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Foto: Clélia Ferreira Parreira |
Todo mundo sabe o que é bom e o que é nocivo em termos de alimentação, mas na hora das escolhas nem todos são capazes de utilizar a sabedoria. Minha irmã Cristina é um exemplo de correção alimentar. Come de tudo um pouco, com muita disciplina. Isso a torna uma agradável exceção em nossa família formada por irmãos fofinhos. Faz cair por terra minha desculpa preferida para o sobrepeso: a genética.
Li uma vez, em algum lugar, que para se alimentar de forma correta deve-se comer apenas o que constar nos livros de biologia. Isso não funciona pra mim, pois o livro de biologia que utilizava no Ensino Médio tinha uma imagem de uma lagartixa comendo uma barata. E garanto, não pareciam apetitosas. Nem uma, nem outra.
Talvez o que nos engorde seja a ausência do afeto na preparação dos alimentos que consumimos. Antigamente, antes da era fast food, predominava a comida caseira. Lidávamos com mais sabedoria em relação ao dinheiro, logo não enchíamos os armários e a geladeira com biscoitos recheados, sorvetes, lasanhas congeladas. O que enchia nossos olhos eram aquelas comidas cheias de afeto. Aposto que cada um de nós é capaz de lembrar algo gostoso e especial feito por nossa mãe, tia, avó. Não me lembro do sanduíche da lanchonete "tal" com carinho, lembro com gula, mas com carinho, jamais. Mas quando me deparo com a rosca de polvilho
feita pela minha tia Ociene (foto) meus sentidos ficam todos apurados. O cheiro me traz lembranças da casa da minha mãe; meus olhos me remetem ao meu estado de origem: Piauí; com meus ouvidos escuto as conversas gostosas em torno da mesa e ao sentir o sabor daquilo que me é tão familiar só me resta abraçar minha tia sentindo, de coração, toda a importância daquele afeto sem fim que todos nós sentimos por ela, e por todas aquelas que vieram com ou antes dela. É uma herança gastronômica que precisa ser preservada. Introjetar este sentido da alimentação pode nos fazer voltar ao que deve ser natural pra nós - o velho arroz com feijão, as frutas, os pães mais caseiros. Tentando evitar aquilo que nos afasta de nosso equilíbrio, como excesso de sal, de açúcar.