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Foto: Evandro Dâmaso |
A primeira viagem que fiz sozinha foi pra Maceió. No ônibus estavam vários homens que estavam voltando pra casa, vindos de uma frente de trabalho. O que sentou ao meu lado fez o resumo de sua vida enquanto apontava, de instante em instante... "Aquela é uma plantação de soja... de milho... de trigo... de arroz...". A viagem seguia e a poeira ia engolindo o medo e ficando pra trás. Ia surgindo, aos poucos, uma nova parte de mim, que conseguia se sentir confortável em territórios e companhias desconhecidos.
Num livro de Mia Couto tem a seguinte frase: "O avião tem pressas que não são humanas". Dessa pressa fujo, sempre que possível. Não é por medo, nem por questões econômicas. É por gosto. Gosto dos verdes, vilas e cidades que vão se desenhando à beira da estrada, com suas claridades diversas. Me encanta o escuro da noite estampado na janela, entrecortado pelas luzes de postes monótonos e amarelados.
Coisas engraçadas acontecem, como quando numa viagem, durante a noite, um homem falava ao telefone na cadeira de trás. Certamente estava confiante de que o silêncio que havia era garantia de que todos dormiam.
- Amor - ele sussurrava com a voz melosa e rouca, como a de um cantor sertanejo - O que você está usando? Hummm... Aquela camisolinha que eu adoro! Já to chegando minha linda, cheio de saudade. Um beijo bem gostoso nessa sua... bochechinha!
A mulher da cadeira da frente disse:
- Nossa! Que susto!
Risos abafados em todo o ônibus. E a viagem segue. Percalços são possíveis, o cansaço é grande, mas é só o começo da aventura que está por vir.
Anita Safer
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