segunda-feira, 11 de abril de 2016

Cadê meu GPS?

A vida é uma coisa engraçada. Quanto tempo a gente perde na vida tentando alcançar uma imagem idealizada de nós mesmos. Pior, em grande parte, são idealizações construídas de fora pra dentro. A ideia é de que precisamos nos transformar no que acreditamos que esperam de nós. Aí começa uma salada maluca em nossa cabeça. Algumas pessoas acham que devemos ser mais coerentes, outras que sejamos mais combativas, ou mais responsáveis, ou mais relaxadas. E por aí vai... Se você tenta seguir esses caminhos sinuosos que traçam pra que siga, você se perde de um jeito que até o GPS vai falar: "A 800 metros, pare, desça da porcaria desse carro, porque você não vai sair dessa rotatória nunca, abestado". Mas a gente pode desligar esse GPS mental e tentar fazer o trajeto por nossa conta e risco. Não custa tentar... GPS é uma invenção recente, muitas gerações viveram sem ela e conseguiram chegar a algum lugar, não sei se é onde queriam, mas quem disse que a vida oferece certezas?
Vamos supor que você vá reformar o sofá da sua casa e a pessoa que vai fazer o serviço diz: "Veja bem, este tecido não vai combinar com os móveis, você deveria escolher um tom terroso, algo mais discreto; não esse verde cana com ursinhos panda e dinossauros sorridentes". Responda: "Eu quero ursos panda e dinossauros vivendo em harmonia e convivendo felizes com minha cristaleira do século XVIII... E terroso é seu pai". Tudo bem, exagerei. Mas nem sempre queremos que as pessoas digam o que devemos fazer. E não se assustem, minha casa não é tão bizarra assim, mas, e se eu quiser que ela seja, qual o problema? Na verdade acho que podemos ser mais felizes se procurarmos corresponder às NOSSAS expectativas e desejos. Quais qualidades valorizo e devo cultivar? Quais os defeitos que tenho mas devo evitar, por me fazerem mal? Só essa busca pessoal e sincera pode me libertar e me fazer chegar mais perto da pessoa que realmente desejo ser. Não uma pessoa perfeita aos olhos dos outros, mas uma pessoa da qual eu possa me orgulhar. E essa pessoa que sou, acreditem, não é igual a ninguém (não se atreva a dizer... ainda bem...)
Uma vez eu estava me lastimando com alguém sobre a minha falta de vocação para cuidar da casa. Eu dizia que queria ter uma casa linda, arrumada, organizada e tals. A pessoa me disse: "Dê um exemplo de uma casa, de alguém que você conheça, onde você goste de ir". Só pensei na casa de uma amiga. Para minha surpresa, a casa dela não é uma casa arrumada, muito menos organizada; mas é acolhedora e me faz sentir à vontade. Então vi que preciso mudar meus conceitos. Continuo querendo melhorar minha relação com as atividades domésticas e ter uma casa legal, dentro da minha visão do que seja uma casa legal e não uma esteticamente perfeita, mas onde me sinta à vontade. O mais importante é me sentir bem, com o meu jeito de ser; com meu olhar único, que não é igual ao seu ou ao dele ou ao dela. Assim a troca será melhor. Algo em mim deve ser bom para outras pessoas e, com certeza, me delicio com características delas, às vezes tão diferentes das minhas. Quem não me apreciar como sou não é obrigado a fazer parte do meu mundo. Mas eu preciso perceber as minhas particularidades e acolhe-las. Sempre com muito amor. Isso me fará capaz de acolher e aceitar o outro como ele é.
Pronto. Agora vou ligar um pouquinho o GPS, senão vou perder o rumo dessa prosa. Beijos e boa viagem a todos!

Anita Safer

Um comentário:

  1. Isso aí! "Viver e não ter a vergonha de ser feliz"! Muito bom! (imagem de mão batendo palmas) bj

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