Estelionato é uma palavra oriunda do termo em latim stellionatu, que significa uma prática criminosa. Desde que o mundo é mundo, os sujeitos dados a essa prática existem. Com o passar do tempo eles vão se aprimorando em seus métodos e hoje estão tecnológicos. Invadem seus celulares, roubam suas senhas. Alguns estão lá, presos nas cadeias do país, mas mesmo assim tocam o terror. Simulam falsos sequestros, deixando as pessoas apavoradas. Há um tempo atrás era comum o golpe do bilhete premiado. Outros vendem casas na praia, ou carros inexistentes. E, para cada golpista, há algum desavisado, que cai em sua lábia ou clica em um link falso. A tentação é grande quando oferecem algum prêmio fácil, grande e miraculoso, que pode te tirar da pindaíba. "Pindaíba", agora entreguei que sou das antigas... hahaha. Esse termo é de 1800 e qualquer coisa e eu continuo usando, só pra passar vergonha. Mas nem todo mundo é descuidado e cai nas manhas desses bons de lábia ou hackers do mal. Dona Maria é uma senhora esperta. Ela nunca estudou e não sabe escrever ou ler. Nenhum A. Nada. Mas o que lhe falta em estudo, sobra em sabedoria. Ela, beirando os 80, na época, ouviu palminhas na porta de sua casa. Morando sozinha, ela foi até lá ver quem era. O rapaz, todo bem vestido, muito simpático, iniciou o diálogo:- Dona Maria de tal e tal? - perguntou falando seu nome completo. Ela fez que sim com a cabeça.
Ele então continuou - Sou servidor do INSS e vim aqui para realizar sua prova de vida, para que a senhora não precise se locomover até a agência. Para isso só preciso que a senhora me mostre o seu CPF.
- Peraí que vou buscar o meu CPF, moço - ela disse. E voltou com uma vassoura na mão e deu umas vassouradas no rapaz pra ele deixar de achar que ela era besta.
- Sou analfabeta mas não sou burra. Acha que não assisto jornal e que sei que não posso passar meu CPF pra qualquer um? - ela me disse, contando o acontecido.
Depois de reportar o fato à sua filha, foram até o prédio do INSS. Tinham que denunciar a prática criminosa e realizar a tal prova de vida. Quiseram logo falar com o gerente, ou o chefe, ou sabe-se lá quem era o superior da sessão. Ele as atendeu com toda a educação. Mas, o mais curioso de tudo, era que o rapaz denunciado trabalhava mesmo no INSS. Tinha sugerido essa missão para facilitar a vida dos idosos. Uma sugestão nobre e, agora via, extremamente perigosa. O gerente expôs a situação para toda a sua equipe e elogiou a atitude de Dona Maria, que provava para todos que estava muito viva mesmo. E a ideia do nobre rapaz foi descartada, não passou no teste de Dona Maria. Outro exemplo de sabedoria e, pasmem, bom humor, aconteceu um dia desses.
Minha irmã contou, aconteceu com ela. Sei que um golpe desses não é assunto para rir - muitas pessoas são prejudicadas por esse mesmo golpe - mas, este, em especial, teve um desfecho curioso. É o mais comum golpe da atualidade. Eles ligam dizendo que são do seu banco e que alguém fez uma compra indevida em seu nome. O valor é alto, dizem, então precisam recolher seu cartão, para emitir um novo. E, "para sua comodidade", enviarão um funcionário em sua residência para pegar o cartão. Vocês devem conhecer bastante essa prática, é noticiada sempre na TV. Naqueles dias, tinham ligado algumas vezes para minha irmã. Ela até que estava quase acreditando na história, porque é muito convincente mesmo. Até porque eles pedem pra você ligar no número que está em seu cartão bancário, para confirmar que é mesmo do banco. Você liga e cai sabe onde? No contato dos golpistas. Eles conseguem fazer isso, é inacreditável! Por esta razão, quando isto acontece, os delegados dizem que você deve ligar de outro aparelho para o banco, porque eles conseguem puxar a ligação do seu aparelho, de onde falavam com você. Prosseguindo... Minha irmã recebeu outra ligação. Ela já tinha entendido a jogada, estava entediada com a pandemia e resolveu dar trela para a bandida, só pra ter alguém com quem trocar umas ideias. Segue o diálogo:
A golpista: Senhora fulana de tal? Aqui é do seu banco e observamos uma movimentação suspeita em sua conta. - Começou a relatar a moça, com voz de moça bancária, vamos dizer assim.
O conteúdo restante nem vou relatar, vocês já sabem como é.
Minha irmã respondeu: Nossa, já tentaram esse golpe comigo a semana
passada
Ela: E a senhora caiu?
Minha irmã: De jeito nenhum, e olha que a outra pessoa era mil vezes melhor que você.
Ela: A senhora acha que eu tenho que melhorar? Está ruim?
Minha irmã: Pra ficar ruim falta muito. Moça, só pra acelerar, no final você vai pedir o cartão, não é? Vamos marcar?
Ela, por fim: Eu não, pra senhora chamar a polícia? E desligou rapidamente o telefone.
Ri muito dessa história. Como canta lindamente Diogo Nogueira - com seus belos olhos verdes a música de Bezerra da Silva... "Malando é malandro, Mané é Mané(Podes crer que é)."
Anita Safer