quinta-feira, 28 de março de 2013

Os sabores do afeto

                                                                                    Foto: Clélia Ferreira Parreira
Hoje em dia fala-se muito a respeito da alimentação. Assunto importante, uma vez que cresce o número de obesos no planeta. Eu mesma engrosso o caldo, pois estou muito acima do peso. Aí começa aquela neurose desenfreada sobre os alimentos. Isso pode... isso não pode. Hoje algo é indicado, amanhã é condenado. E a gente fica naquele efeito sanfona, num verdadeiro forrobodó de engorda e emagrece.
Todo mundo sabe o que é bom e o que é nocivo em termos de alimentação, mas na hora das escolhas nem todos são capazes de utilizar a sabedoria. Minha irmã Cristina é um exemplo de correção alimentar. Come de tudo um pouco, com muita disciplina. Isso a torna uma agradável exceção em nossa família formada por irmãos fofinhos. Faz cair por terra minha desculpa preferida para o sobrepeso: a genética.
Li uma vez, em algum lugar, que para se alimentar de forma correta deve-se comer apenas o que constar nos livros de biologia. Isso não funciona pra mim, pois o livro de biologia que utilizava no Ensino Médio tinha uma imagem de uma lagartixa comendo uma barata. E garanto, não pareciam apetitosas. Nem uma, nem outra.
Talvez o que nos engorde seja a ausência do afeto na preparação dos alimentos que consumimos. Antigamente, antes da era fast food, predominava a comida caseira. Lidávamos com mais sabedoria em relação ao dinheiro, logo não enchíamos os armários e a geladeira com biscoitos recheados, sorvetes, lasanhas congeladas. O que enchia nossos olhos eram aquelas comidas cheias de afeto. Aposto que cada um de nós é capaz de lembrar algo gostoso e especial feito por nossa mãe, tia, avó. Não me lembro do sanduíche da lanchonete "tal" com carinho, lembro com gula, mas com carinho, jamais. Mas quando me deparo com a rosca de polvilho
feita pela minha tia Ociene (foto) meus sentidos ficam todos apurados. O cheiro me traz lembranças da casa da minha mãe; meus olhos me remetem ao meu estado de origem: Piauí; com meus ouvidos escuto as conversas gostosas em torno da mesa e ao sentir o sabor daquilo que me é tão familiar só me resta abraçar minha tia sentindo, de coração, toda a importância daquele afeto sem fim que todos nós sentimos por ela, e por todas aquelas que vieram com ou antes dela. É uma herança gastronômica que precisa ser preservada. Introjetar este sentido da alimentação pode nos fazer voltar ao que deve ser natural pra nós - o velho arroz com feijão, as frutas, os pães mais caseiros. Tentando evitar aquilo que nos afasta de nosso equilíbrio, como excesso de sal, de açúcar. 
Que prevaleça o afeto, este nunca se excede e é o melhor tempero, sempre.

Rodopios




Apresentação de forró


Houve um tempo na minha vida em que os hormônios estavam me enlouquecendo. Sentia que precisava fazer alguma coisa pra distrair a mente. Foi quando vi um anúncio de dança de salão no jornal.Oba! Isso parece legal, pensei. O primeiro dia de aula foi aquela dificuldade. Sentia inveja das árvores que balançavam suas copas do lado de fora da sala. Como elas conseguiam aquilo? Eu mal conseguia os dois passinhos pra lá e os dois passinhos pra cá. Mas a paixão pela dança nasceu naquele dia, de maneira instantânea, definitiva e avassaladora.
Os dias foram passando, meus hormônios foram se reorganizando e eu percebi que havia descoberto uma espécie de tesouro. Fiz aulas de dança em vários lugares, mas, sem desmerecê-los, em nenhum senti a magia das aulas do Paulo Pivetta. Sabe aqueles ambientes de filmes de dança de salão? Pois é, só faltava o Richard Gere.
Lá conheci pessoas incríveis, encantadoras, que nunca imaginei conhecer. Desta convivência nasceram laços de amizade saudáveis e verdadeiros que permanecem até hoje.
Para aquelas pessoas que acreditam que nunca serão capazes de aprender a dançar este é o local ideal pra começar. Na Dança de Salão Paulo Pivetta (Escola Parque 303/304 Norte) serão muito bem recebidos pelo Paulinho e pela Cintia e aprenderão um pouco de tudo: forró, samba de gafieira, bolero, soltinho, salsa, tango, etc. Depois disso é só sair por aí, entre passos e rodopios por esse mundão de meu Deus.

Anita Safer

terça-feira, 19 de março de 2013

A medicina aos pedaços

                                                              Foto: Érica


Um dia desses precisei marcar uma consulta com um ortopedista. Liguei para um consultório e a atendente perguntou qual era o problema. Expliquei que era um problema na mão. Ela disse:
- Mas o doutor Fulano não trata de mão, a senhora tem que procurar um especialista em mão.
Como assim? Não é tudo osso? Agora, além das especialidades temos diversas especialidades dentro da especialidade? Por fim achei o tal do especialista e já estou tratando da mão. Rezando para que não tenha problema no pé e nas costelas, senão minha agenda vai lotar de ortopedistas.
Não estou aqui criticando a medicina nem as especializações. Se há pessoas que admiro demais são os médicos. É porque me senti meio vítima do Jack, o Estripador. É estranho me lembrar que também sou feita de partes, como um quebra-cabeça humano. Talvez pela minha idade, que já começa a dar profundos sinais de saudosismo, gosto demais dos médicos que me fazem sentir como uma pessoa e não como um dedão do pé.
Exemplos de médicos que admiro por esta visão global do paciente não me faltam. O pediatra que cuidou dos meus filhos quando pequenos, doutor Adanir Martins Mesquita, por exemplo, será canonizado se depender das minhas orações. O carinho real com que ele atende às crianças e seus pais aflitos, aliado à sua competência e comprometimento fazem dele um profissional ímpar.
Outra médica que anda na contramão desta tendência de ver as pessoas de forma compartimentada é a doutora Isabel Romeu. Atendendo como Clínica Médica e Homeopata, ela não vê seus pacientes como um saco de sintomas; vê um ser humano que está sofrendo naquele momento por não estar totalmente em equilíbrio. Para ela, algo está em desarmonia, por isso o corpo reclama. Encontrar a origem da manifestação da doença e tão importante quanto o uso da medicação para promover a cura.
Sei que a medicina também está doente, os médicos são absurdamente mal remunerados e sobrecarregados com escalas, muitas vezes, desumanas. Sem falar na falta de condições de trabalho, que dispensa comentários. Ainda levam a fama por uma minoria de maus profissionais que desfilam nos noticiários diariamente.
Claro que quanto mais especializado o médico, mais poderá entender do problema. Afinal, a medicina está cada vez mais avançada, graças a Deus. Se estiver alinhada ao sentimento de humanidade, melhor ainda.
Só desejo que este excesso de especialização não vire moda e parta para outros setores como relacionamentos amorosos, por exemplo. Senão chegará o dia em que você falará pro seu(ua) parceiro(a) que gostaria de mais atenção às preliminares e escutará a seguinte resposta:
- Puxa, amor, preliminar não é minha especialidade, mas conheço uma pessoa ótima pra te indicar.
Ai ai... Haja saúde!

Anita Safer

terça-feira, 5 de março de 2013

Por uma vida melódica

Foto: Érica

“Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste, sou poeta” – diz o belíssimo poema de Cecília Meireles. Eu, por minha vez, também não sou alegre nem sou triste, mas não sou poeta. Quem dera fosse. Mas canto. Cantar é como levitar ao som de acordes e melodias. Uma espécie de transe, como se a gente sintonizasse numa frequência vibratória do bem.
O HUB (Hospital Universitário de Brasília) está fazendo um trabalho diferenciado no tratamento de pacientes vítimas do Alzheimer. Sabendo dos benefícios da música no processo terapêutico foi criado um coral. Embora não seja comprovada cientificamente a eficácia do canto no tratamento da doença, os parentes relatam melhoras no estado de humor dos pacientes.  Sem contar que a música ajuda na preservação da memória para quem não apresenta a doença ou está ainda no início.
Em Brasília não faltam opções de corais. São corais religiosos, ligados a empresas ou órgãos públicos, corais da terceira idade, alguns mais profissionais, outros mais simples. Eu comecei cantando no coral da Comunhão Espírita, fui para o coral Unicanto e hoje estou no coral do Cenart. O coral Unicanto é maravilhoso. O regente, Wellington Fagundes, é professor da Escola de Música de Brasília. A paixão e conhecimento profundos que ele tem pela música envolvem o grupo e o resultado é um espetáculo. O ensaio deles acontece às segundas-feiras, 19h25 na FEDF (408 Sul). Infelizmente tive que sair em função de dificuldade de horário e necessidades pessoais que exigiram minha atenção na época.
Hoje canto no coral do CENART. É um coral bebê ainda. São poucos - porém comprometidos - componentes que fazem um trabalho de harmonização de ambiente para que os artistas plásticos e escultores do Centro trabalhem em suas obras. Quem está à frente do coral é o Paulo Rogério. Ele se desdobra entre a regência e o canto (canta no naipe dos baixos). Tudo por amor à obra. Nossos ensaios são aos sábados, às 14 horas, no CENART (Centro de Arte Francisco Antônio Lisboa), na 505 Sul, entrada pela W2.
Então vamos cantar... E cantar... E cantar. Pode ser num coral, no palco ou embaixo do chuveiro.
Com trilha sonora nossa vida fica ainda mais interessante.

Anita Safer