sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Na seca

Foto: Tina Arce
Sugestivo esse título...hahaha. Não é bem sobre este tipo de seca que falarei agora. Seca é uma das palavras mais repetidas pelos brasilienses. Um período longo do ano que deixa nossa pele repuxando, coçando. O cabelo fica esturricado. A asma aparece e você procura o ar e ele não te preenche. Chegam as viroses. Todas as "ites" batem ponto... Rinite, sinusite, faringite, laringite. amigdalite... afff... Chego a pensar que vou dar de cara com um camelo na rua, pois a baixa umidade é comparada à dos desertos. 
A seca, pra compensar, nos traz a florada dos ipês, um trem danado de bonito de se ver, mas ficamos desejando chuva, pra encher nossos reservatórios. Fazemos racionamento de água (o que é necessário e louvável, pois água é ouro, é vida, é tudo de bom e está correndo risco de ser artigo de luxo). Limitamos os horários de atividades físicas... ops, falei limitamos pra parecer fitness... mentirinha... hehehe... Mas muitos de vocês limitam, que eu sei. Esse povo bonito que corre nos parques, enquanto eu fico só admirando e pensando... Quando crescer quero ser assim.
Voltando à chuva. Desejamos que ela caia, com toda a força do nosso coração de "centroesteano". Quando cai um pingo sequer é uma festa. Já queremos dormir, porque aquele barulhinho da chuva (exagero, foi só um pingo) dá aquela leseira. Mas quando a chuva vem pra valer, começamos a reclamar. Inundou de cá, inundou de lá, as calhas e bocas de lobo estão entupidas. devia ter consertado o telhado, deviam ter tampado os buracos na pista... Ai, minha chapinha... E por aí vai...
Acho que é da nossa natureza ser assim. Vivemos em estado de seca, secos do que nos falta. Desejamos o que ainda virá, acreditando que o que virá nos trará alegria, vai hidratar nossa alma. Quando temos o que desejamos não valorizamos, por vezes. Aí desejamos o oposto com a mesma intensidade. Seres cheios de incompletude. 
Quanto à natureza ela é dona de si, ela tem seu ritmo, ela traz seca, chuva, tempestades, tsunamis, tornados... Não há o que possamos fazer a respeito, a não ser cuidar melhor do planeta no que for possível, mas assim mesmo ela é magnânima e fará o que for da "natureza da natureza" fazer.
Nós temos que lidar com a nossa própria natureza e tentar domar nossas tempestades, secas e tsunamis de sentimentos. Nos abrigar nos lugares seguros durante nossos temporais pessoais; este lugar são as pessoas com quem podemos contar, nosso poder interno e resiliência. Nos hidratar com água, alimentação e roupas leves, alma leve, bons sentimentos quando a seca reinar. Mesmo durante nossos períodos internos de seca, vamos ver nossos ipês florescendo em nós, pra lembrar que sempre há algo de bonito pra nos inspirar. A vida é movimento, mudança constante e... eita, peraí, deixa eu correr ali na janela, parece que o tempo tá virando.

Anita Safer

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Peraí, tá tocando a "minha" música...

Ah, o poder da música! Ela nos molda, transforma, seduz. Cada um tem uma playlist de sua vida. Ao ouvir determinada canção somos arremessados de encontro a um momento, um sentimento.

_ Tô te mandando essa mensagem porque ouvi uma música do Beto Guedes e lembrei de você.

Essa foi uma mensagem que recebi. Verdade. Até eu lembro de mim quando escuto Beto Guedes...rs. Ele faz parte da matéria de que sou formada. Minhas moléculas musicais são compostas por muita gente: David Bowie, Peter Frampton, Clodo, Climério, Clésio, Cartola, Rita Lee, Metallica, Dominguinhos... E muito mais.
Cada um de nós já chorou ouvindo uma canção. Já pagou mico, riu, dançou, fez paródia. Os casais costumam ter uma "música tema". Algumas agências de publicidade criaram jingles que jamais foram esquecidos, tamanho o poder da música.
Já vi deficientes auditivos dançando ou tocando instrumentos; acho que a musicalidade transcende o som. Música é movimento, vibração. Ela está no balanço dos galhos de uma árvore, nas brincadeiras de criança, no vento soprando.
Às vezes criticamos o gosto musical dos outros. Bobagem. Somos diferentes. Que sejamos arrebatados pela música que nos traduz, nos alegra, nos faz pensar, protestar ou louvar, quem assim quiser.
Gratidão a todos os compositores, músicos, intérpretes, produtores e divulgadores que fizeram e fazem parte da minha história. Beto Guedes, tamos junto!
E você. que tá lendo este texto, com certeza tem uma trilha sonora... Vamos conversar sobre isso...

Anita Safer

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Um bilhete para as lembranças

Arquivo Pessoal
Era o último dia de agosto. Uma tarde no meio da semana. Sim, uma quinta-feira, mais precisamente. Lá estava eu, indo ao cinema sozinha.
Existe um shopping na cidade onde passam filmes que não são tão comerciais. Filmes europeus, indianos, brasileiros. Gosto de ir lá, no rompante, no escuro, sem saber o que assistirei. Tenho boas surpresas às vezes, outras não; mas gosto mesmo assim. A atmosfera de lá é diferente. Tem um que de retrô.
Quando cheguei na entrada da sala de cinema o senhor, que recebe os ingressos, me olhou com seu olhar descansado, de quem aguarda sem alarde.

- Não via a hora de você chegar - ele disse

Fiquei em silêncio, aguardando o desenrolar da história. Ele continuou:

- Ouvi o som do seu sapato e esperava pra ver quem chegaria com ele. Me lembrou o tamanco de madeira que as meninas usavam na minha juventude.

Procurei em seus olhos a decepção. Eu não usava tamancos de madeira, tampouco sou tão jovem. Mas seus olhos não me viam, viam apenas suas boas lembranças. Me sorriu generoso e agradecido enquanto me entregava o cupom carimbado. Eu sorri agradecida pela honra de compartilhar aquela viagem a emoções passadas, de pura poesia. Agradecida às minhas sandálias e ao som que fizeram, precedendo à minha chegada.
A sala escura me esperava para mais um filme. Ele pode me surpreender tanto quanto a vida.

Anita Safer

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

O barulho dos quietos

Foto: Arquivo Pessoal
Em um mundo ruidoso é difícil, às vezes, ser uma pessoa mais quieta, silenciosa. Os silêncios costumam ser mal interpretados. Acham que quem cala, consente. Não, muitas vezes quem cala, sente. Sente, observa, pondera e... se achar por bem... consente.
O calado passa por orgulhoso, prepotente, cheio de si. No entanto, o calado, às vezes, só está tentando organizar o pensamento ruidoso.
O mundo do quieto é feito mais de sentimentos que de palavras. Muitas vezes a timidez impera. Pode não usar tantos gestos, demonstrações explícitas e sons agudos e graves que ecoam e sintonizam com o barulho que paira em volta de si.
Alguns quietos gostam apenas de ficar... quietos. Outros quietos gostam de estar rodeados de risadas, sons e movimentos produzidos pelos "não quietos", numa harmonia bizarra.
Existem muitas formas de ser e manifestar esse ser. E tem lugar pra todo mundo. Alguém sempre vai querer ouvir, em algum momento, o que uma pessoa quieta tem a dizer. 

Anita Safer

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Pasito, Pasito

Arquivo Pessoal
Ai, caramba! O povo inventa umas músicas que tocam o tempo todo, em todo lugar e colam na cabeça da gente. Confesso que até cantei no karaokê a tal Despacito. Enrolando a língua num portunhol medonho. O bom é que todo mundo canta junto num na na na... até chegar no DES PA CI TO. Aí é uma bagunça só.
Mas não tô aqui pra falar da música. É que ela ilustra algo que andei pensando. Não no sentido sensual da letra,embora o pasito pasito nesta área também não seja nada mal...rsrs... mas por citar o passo a passo. Por mais que eu sonhe e deseje, as coisas não acontecem instantaneamente. Se eu preciso emagrecer vinte quilos isso não vai acontecer como eu gostaria, tipo, dormir gorda e acordar magra. Preciso me esforçar pra eliminar grama por grama. Não ganho na Mega Sena e não tenho inclinação para roubar um banco, pois se assim fosse arrumava de vez a vida financeira. Ao contrário disso, preciso cortar gastos e contar cada centavo se quiser me equilibrar.
Para pessoas comuns tudo precisa ser feito aos poucos. Mas isso pode não ser tão ruim. A vitória conquistada tem um sabor de superação.
Portanto, lá vamos nós... Pasito, pasito, suave, suavecito... Ah não, essa música de novo...

Anita Safer