sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Um bilhete para as lembranças

Arquivo Pessoal
Era o último dia de agosto. Uma tarde no meio da semana. Sim, uma quinta-feira, mais precisamente. Lá estava eu, indo ao cinema sozinha.
Existe um shopping na cidade onde passam filmes que não são tão comerciais. Filmes europeus, indianos, brasileiros. Gosto de ir lá, no rompante, no escuro, sem saber o que assistirei. Tenho boas surpresas às vezes, outras não; mas gosto mesmo assim. A atmosfera de lá é diferente. Tem um que de retrô.
Quando cheguei na entrada da sala de cinema o senhor, que recebe os ingressos, me olhou com seu olhar descansado, de quem aguarda sem alarde.

- Não via a hora de você chegar - ele disse

Fiquei em silêncio, aguardando o desenrolar da história. Ele continuou:

- Ouvi o som do seu sapato e esperava pra ver quem chegaria com ele. Me lembrou o tamanco de madeira que as meninas usavam na minha juventude.

Procurei em seus olhos a decepção. Eu não usava tamancos de madeira, tampouco sou tão jovem. Mas seus olhos não me viam, viam apenas suas boas lembranças. Me sorriu generoso e agradecido enquanto me entregava o cupom carimbado. Eu sorri agradecida pela honra de compartilhar aquela viagem a emoções passadas, de pura poesia. Agradecida às minhas sandálias e ao som que fizeram, precedendo à minha chegada.
A sala escura me esperava para mais um filme. Ele pode me surpreender tanto quanto a vida.

Anita Safer

Nenhum comentário:

Postar um comentário