Estava eu em minha aula de bandolim. Ansiosa como sempre; triste por não conseguir materializar o som que estava em minha mente. Na minha cabeça as notas soam harmoniosas, melodiosas, deliciosas, mas minhas mãos só produzem grunhidos - um aqui, outro ali. Sensibilizado com minha frustração, meu professor disparou uma analogia, muito oportuna por sinal: "Eu tenho uma filha de nove meses, tudo o que ela consegue fazer é emitir umas sílabas, dá dá pá pá... se ela estivesse aqui não conseguiria travar uma conversa como a que estamos tendo...".
Acho que nascemos com uma sabedoria nata. Quando o bebê está aprendendo a andar, ele vive este processo de forma natural, acompanhando seu próprio ritmo, caindo e levantando, quantas vezes forem necessárias. Ele supera o medo, se lança. Não pensa em agir com perfeição, apenas age de forma persistente para atingir aquele objetivo. Alcançado aquele objetivo ele parte para outros, com a mesma curiosidade e determinação.
Em algum momento do caminho perdemos esta fluidez. Começamos a cobrar de nós mesmos um desempenho impecável. Afinal, somos pessoas "maduras", como podemos realizar uma atividade qualquer sem perfeição? Se as coisas da vida fossem tão fáceis assim seríamos brilhantes em todas as áreas.
As exigências que faço em relação a mim mesma mostram que não estou sendo uma pessoa madura, sim uma pessoa mais dura. Maturidade não é estar pronto, finalizado. Maturidade é saber lidar com os próprios limites, tentar realizar o melhor possível de forma realista. É vivenciar as delícias do processo de aprendizagem.
No caso da música, a técnica é importante, mas não serve de nada se eu não sentir prazer com ela. Vi que posso ter dificuldades na execução de uma música, meus dedos ainda são duros e lerdos. Mas sei que tenho um ótimo ouvido musical, consigo tirar música de ouvido, senti-la e me emocionar com ela. Isso é belo, é pleno. Aprecio o som do instrumento e posso me dedicar a estudá-lo sempre que quiser.
Esta perspectiva me agrada. Se me agrada e me traz paz, então é a forma correta de lidar com a situação. A partir desta linha de pensamento posso abrir mão da busca pela perfeição e me entregar de corpo e alma ao sentimento, este sim, me faz fluir. Então, deixo de ser dura e não me preocupo em ser madura. Aproprio-me da minha alma de criança, descobrindo as dificuldades e as superações para dar meus primeiros passos. Do que estou falando mesmo? De música? Também.
Agora, Jacob do Bandolim, pode descansar em paz... Vou seguir sendo eu mesma, com os grunhidos e sustenidos do meu lindo bandolim.