Sou danada pra usar palavras que dizem que devemos evitar. SEMPRE. NUNCA. Acho que sou um pouco dramática, estilo novela mexicana. Mas percebi que de tanto usar essas palavras algumas coisas acabaram por cristalizar. Um dia usei as duas palavras num só contexto e com tanta força que minha alma até sacolejou dentro do corpo. Eu disse: "Não adianta, NUNCA serei o tipo de mulher que fica cuidando da casa. SEMPRE odiei e SEMPRE odiarei serviços domésticos". Caramba, até eu assustei comigo mesma. Quanto odiozinho no coração!
Resolvi que tentaria inaugurar um novo discurso interno. No dia seguinte comecei a falar pra mim mesma, todos os dias, que era gostoso cuidar da casa. Que iria fazê-la ficar mais gostosa e deixá-la mais com a minha cara, do meu jeitinho. Sabe o que aconteceu com a minha casa depois disso? Nada. Sabe o que aconteceu comigo? Algo mudou dentro de mim. Percebi isso dias depois. Já nem estava mais fazendo as afirmações diárias. Me peguei, em flagrante, cantando enquanto lavava o banheiro. Eu. A rainha do ODEIO LAVAR BANHEIRO cantando e deslizando no sabão, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Me sentindo a Beyonce dos azulejos. I'm single lady... Foi muito estranho!
Parece verdade aquelas coisas que dizem sobre Programação Neurolinguística. Será que nossa mente trabalha como numa fábrica de chocolates - preciso usar a PNL pra isso também, só penso em comida - onde as coisas são feitas em série e repetidamente porque foram programadas assim? Quantas vezes me rotulo? Passo na esteirinha e... PLOC!... adesivo na testa: PREGUIÇOSA! Aí, do nada, olho por outro ângulo e vejo que existe algo por trás do rótulo (será chocolate com avelã? ...kkk... Brincadeira). Por trás de "SEMPRE odiei serviços domésticos", tem apenas "Tenho outras preferências com as quais me identifico e essa atividade não me dá tanto prazer". Ao constatar que não sou obrigada a fazer um tipo de serviço, tudo muda de figura. E então percebo que sou uma pessoa criativa. Gosto de cantar, desenhar, dançar, escrever. Imprimir a minha marca pessoal nas tarefas que preciso realizar pra manter minha casa funcionando faz tudo parecer melhor. Mais gostoso.
É bom se libertar aos poucos de certas certezas e ver que a gente muda. Que bom.
Agora chega de escrever porque tenho mais o que fazer, tipo tirar mais uns rótulos que não fazem jus ao novo produto. Nas prateleiras da vida não podemos deixar expostas mercadorias vencidas. É um perigo pro produtor e pros consumidores. É o que a minha Vigilância Sanitária Mental adverte.
Anita Safer