sábado, 31 de agosto de 2013

Poema

Dama do dia e da noite

Um muro foi erguido
entre a dor e o lamento

Não é tarde
nunca é tarde

Meus olhos
que não sabiam chorar
estavam secos
de saudade e sal

Sal das lágrimas represadas
por tempo infinito

Como pronunciar seu nome
sem sucumbir às punhaladas
do desespero por sua ausência?

Enquanto lustrava minha armadura
reluzente e fria
a dama da noite exalava seu perfume
desafiando minha fortaleza

A dama do dia esta lá
intacta
exuberante
bela
Também serena
sempre

Não é tarde
nunca é tarde

Me rendo...
abro os portões
para que você vagueie
por todos os cantos da minha cidade

Me desmancho em lágrimas
de sal

Saudade

Anita Safer

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O tempo nos torna uma pessoa madura ou mais dura?

Estava eu em minha aula de bandolim. Ansiosa como sempre; triste por não conseguir materializar o som que estava em minha mente. Na minha cabeça as notas soam harmoniosas, melodiosas, deliciosas, mas minhas mãos só produzem grunhidos - um aqui, outro ali. Sensibilizado com minha frustração, meu professor disparou uma analogia, muito oportuna por sinal: "Eu tenho uma filha de nove meses, tudo o que ela consegue fazer é emitir umas sílabas, dá dá pá pá... se ela estivesse aqui não conseguiria travar uma conversa como a que estamos tendo...". 
Acho que nascemos com uma sabedoria nata. Quando o bebê está aprendendo a andar, ele vive este processo de forma natural, acompanhando seu próprio ritmo, caindo e levantando, quantas vezes forem necessárias. Ele supera o medo, se lança. Não pensa em agir com perfeição, apenas age de forma persistente para atingir aquele objetivo. Alcançado aquele objetivo ele parte para outros, com a mesma curiosidade e determinação. 
Em algum momento do caminho perdemos esta fluidez. Começamos a cobrar de nós mesmos um desempenho impecável. Afinal, somos pessoas "maduras", como podemos realizar uma atividade qualquer sem perfeição? Se as coisas da vida fossem tão fáceis assim seríamos brilhantes em todas as áreas. 
As exigências que faço em relação a mim mesma mostram que não estou sendo uma pessoa madura, sim uma pessoa mais dura. Maturidade não é estar pronto, finalizado. Maturidade é saber lidar com os próprios limites, tentar realizar o melhor possível de forma realista. É vivenciar as delícias do processo de aprendizagem. 
No caso da música, a técnica é importante, mas não serve de nada se eu não sentir prazer com ela. Vi que posso ter dificuldades na execução de uma música, meus dedos ainda são duros e lerdos. Mas sei que tenho um ótimo ouvido musical, consigo tirar música de ouvido, senti-la e me emocionar com ela. Isso é belo, é pleno. Aprecio o som do instrumento e posso me dedicar a estudá-lo sempre que quiser.
Esta perspectiva me agrada. Se me agrada e me traz paz, então é a forma correta de lidar com a situação. A partir desta linha de pensamento posso abrir mão da busca pela perfeição e me entregar de corpo e alma ao sentimento, este sim, me faz fluir. Então, deixo de ser dura e não me preocupo em ser madura. Aproprio-me da minha alma de criança, descobrindo as dificuldades e as superações para dar meus primeiros passos. Do que estou falando mesmo? De música? Também.
Agora, Jacob do Bandolim, pode descansar em paz... Vou seguir sendo eu mesma, com os grunhidos e sustenidos do meu lindo bandolim.

domingo, 25 de agosto de 2013

Sobre pessoas e anjos

Foto: Érica
De vez em quando ouço pessoas dizendo: "Prefiro bicho a gente, gente não presta... tals e tals". Eu não penso assim. Gosto muito de bichos, nem todos, baratas eu não gosto. Amo gatos, golfinhos e macacos. Mas gosto muito de pessoas, não de todas. Sei que muitas gostam de mim... Não todas. Antes eu não entendia como alguém podia não gostar de mim. "Como assim, tal pessoa não gosta de mim? Sou tãooooo legal", era o que eu pensava. Hoje sei que sou legal, mas também não sou essa (marca de refrigerante de cola) toda. Ninguém é obrigado a gostar da mim e vice e versa. Tem pessoas de quem eu gosto e ponto. De outras não gosto e ponto. Algumas pedem uns três pontinhos... passando pelo estágio probatório. Gosto de pessoas por razões diversas. Pode ser porque falam demais ou nada falam. São extravagantes, sensíveis, simples, bagunceiras; os motivos são intermináveis e indecifráveis, porque o critério não passa pela razão, mas pelo sentimento.
Mas nada supera o aparecimento de certas pessoas que surgem na vida da gente, que vou chamar de anjos. São relações mágicas que acontecem, sem explicação aparente. Acontecem como que por acaso. Inicialmente parecem ser apenas mais uma pessoa que está entrando na sua vida, como muitas outras. Podemos gostar dela de cara... ou não. O fato é que esta criatura se embrenha na sua alma e passa a constituir um dos alicerces da sua felicidade. Esse alguém, que é um anjo pra você, não é - ainda bem - uma pessoa perfeita. Mas sente por você tanta ternura que te faz sentir amado. Não deseja que você seja diferente do que você é. Vibra com suas conquistas, se compadece da sua dor. É alguém com quem você não precisa ter medo de mostrar suas fragilidades, porque a pessoa nunca vai usá-las contra você. Quando seu coração está doendo, você recorre a esta pessoa e ela "fu...fu...fu...", sopra em seu coração pra amenizar sua dor. 
Um amigo anjo nunca te abandona. Ele pode estar a quilômetros de distância, do outro lado do mundo, mas você sente que, mesmo andando por outros caminhos, ele não larga a sua mão. Vocês procuram cuidar um do outro, quando necessário; mais que isso, cada um procura cuidar de si pelo outro, porque sabe que seu bem estar faz a diferença na vida de alguém. Quando você está na companhia de alguém assim, o tempo passa de forma diferente, os momentos são longos e leves.  
Não há cobranças neste tipo de relação, pois não há necessidade de afirmação do afeto; ele existe e é claro e cristalino. Para que prender um amigo anjo? Ele tem asas para voar, as mesmas asas que usa para buscar a sua companhia e dividir com você as mazelas e delícias da vida.

Anita Safer




domingo, 11 de agosto de 2013

Quermesse - Despertando a comunidade para a paz

                                                                                                                                                                           Foto: Arquivo pessoal
Todos os anos Brasília é presenteada com um evento muito legal. É a tradicional Quermesse do Templo Budista. Este ano é a 40ª Quermesse. De uns anos para cá tenho procurado ir em todas. É bonito ver um povo buscando manter suas tradições em uma terra distante. Vivenciar um pouco a cultura dos outros nos enriquece. Nos permite ouvir novos sons, experimentar novos sabores. Bom demais. 
Nestes eventos o antigo e o novo se fazem presentes. Ao mesmo tempo em que as tradições são mantidas através das meditações, das comidas, dos rituais - como o tocar do sino; o novo também tem sua vez. Os jovens tem espaço para expressar sua maneira de vivenciar o mundo.
Lá você pode comer Sushi, Temaki, Yakisoba, camarão empanado, entre outras delícias da culinária japonesa. Mas se não gostar de nada disso pode partir pro hotdog ou pra tapioca. São montadas diversas barracas para quem quiser comprar artesanatos, bijouterias, camisetas, enfim, diversas coisas, a maioria ligadas à cultura japonesa. Se quiser relaxar, uma das tendas oferece o shiatsu expresso.
Na parte cultural são feitas apresentações de artes marciais além do bon-odori (dança folclórica japonesa) ao som de Taiko e Matsuri Dance. O que mais gosto são as danças coletivas. É como se fosse um tai chi dançante. A maioria dos jovens conhece as coreografias, mas quem não conhece também pode participar e vira uma grande brincadeira. Sou capaz de ficar horas vendo o pessoal dançar e até me atrevo a arriscar uns passos. Outra coisa que me diverte é ver o estilo da turma mais jovem, eles capricham no visual, é bem bonito de ver. Quem gosta, também pode participar da meditação.
Vale muito a pena dar uma passada por lá. A quermesse acontece durante todos os finais de semana de agosto a partir das 16 horas. Entrada: 1k de alimento não perecível (exceto sal). O Templo Budista fica na 315/16 Sul.

Anita Safer

A voz e a dona da voz

É engraçado como muitas coisas em que pensamos, simplesmente acontecem. Estava indo para o meu forrozinho com minha amiga Sílvia. Sílvia, assim como eu, é uma pessoa eclética e estava ouvindo no rádio do carro músicas clássicas. Ela disse que andava ouvindo sempre a Brasília Super Rádio FM quando estava no trânsito. Eu disse a ela que gostava da rádio também. Especialmente da voz da locutora que dizia A Diferença é a Música. Acho incrível sua voz. A voz dela é uma música. Passados três dias fui ao Conjunto Nacional resolver umas coisas e, de repente, ouvi aquela voz conhecida. Pois não é que o programa Piano ao Cair da Noite é gravado ao vivo de lá? 
A dona da voz estava lá. Uma mulher muito bonita, sofisticada. Harmonia total: ela/a voz/ a programação. Seu nome é Lucia Garofalo. Fiquei me deliciando com o programa. Gostaria de ter esperado o final para cumprimentá-la e contar da feliz coincidência de ter falado sobre ela uns dias antes. Mas tinha um compromisso e não pude esperar. Acho bacana quando uma pessoa consegue imprimir sua marca pessoal em um trabalho e ela faz isso com maestria; queria dizer isso a ela.
Foto: arquivo pessoal
Retornei dias depois. Só que ela não estava lá. Mesmo assim fiquei lá, rendida ao som do piano do músico e compositor Toninho, que, na ausência de Lucia, também apresentou o programa. Seu repertório, bem variado, passou por Tom Jobim e Vinícius, Carlos Gardel, Richard Wagner e muitos outros. Apresentou também uma música belíssima, chamada Ciganice, de sua autoria com a parceira Neuza Doritto. Bela apresentação.
A rádio, que foi inaugurada há mais de 30 anos, foi a única emissora do mundo a ser inaugurada por um Papa; com exceção, claro, da Rádio do Vaticano. 
No decorrer do programa, Toninho contou sobre uma reportagem que tinha assistido sobre o Ray Charles, onde perguntaram para ele qual era o seu gênero musical favorito e ele respondeu: Para mim só existem dois tipos de música - a boa e a ruim. Faço minhas as palavras de Ray Charles, por isso recomendo este programa simples, gostoso e a cara de Brasília. Tomar um cafezinho gostoso na praça de alimentação e curtir este programa no Conjunto Nacional. Assim você acalma a mente com música de boa qualidade e encara o trânsito com mais tranquilidade.
O programa Piano ao Cair da Noite é transmitido ao vivo de segunda à sexta, das 18 às 19 horas, do palco-auditório (ao lado da agência do Banco de Brasília - BRB, no Conjunto Nacional)

Anita Safer

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

De olho na compulsão

Foto: Érica
"Tudo demais é veneno", diz um velho ditado. É muito difícil quando sentimos que somos controlados por ações e sentimentos que são mais fortes que a nossa vontade. Isso acontece com  drogas, álcool, comida, sexo, dependência afetiva ou outra coisa qualquer.  A pessoa compulsiva é alguém que busca um alívio para algo que não vai bem. É uma história solitária  que pode afastar o indivíduo do caminho de suas realizações pessoais. Além de ter que lidar com a pressão interna, de não ser forte o suficiente para lidar com o vício, sofre, às vezes, com julgamentos externos. Ela pode ser rotulada de fraca, mau caráter e um monte de outras coisas. Tudo bem, ela até pode ser isso tudo. Mas isso não tem nada a ver com compulsão, a compulsão é uma doença! Ninguém fala pra quem está com hepatite: "Você é um fraco, tá com hepatite porque quer. Larga já essa hepatite pra lá e sai dessa vida". 
Talvez o primeiro passo para lidar com o problema seja admitir que ele existe. Perceber que a compulsão está te fazendo mal física, emocional ou socialmente. A partir daí buscar ajuda. Nós não precisamos enfrentar sozinhos os problemas da vida. Este planeta está abarrotado de gente, elas precisam servir para alguma coisa, tipo, ajudar umas às outras. Aliás, muitas vezes a compulsão nasce da mania de perfeição, do orgulho, da culpa, dos ressentimentos. Então é preciso quebrar este ciclo. Precisamos aprender a lidar com nossas imperfeições e fazer parte do gigantesco grupo dos humanos, imperfeitos por natureza. Abrir mão do orgulho, tentar entender e perdoar as nossas culpas para seguir adiante com nossas vidas. Aprender a vivenciar os sentimentos, para no futuro não termos que re/senti-los (daí a palavra ressentimento).
Para buscar ajuda é preciso fechar os ouvidos às vozes internas que nos boicotam nesta busca e às vozes externas (de pessoas que não entendem o que você está passando e desqualificam seus sentimentos). Existem profissionais que estudaram pra caramba pra tentar te ajudar neste processo. É hora de buscar uma terapia. Outra alternativa são os grupos de apoio, que existem para os diversos tipos de compulsão. 
Não posso falar de todos os tipos de compulsão, pois, felizmente, não preciso lidar com eles, que são difíceis demais. Meu problema é alimentar. Foi muito difícil admitir que fico "alucinada" e "desorientada" diante de certos alimentos. A compulsão alimentar é complicada porque você não tem como fugir do agente que provoca a compulsão. Não tenho como ser uma eremita, que vive na solidão e só come frutinhas silvestres e plantinhas em geral. Tenho que dar de cara, quase todo dia, com os gatilhos da minha compulsão. Na minha busca por ajuda encontrei um grupo de apoio e estou achando muito legal. Por esta razão, estou aqui dando a cara a tapa e repassando esta dica. Se for seu momento e sua necessidade, procure ajuda. Os grupos de apoio são formados por pessoas imperfeitas, assim como você e eu (ô coisa difícil é admitir que não sou perfeita, mas tudo bem); por esta razão não vale a pena ir com a ideia de que lá vai correr tudo às mil maravilhas, mas utilize as reuniões como um instrumento para a sua melhora. Afinal, este é um problema seu e de mais ninguém. 
Para casos como o meu existem os Comedores Compulsivos Anônimos. São vários grupos no DF. Fica a dica.

Anita Safer