terça-feira, 19 de março de 2013

A medicina aos pedaços

                                                              Foto: Érica


Um dia desses precisei marcar uma consulta com um ortopedista. Liguei para um consultório e a atendente perguntou qual era o problema. Expliquei que era um problema na mão. Ela disse:
- Mas o doutor Fulano não trata de mão, a senhora tem que procurar um especialista em mão.
Como assim? Não é tudo osso? Agora, além das especialidades temos diversas especialidades dentro da especialidade? Por fim achei o tal do especialista e já estou tratando da mão. Rezando para que não tenha problema no pé e nas costelas, senão minha agenda vai lotar de ortopedistas.
Não estou aqui criticando a medicina nem as especializações. Se há pessoas que admiro demais são os médicos. É porque me senti meio vítima do Jack, o Estripador. É estranho me lembrar que também sou feita de partes, como um quebra-cabeça humano. Talvez pela minha idade, que já começa a dar profundos sinais de saudosismo, gosto demais dos médicos que me fazem sentir como uma pessoa e não como um dedão do pé.
Exemplos de médicos que admiro por esta visão global do paciente não me faltam. O pediatra que cuidou dos meus filhos quando pequenos, doutor Adanir Martins Mesquita, por exemplo, será canonizado se depender das minhas orações. O carinho real com que ele atende às crianças e seus pais aflitos, aliado à sua competência e comprometimento fazem dele um profissional ímpar.
Outra médica que anda na contramão desta tendência de ver as pessoas de forma compartimentada é a doutora Isabel Romeu. Atendendo como Clínica Médica e Homeopata, ela não vê seus pacientes como um saco de sintomas; vê um ser humano que está sofrendo naquele momento por não estar totalmente em equilíbrio. Para ela, algo está em desarmonia, por isso o corpo reclama. Encontrar a origem da manifestação da doença e tão importante quanto o uso da medicação para promover a cura.
Sei que a medicina também está doente, os médicos são absurdamente mal remunerados e sobrecarregados com escalas, muitas vezes, desumanas. Sem falar na falta de condições de trabalho, que dispensa comentários. Ainda levam a fama por uma minoria de maus profissionais que desfilam nos noticiários diariamente.
Claro que quanto mais especializado o médico, mais poderá entender do problema. Afinal, a medicina está cada vez mais avançada, graças a Deus. Se estiver alinhada ao sentimento de humanidade, melhor ainda.
Só desejo que este excesso de especialização não vire moda e parta para outros setores como relacionamentos amorosos, por exemplo. Senão chegará o dia em que você falará pro seu(ua) parceiro(a) que gostaria de mais atenção às preliminares e escutará a seguinte resposta:
- Puxa, amor, preliminar não é minha especialidade, mas conheço uma pessoa ótima pra te indicar.
Ai ai... Haja saúde!

Anita Safer

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