânscrito. Significa círculo, o que circunda o centro, ou algo assim. Exatamente o que somos. Somos o nosso centro e nos circundam pedaços de nós que foram quebrados, marcas de pessoas que passaram pela nossa vida, nossas escolhas, talentos, atividades, crenças.
Cabe a nós escolher os pedaços mais bonitos, ou importantes, na construção de nossas vidas; que a todo momento em que nos sentirmos perdidos, no meio de tanta informação e de tantos pedaços - nem sempre nossos - possamos olhar no centro de tudo e nos encontrar.
Valeu Marcinha, por ser um pedaço tão lindo da mandala da minha vida.

Anita Safer

Um dia pra chamar de meu

Sei que todos os dias de nossas vidas são nossos. Afinal, em nossa história, somos os protagonistas. As pessoas chegam, partem, algumas permanecem por um longo tempo; mas ficar com a gente, pra valer, só nós mesmos. Que bom. Que sejamos, então, uma ótima companhia.
O tempo todo precisamos estar nos dedicando a alguma coisa ou a alguém. Trabalho, estudo, família, relações sociais e outras demandas. Ufa! Tem dias que a gente quer parar um pouco. Eu AMO cinema, desde sempre. Quando tinha 14 anos (dia desses...rs) resolvi que em todos os meus aniversários iria ao cinema à tarde. A parte da tarde, confesso, era uma desculpa pra matar aula. Foi o início de um ritual que mantenho até hoje. Meu aniversário é o meu feriado pessoal. Neste dia eu não trabalho. Sempre deixo um dia de crédito na escola, seja um dia de férias, um abono ou até trabalho horas a mais pra compensar, mas não contem comigo.
Neste dia acordo com um café da manhã na cama. Uma tradição em casa. Neste café da manhã tem as coisas preferidas da pessoa. Eu amo pinha, mas nem sempre é fácil encontrar na época. Acordar com as pessoas que amo amontoadas em cima da cama (incluindo a Jackeline, minha gatinha) é a coisa melhor do mundo. A partir daí quero o dia pra mim, eu quero dar as cartas. Quero fazer um "mondicoisa", ou não fazer nada, só dormir. Neste dia não gosto de festinha programada. Tenho um mês todinho pra comemorar com a família, amigos, pessoal do trabalho, galera do forró, gente do coral e, creiam, comemoro mil vezes, sem nenhuma dificuldade. Acho que completar mais um ano de vida é uma dádiva, um verdadeiro presente. Tem pessoas que se sentem depressivas neste dia. Posso entender isso. É um dia em que a gente fecha pra balanço e a balança da vida nem sempre pende pro lado da felicidade. O tempo, inflexível, não para de correr e o final da nossa história já foi escrito, a gente sabe pra onde o tempo está nos levando. Eu, pessoalmente, quase sempre estou bem nesta época e adoro comemorar do meu jeito. Vou ao meu cineminha à tarde, só ou acompanhada, não tenho problemas em relação a isso. Neste dia procuro me conectar comigo mesma, me tratar com o carinho e atenção que sei que mereço. Procuro ficar em silêncio para ouvir meu coração e entender o que me fez feliz ou infeliz naquele ano de vida. Assim posso refazer meu plano de vôo, atualizar minha rota pra que minha viagem seja mais agradável.
Claro que nem sempre dá pra esperar o ano inteiro pra dar essa parada. Tem aqueles dias em que você diz: "Pára o mundo que eu quero descer" e nesse dia a gente precisa parar tudo; pra que se sufocar?
Mas o dia do meu aniversário, este sim, foi o dia que escolhi com muito carinho pra chamar de meu. 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Cada doido com sua mania

Um dia conversava com um amigo querido, o Reinaldo, e dizia pra ele que a cada dia que passava eu estava mais cheia de manias. Ele, como pessoa interessante e mística que é, me disse que mania era uma palavra muito forte e doentia e que não combinava comigo. Disse que eu deveria trocar a palavra mania pela palavra ritual. Que assim seja.
Pois bem, sou uma pessoa altamente ritualista. Vou abrir meu coração, correndo o risco de ser abordada por um grupo de pessoas vestidas de branco que podem me colocar numa camisa de força.
Primeiro, sou viciada em sorteios. Quero fazer uma nova atividade no ano que vem? Sorteio. Quero viajar... obaaaaa... Pra onde vou mesmo? Sorteio. Mas acho que a psicanálise pode explicar esta minha fixação. Quando nasci - última de uma família de oito filhos - meus pais não conseguiam mais pensar em nomes com a letra C (alguns pais tem este hábito de colocar os nomes dos filhos com a mesma letra no início ou o mesmo som no final, tipo, Lucimar, Rosimar, Miramar, etc e "tar"). Tiveram a ideia de fazer um sorteio. Minha irmã Cleonice resolveu participar. Ela e sua amiga Ana resolveram juntar os nomes das duas e de Cleo e Ana surgiu Cleana, o que não agradou muito, então deram uma mexidinha e ficou Cleane. Serei eternamente grata às duas, porque sabe Deus o nome que poderia ter saído daquele sorteio. Isso pode explicar porque sou assim.
Outro "ritual" que cultivo é o de pintar as unhas seguindo a ordem alfabética dos nomes dos esmaltes. Exemplo: nesta semana usei um esmalte Café, semana que vem uso Chiara, e assim por diante.
Pelo menos descobri que não tenho TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Se eu não sigo o ritual eu não surto, não acho que vou morrer, não penso em matar, nada disso. É só algo que me diverte.
Quando alugo filmes pra assistir em casa também gosto de assisti-los por ordem alfabética. É melhor do que ficar pensando, vejo esse primeiro? Ou esse? Ou esse?
No fundo pode ser mesmo uma baita preguiça de ficar escolhendo coisas que não são fazem tanta diferença pra mim. Em decisões importantes prefiro fazer minhas escolhas. Contar com a sorte em algumas situações nem sempre é uma boa ideia.
Pronto, falei. Agora, que já escancarei minhas manias, digo, meus rituais bizarros, que tal você compartilhar comigo aqui no blog suas manias malucas?  

Anita Safer 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Dica de Forró

                                                                                      Foto: Érica
Sempre me perguntam porque gosto tanto de ir ao Forró ao Ispilicute. Eis a resposta:
Dançar no Forró Ispilicute é cultivar uma mania do bem.
No início da noite tem uma aulinha de forró, onde você pode aprender alguns passos. Se a pessoa não for acompanhada pode arrumar um par na hora pra fazer a aula. Antigamente era a professora Paulinha quem dava esta aula. Imagine uma pessoa querida! Além dos passos ela falava sobre regras básicas de  boa convivência no salão. Estimulava atitudes de respeito e cavalheirismo, tudo com muito charme e humor. Deixou saudades...
Hoje as aulas são dadas pelo professor Charllys Reis. Ele é super querido por todos. Além de dançar muito é uma pessoa especial, daquelas que sabe que não veio ao mundo a passeio e procura fazer daqui um lugar melhor. Ele tem um projeto de dança para deficientes visuais chamado "Fazer o bem sem olhar a quem". Uma iniciativa digna de mérito.Este projeto não acontece lá no forró, mas os interessados podem buscar mais informações com o professor.
Bem, depois da aula começa o "réla-bucho". O som é a praia do DJ Lêu - "O DJ que agita a galera do forró pé-de-serra"; na minha modesta opinião, o melhor da cidade. Além de manter um repertório de primeira está sempre trazendo novidades - principalmente de Itaúnas, onde bandas de todo o Brasil se encontram e novos talentos estão sempre aparecendo.
Em seguida começa a música ao vivo. São bandas da cidade e de outras partes do Brasil. Confesso que tenho um carinho especial pelas de Brasília: Thiago Lunar, Banda Balalaica, entre outras. Meu chamego maior é pela Banda Cara Nova. Era a banda que tocava a primeira vez que fui ao Forró Ispilicute e me apaixonei. Eles não tem apresentado por lá ultimamente, mas fica aqui o registro de que sou fã de carteirinha.
O ambiente é aberto, amplo, tem serviço de chapelaria, opções de comida, serviço de brigada. Tudo muito legal.
Algo que me encanta é o pessoal que frequenta; tem gente jovem, gente não tão jovem, mas a energia que rola é de amizade e respeito. Reflexo dos cuidados de Cristiane Dias, que cuida de todos os detalhes com muito carinho.
Quem quiser também pode contratar os serviços de um personal dancer pra aprender um pouco mais. E eles são todos ótimos: Marcão, Hélio, Felipe, Vivi e todos os outros.
Se você curte forró, ou se quer sair pra um lugar bacana onde possa se divertir com segurança, vale a pena conferir. O Forró Ispilicute funciona às sextas-feiras no Cota Mil (Setor de Clubes Sul). Fica a dica.

Anita Safer

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Feminino/Materno

Foto de Arthur Sousa Parreira
Hoje é o dia três de fevereiro. Dia do Encontro da Mulherada. Pelo menos para mim e para minhas irmãs. Instituímos este dia para estarmos juntas e reforçarmos o que há de feminino e materno em nós. É como se fosse um ritual. O dia de hoje é o dia do aniversário de nossa mãe, que faleceu há uns anos atrás... Faleceu, mas não morreu. Não morreu porque dona Ala nunca teve cheiro de morte, ela cheirava a rapé.
Neste encontro da mulherada vamos ao cinema, ou a um café, ou ao boliche, ao parque, qualquer lugar. O importante é que estamos juntas, as irmãs, nossas filhas, às vezes algumas sobrinhas e cunhadas. Muitos desses encontros nosso sobrinho Apoena também foi, infringindo a regra do “clube da Luluzinha” – quem é mais velho vai lembrar o que isso significa – e era uma presença muito festejada, não só por ser querido demais pra nós, mas por representar nossa mana Cleo, que também faleceu.
Minha mãe tinha um lindo nome: Alice. Ela não vivia no País das Maravilhas e sua vida não era um conto de fadas. Ainda bem, porque ela não tinha nenhuma paciência para o excesso de fantasias. Sem apego ao passado ela tinha os pés fincados no chão e um sonho atrás do outro pra realizar. E cada vitória era comemorada com uma cheirada de rapé. Um filho casava... rapé. Alguém passava no vestibular... rapé. Um neto nascia... Mais cafungada no rapé. Nos momentos tensos o rapé também tinha sua função. E todos os filhos e netos achavam aquilo incrível e acreditavam – coitados - que podiam cheirar escondidos pra ver como era. A espirradeira denunciava o ilícito e todos viam que aquilo só tinha graça mesmo pra ela.   
Era linda a maneira como ela tratava toda e qualquer pessoa como um velho amigo. Todos os nossos amigos a amavam. Acho até que não saiam de nossa casa só pra ficar perto dela. Foram muitas as pessoas que ela acolheu e se amontoavam com os oito filhos num apartamento de dois quartos. Ela reinava absoluta, ao som dos violões dos meus irmãos, que compunham uma música atrás da outra PARA NOSSA ALEGRIAAAA...
Uma vez ela hospedou em nossa casa uma pessoa que havia feito uma cirurgia de mudança de sexo. Isso foi nos anos setenta, era uma coisa totalmente desconhecida na época e a única dúvida que ela tinha era se colocava a pessoa para dormir no quarto dos homens ou das mulheres. Para ela não havia preconceito. Para que julgar se você podia apenas amar? E ela cuidava de todos com a combinação perfeita de amor, comida e Vicky (que para ela curava até câncer).
Por isso é importante esse contato constante com o feminino/materno que há em mim. Tenho muito orgulho e carinho por todas as mulheres da minha família. Também admiro muito o lado feminino que habita cada homem com quem convivo. E, se sou assim, a culpa realmente é da mãe.
Obs: Este ano, excepcionalmente, teremos que adiar o encontro, que acontecerá em breve.

Anita Safer

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Eis que vem não sei como... 1

Armadilha

Seu olhar angelical
caiu em mim como um segredo
a me dizer palavras,
tão caladas.

Sua mão angelical
me acalentou o medo,
despertando um desejo
secreto
de amor.

E eu fiquei a te olhar,
perdidamente
a te olhar,
calculando as armadilhas
do seu corpo
sensual.

Anita Safer

Olhar de Adeus

Esta é a letra de um sambinha que compus com Nívea Mascarenhas. Nívea é minha amiga, parceira de toda uma vida. Num momento de absoluta bobeira inventamos de compor uma música. A música ficou tão boa que achamos que devia ser plágio...rs. Pra não pagar este mico posto aqui apenas a letra.



Olhar de Adeus

Encontrei a alegria num olhar de adeus.
Oh, Deus!
A Alegria estava ali.
A alegria deste olhar que me deixou
era a promessa de novo amor.

Na dor a alegria pode estar,
como na mesa de um bar
ou no desabrochar da flor

Senti
a liberdade nesses olhos teus
Agradeço pelo seu olhar de adeus.



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A sutil violência da sedução


Um diz desses vi esta expressão – A sutil violência da sedução – no I Ching – O livro das mutações. O I Ching é um oráculo chinês de mais de 3000 anos de existência. É, basicamente, filosofia oriental. Os textos falam da dualidade da vida, do escuro-claro, feminino-masculino, forte-fraco. Tudo o que existe em nós e em todas as coisas está sempre em movimento, seguindo em mudança permanente. A cada fim surge um novo início. Na natureza as estações estão sempre mudando, à primavera segue o verão e assim a vida segue. Na linha desta filosofia, o ideal é compreender esta mutação como algo natural e buscar o equilíbrio.
O fato é que achei incrível esta frase, ainda mais que ela se aplicava perfeitamente a uma situação que se apresentava naquele momento.
A palavra sedução, em si, já é uma palavra tinhosa. É uma delícia, mas é tinhosa. Todos nós somos sedutores e passíveis de sedução, em maior ou menor grau. Isto se aplica a todas as esferas de nossa vida.
Algumas vezes, entretanto, a sedução deixa de ser um jogo gostoso. Sabe aquele vendedor de loja inábil, que quer te forçar a comprar um produto que não te interessa? Ele é insistente, não te deixa andar... Você só quer sair correndo daquela loja e nunca mais passar perto da vitrine, quiçá, daquele shopping. Algumas pessoas são assim nas relações afetivas. Elas querem possuir as outras pessoas, em todos os sentidos, a qualquer custo. Neste caso o que prevalece é o desejo dela, não importa se ela, enquanto “produto” a ser vendido (que horrível esta analogia...rs), seja  o que o outro necessita, aprecia ou deseja naquele momento.
É claro que podemos e devemos tentar conquistar alguém que nos interessa. Tudo bem que, em alguns casos, água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Mas a sutil violência da sedução mostra aquela violência velada. É o lobo em pele de cordeiro. É aquela pessoa que vem de forma sutil e inocente, mas não te dá espaço pra respirar. Ela quer, pra ontem, um posicionamento, independente do seu querer. Mas não serve o seu posicionamento, tem que ser o posicionamento que vá agradá-la. Nem que para isso ela vá lotar sua caixa de mensagens e seus ouvidos.  Quais as armas que você pode usar para se defender de uma pessoa que quer ser boa pra você? Acho que a única arma que existe é a sinceridade, é deixar claro sua posição, em respeito ao sentimento da pessoa e para proteger o seu espaço vital.
Isso mais parece um texto de autoajuda... Mas, não pode ser, estou longe de saber as respostas, apenas passeio pelos caminhos das indagações.

Anita Safer