sexta-feira, 15 de julho de 2016

Na condução da vida

Foto: Tina Arce
Quando tirei carteira de motorista tive um instrutor que era uma figura. Ele parecia com o José Rico e Milionário. Você entendeu, com um dos dois. O de barba e óculos escuros. Nunca sei qual deles é ele. Ele era meio doidão; o instrutor, no caso. Me mandava estacionar no bar pra comprar cigarro, entre outras maluquices. Mas era um filósofo. Eu não tirava os olhos do retrovisor e sempre que via um ônibus ou caminhão vindo, dizia... "Ai, meu Deus! Vem um ônibus GIGANTE, vai passar por cima da gente!". Cansado das minhas histerias ele mandou que estacionasse e disse, mais ou menos, o seguinte: "Presta atenção. Dirigir é como viver. Você tem que olhar pra frente, pra não perder o eixo num quebra-molas qualquer. Existem uns sinais que nos avisam quando devemos desacelerar, parar ou seguir. Uns caminhos são bem sinalizados, outros não. Acidentes acontecem, às vezes por nossa culpa (então devemos tentar evitá-los), outras à nossa revelia. Não temos o controle de tudo. A vida tem dessas coisas. Mas uma coisa é certa, só devemos olhar no espelhinho do passado quando for importante; quando formos mudar o trajeto e precisamos ver que o que está lá atrás não pode nos atrapalhar. Moral da história, TIRA O OLHO DO RETROVISOR, MOÇA!"
Depois disso consegui relaxar mais ao volante. Era mesmo muito estressante olhar pra frente e pra trás o tempo todo. Eram muitos veículos GIGANTES nas vias. Mas sobre este ensinamento na vida tenho que estar sempre me policiando - Olha a blitz...rsrs. O passado gosta de vir, às vezes, na mente da gente, como um enorme caminhão desgovernado. No retrovisor da lembrança ele parece maior e mais ameaçador do que realmente é. Se soubermos ser bons condutores, vamos parar de nos preocupar com o que está lá atrás, podemos até liberar o espaço para que o passado siga seu caminho. A única coisa que podemos fazer é procurar dirigir nossa vida com cuidado e confiança. Às vezes precisamos usar a marcha ré e voltar um pouquinho. Não correr mais que o permitido pra não atropelar os outros ou se arrebentar à toa. Também não ser tão lentos ao ponto de empacar as pessoas.
Na vida até encontramos alguns bons instrutores, mas a condução é responsabilidade nossa. No mais, é fazer uma revisão de vez em quando e torcer pras estradas estarem em bom estado. Ah, e não esqueça de andar com os faroizinhos bem acesos. Mais essa agora!

Anita Safer

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