quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Sempre... Nunca... Será?

Sou danada pra usar palavras que dizem que devemos evitar. SEMPRE. NUNCA. Acho que sou um pouco dramática, estilo novela mexicana. Mas percebi que de tanto usar essas palavras algumas coisas acabaram por cristalizar. Um dia usei as duas palavras num só contexto e com tanta força que minha alma até sacolejou dentro do corpo. Eu disse: "Não adianta, NUNCA serei o tipo de mulher que fica cuidando da casa. SEMPRE odiei e SEMPRE odiarei serviços domésticos". Caramba, até eu assustei comigo mesma. Quanto odiozinho no coração! 
Resolvi que tentaria inaugurar um novo discurso interno. No dia seguinte comecei a falar pra mim mesma, todos os dias, que era gostoso cuidar da casa. Que iria fazê-la ficar mais gostosa e deixá-la mais com a minha cara, do meu jeitinho. Sabe o que aconteceu com a minha casa depois disso? Nada. Sabe o que aconteceu comigo? Algo mudou dentro de mim. Percebi isso dias depois. Já nem estava mais fazendo as afirmações diárias. Me peguei, em flagrante, cantando enquanto lavava o banheiro. Eu. A rainha do ODEIO LAVAR BANHEIRO cantando e deslizando no sabão, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Me sentindo a Beyonce dos azulejos. I'm single lady... Foi muito estranho!
Parece verdade aquelas coisas que dizem sobre Programação Neurolinguística. Será que nossa mente trabalha como numa fábrica de chocolates - preciso usar a PNL pra isso também, só penso em comida - onde as coisas são feitas em série e repetidamente porque foram programadas assim? Quantas vezes me rotulo? Passo na esteirinha e... PLOC!... adesivo na testa: PREGUIÇOSA! Aí, do nada, olho por outro ângulo e vejo que existe algo por trás do rótulo (será chocolate com avelã? ...kkk... Brincadeira). Por trás de "SEMPRE odiei serviços domésticos", tem apenas "Tenho outras preferências com as quais me identifico e essa atividade não me dá tanto prazer". Ao constatar que não sou obrigada a fazer um tipo de serviço, tudo muda de figura. E então percebo que sou uma pessoa criativa. Gosto de cantar, desenhar, dançar, escrever. Imprimir a minha marca pessoal nas tarefas que preciso realizar pra manter minha casa funcionando faz tudo parecer melhor. Mais gostoso. 
É bom se libertar aos poucos de certas certezas e ver que a gente muda. Que bom.
Agora chega de escrever porque tenho mais o que fazer, tipo tirar mais uns rótulos que não fazem jus ao novo produto. Nas prateleiras da vida não podemos deixar expostas mercadorias vencidas. É um perigo pro produtor e pros consumidores. É o que a minha Vigilância Sanitária Mental adverte.

Anita Safer

domingo, 13 de novembro de 2016

Por trás de uma data perfeita, há sempre um duende à espreita

Fotos: Márcia Alves
Vou ser madrinha de um casamento. To super honrada e feliz, porque meus afilhados, Daniel e Lidiane, são uns queridos. Jovens, companheiros e apaixonados. É uma alegria fazer parte desse momento. Antes do casamento existem várias etapas e esses dias teve o Chá de Casa. Foi maravilhoso! Tudo lindo, gostoso e divertido. Mas antes de começar encontrei a noiva confinada no quarto. Ela estava agoniada porque, depois de correr o dia todo, tinha esquecido de levar o vestido que usaria na festa. Eu disse a ela que isso fazia parte do pacote. Esses imprevistos amam aparecer em momentos importantes, mas que ia dar tudo certo e seria um sucesso. E foi. Fico pensando, por que cargas d`água acontecem coisas pra deixar tenso aquele momento em que deveria ser tudo perfeito? Por que o computador deixa a pessoa na mão na hora da conclusão de uma monografia? Por que o DJ esquece de tocar as músicas que você pediu na hora da festa? Por que a maquiagem que devia te deixar parecida com a Grace Kelly no dia do seu casamento, te deixa parecendo o Curinga? Eis o que não sei. Meu amigo dizia que eram obras de duendes, que se divertiam em nos ver no sufoco. Que pra distraí-los tínhamos que sair correndo e jogando balinhas no caminho. Assim eles iriam pra longe e não atrapalhariam o evento. Mas nunca quis arriscar, vai que meu amigo é um deles e quer apenas se divertir às minhas custas. Mas uma coisa é certa, tudo vira lembrança e assunto. Um dia, numa roda de conversa, as pessoas compartilham as histórias. "Meu casamento foi lindo, mas...", "minha conclusão de curso foi uma loucura porque...", " não imagina o que aconteceu no meu parto...". A vida faz dessas coisas, como diz minha filha "é a vida sendo vida". E que venham casamentos, formaturas, filhos, viagens, porque nada supera a alegria das doces conquistas que realizamos pelo caminho; nem mesmo duendes zombeteiros".

Anita Safer

sábado, 5 de novembro de 2016

Na poeira da estrada

Foto: Evandro Dâmaso
Amo viajar. Pra longe, pra perto. De avião, de trem. Gosto até de "viajar na maionese". Só não curto navio e afins, o mar me dá aflição. Pra mim, qualquer embarcação tem o nome de Titanic. A maneira que mais gosto de viajar é de ônibus. Agora é a hora em que ouço a Nema dizer: "Mas é pobre mesmo!". Nema é minha prima-irmã que vive se escandalizando com minha falta de ambição. Fazer o que se eu sou desse modelo de pessoa? Pra ser coerente, quase sempre viajo de ônibus. Gosto de ver a mudança da paisagem.
A primeira viagem que fiz sozinha foi pra Maceió. No ônibus estavam vários homens que estavam voltando pra casa, vindos de uma frente de trabalho. O que sentou ao meu lado fez o resumo de sua vida enquanto apontava, de instante em instante... "Aquela é uma plantação de soja... de milho... de trigo... de arroz...". A viagem seguia e a poeira ia engolindo o medo e ficando pra trás. Ia surgindo, aos poucos, uma nova parte de mim, que conseguia se sentir confortável em territórios e companhias desconhecidos.
Num livro de Mia Couto tem a seguinte frase: "O avião tem pressas que não são humanas". Dessa pressa fujo, sempre que possível. Não é por medo, nem por questões econômicas. É por gosto. Gosto dos verdes, vilas e cidades que vão se desenhando à beira da estrada, com suas claridades diversas. Me encanta o escuro da noite estampado na janela, entrecortado pelas luzes de postes monótonos e amarelados.
Coisas engraçadas acontecem, como quando numa viagem, durante a noite, um homem falava ao telefone na cadeira de trás. Certamente estava confiante de que o silêncio que havia era garantia de que todos dormiam.
- Amor - ele sussurrava com a voz melosa e rouca, como a de um cantor sertanejo - O que você está usando? Hummm... Aquela camisolinha que eu adoro! Já to chegando minha linda, cheio de saudade. Um beijo bem gostoso nessa sua... bochechinha!
A mulher da cadeira da frente disse:
- Nossa! Que susto!
Risos abafados em todo o ônibus. E a viagem segue. Percalços são possíveis, o cansaço é grande, mas é só o começo da aventura que está por vir.

Anita Safer

Filme de terror é para os fortes. Será?

Foto produzida por Arthur Sousa
Eu sou a tia do terror. Pelo menos acho que essa é a marca pessoal que deixarei de lembrança pro meu sobrinho Arthur. O que fazer se eu e ele criamos, meio que sem querer, o hábito de assistirmos juntos a quase todos os filmes assustadores que são lançados? Assustadores pra mim, pelo menos, ele é destemido. Fomos assistir Quando as Luzes se Apagam. Mal começou o filme, as letrinhas ainda estavam começando a aparecer e...TCHAN!!!... Começou! Aquela cena inesperada que me fez pular da cadeira e falar o meu tradicional "Bosta". Meus filhos riem de mim porque dizem que no meu vocabulário esta palavra é a que mais se aproxima de um palavrão. E ela vem sempre neste contexto. Depois da palavra pronunciada segue a promessa nunca cumprida: "Nunca mais vou assistir um filme desses". Conversa. Já vimos os trailers dos próximos e já tá tudo articulado.
De onde virá esta disposição pra assistir filmes de terror? Eis o que não sei. Uma vez li um artigo onde um psicólogo dizia que algumas pessoas gostam de ver filmes deste gênero porque, de alguma forma, veem na tela a representação de seus medos. Desta forma podem vivenciá-los de maneira segura. Isso explicaria meu caso. Muitos medos, muitos filmes. Não gosto dos violentos, tipo Jogos Mortais. Prefiro os que tem sustos, que fazem a gente pular e a palavra, aquela que começa com a letra B - mas que não vou repetir porque não é hora, nem lugar - escapa dos lábios. Aí é só sair do cinema na maior adrenalina, comentar com o Arthur sobre as cenas horripilantes e ouvir: "Ééé... Achei meio fraco". Sabe o que isso quer dizer? TO BE CONTINUED...

Anita Safer