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Arquivo Pessoal |
Existe um shopping na cidade onde passam filmes que não são tão comerciais. Filmes europeus, indianos, brasileiros. Gosto de ir lá, no rompante, no escuro, sem saber o que assistirei. Tenho boas surpresas às vezes, outras não; mas gosto mesmo assim. A atmosfera de lá é diferente. Tem um que de retrô.
Quando cheguei na entrada da sala de cinema o senhor, que recebe os ingressos, me olhou com seu olhar descansado, de quem aguarda sem alarde.
- Não via a hora de você chegar - ele disse
Fiquei em silêncio, aguardando o desenrolar da história. Ele continuou:
- Ouvi o som do seu sapato e esperava pra ver quem chegaria com ele. Me lembrou o tamanco de madeira que as meninas usavam na minha juventude.
Procurei em seus olhos a decepção. Eu não usava tamancos de madeira, tampouco sou tão jovem. Mas seus olhos não me viam, viam apenas suas boas lembranças. Me sorriu generoso e agradecido enquanto me entregava o cupom carimbado. Eu sorri agradecida pela honra de compartilhar aquela viagem a emoções passadas, de pura poesia. Agradecida às minhas sandálias e ao som que fizeram, precedendo à minha chegada.
A sala escura me esperava para mais um filme. Ele pode me surpreender tanto quanto a vida.
Anita Safer
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