domingo, 23 de junho de 2013

Em busca da fé

Alguém me disse uma vez: "Você é uma pessoa maravilhosa, incrível, adoro você. Pena que você não vai pro céu". Fiquei parada, olhando e pensando... esta pessoa está profetizando ou me amaldiçoando? Eis o que não sei... só sei que entendi que ela disse isso com base nos preceitos religiosos dela; eu não iria pro céu porque não abracei a sua religião. Neste momento eu não gostaria mesmo de ir pro céu e nem pra lugar nenhum fora deste mundo. O desejo que tenho é de ir ficando por aqui o máximo que puder, mesmo com este mundo cheio de dificuldades e desafios.
                                                                                      Foto: Érica
Quando criança, queria ser freira. Vivia na igreja e era absolutamente apaixonada pelas histórias dos santos. Não suportava a Branca de Neve, achava ela uma chata, mas adorava Santa Clara. Depois a vida tomou outro rumo e desisti da ideia. Mas o meu "eu religioso" sempre esteve em busca de algo. Sou como a piada do cachorro que entra na igreja porque a porta está aberta. Vou a qualquer igreja, templo, lugar de oração, enfim, qualquer lugar que me aceite e tenha algo a me dizer, que possa me acrescentar. Vemos tantas notícias tristes sobre pedofilia, enriquecimento ilícito, vaidade e falsos profetas que tentam dominar as pessoas pelo medo, né mesmo? Chego à conclusão de que a salvação, a santidade, não usa, necessariamente, um hábito, um terno ou palavras macias. O filme O Livro de Eli trata deste tema e deixa a mensagem de que a religião pode ser boa ou má, dependendo das mãos de quem a conduz ou, acrescento, dos interesses de quem quer ser conduzido.
E a não religião? E a pessoa que não acredita em um Deus? E os budistas? Com ou sem religião somos indivíduos em busca do sentido da vida e de como podemos nos colocar diante do mundo (o conhecido e o desconhecido). Existe um filósofo suíço, ateu, Alain de Botton, que diz que "o problema do homem sem religião é que ele se esquece do que é realmente importante. Todos nós sabemos, na teoria, o que devemos fazer para sermos bons. Só que, na prática, nos esquecemos". Embora ateu, ele entende que muita gente busca, através da religião, se conectar com a bondade e evoluir.
Vejo que o que me encantou na história de alguns santos - e também de pessoas comuns que mudaram sua vida em busca de um ideal maior - foi o grande amor que aflorou diante da dor e do sofrimento humanos. A maioria delas não desejava fundar uma religião ou ter discípulos, só queria encontrar respostas e fazer o bem.
Por isso acredito que as pessoas, sendo diferentes, têm necessidades e credos diferentes... ou credo nenhum. Mas o que acho que devemos buscar em templos, ou fora deles, é o amor. Um amor que não julgue, que respeite, que acredite e que tenha humildade para saber que somos humanos, imperfeitos e teremos um longo caminho para sermos pessoas melhores do que temos sido até agora.

Anita Safer

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dia dos Namorados... ownnnnn

Arquivo pessoal
Acho tão engraçada a expressão que as pessoas postam nas redes sociais quando olham pra uma imagem bonitinha, normalmente fotos de crianças ou de bichos -"own". Mas hoje, em pleno Dia dos Namorados, dou de cara com a imagem que ilustra este post e na hora eu... Ownnnnnn... que lindinhas, as árvores estão apaixonadas! Sei que há uma razão absolutamente racional pra uma árvore estar escorada na outra, mas, desculpem-me os racionais de plantão, é bom viajar de vez em quando e fazer associações.
Concordo que o Dia dos Namorados - assim como dia das mães, dos pais, da sogra, etc - é uma data altamente comercial e explorada pelos capitalistas selvagens. Não vou entrar neste mérito; isso todos já sabem. Mas, vamos combinar, namoro é uma coisa legal. Tem gente que diz que é melhor estar só porque não tem homem que preste neste mundo (ou mulher que preste). Isso é uma baboseira, pra dizer uma coisa dessas precisa ter conhecido todas as pessoas do planeta. Tem muita gente legal por aí. Estar com alguém não é, e nem deve ser, pré-requisito pra ser feliz. Podemos sim ser felizes sozinhos, estar plenos, fazer o que gostamos, ir onde quisermos, jogar amor pelos quatro cantos, pros amigos, familiares, ficantes, pra natureza, pro trabalho. O amor existe pra ser usado. Porém, ter alguém com que distribuir junto este amor é muito legal. De mãos dadas é mais gostoso sair por aí enfrentando as mazelas da vida e isso não custa nada, o universo comercial não pode cobrar por este maravilhoso presente do dia dos namorados; também não pode cobrar pelos beijos, abraços, afagos, palavras de carinho. Tudo isso é de graça e é o melhor do namoro. Todos os dias são dias pra deitar a cabeça no ombro da pessoa amada (assim como as árvores... ownnnn). E, no caso de estarmos sós, não devemos deixar que a solidão seja uma coisa amarga e nos transforme em alguém incapaz de entender a felicidade a dois das outras pessoas. 

Anita Safer 

domingo, 9 de junho de 2013

Slackline e Educação juntos. Por que não?

Foto cedida por Nema de Sousa
Slackline - Modalidade esportiva que surgiu nos anos oitenta, num momento de descanso de escaladores nos Estados Unidos que, para fazer uma hora antes da escalada, amarraram uma fita, de uma árvore à outra e começaram a se equilibrar sobre ela, como se fosse uma corda bamba. Diferente da corda bamba - onde é utilizada uma corda bem esticada e de menor mobilidade - o slack é  montado com uma fita de nylon elástica, mais flexível. Por esta razão se chama slackline, que significa linha folgada. Existem várias vertentes do esporte, que vão da forma mais simples - 30 cm, aproximadamente, do chão - até as formas mais complexas - feitas de um prédio ao outro ou sobre a água, pelos desportistas radicais. 
Tenho visto muitos jovens praticando o slack pela cidade. Acho muito legal. Além de ser uma atividade física que trabalha diversos músculos do corpo, exige muita concentração e equilíbrio. Ainda tem a vantagem do baixo custo e pode ser praticado ao ar livre. Mas achei surpreendente descobrir que o esporte é oferecido para alunos de uma escola pública em Sobradinho. A professora de arte, Nema de Sousa, apaixonada pelas práticas circenses, vendo jovens praticando o esporte pensou: "Por que não?". Adoro esta pergunta, ela costuma fazer maravilhas em alguns casos. Com este espírito de experimentar e levar novas formas de expressão corporal aos seus alunos, ela arregaçou as mangas. Priorizando a segurança, comprou o equipamento necessário e... mãos à obra! Vislumbrou na atividade uma forma de desenvolver diversas capacidades pessoais e começou um trabalho realmente digno de mérito; em parceria com professores do Ensino Especial de sua escola, iniciou a prática do slackline com as crianças portadoras de necessidades especiais. 
Acho incrível esta proposta. Imagina o quanto pode-se trabalhar com estes jovens durante uma atividade assim. Equilíbrio, concentração, segurança, sentimento de liberdade e coragem. Sem falar na parte física. Eu e Nema já trabalhamos juntas com teatro. Admiro sua determinação e sua linha de trabalho sempre voltada para a inclusão social. Esta não é uma ação que ela iniciou agora, já foi muito atuante na questão dos menores de rua. Acredito que seja um desejo nato de proporcionar mais àqueles que necessitam de maior superação. 
Só posso desejar muito sucesso à Nema em seu trabalho. Que ela sirva de inspiração para muita gente e que suas crianças sejam craques em superar suas limitações no esporte e na vida.

Anita Safer

sábado, 1 de junho de 2013

Meditação - A viagem no silêncio

Foto: Érica


Às vezes, tudo o que precisamos é de um momento de silêncio. Um tempo para aliviar a cabeça de milhares de pensamentos, o coração de um punhado de sentimentos e o corpo do constante movimento. Parar. Parece fácil, mas não é, exige paciência, concentração e prática. Atributos de luxo nos dias de hoje.

A meditação entrou em minha vida no Parque Olhos d’Água. Estava caminhando quando vi um grupo de pessoas reunidas. Como sempre achava uma maneira de boicotar minha caminhada, resolvi ver o que estava acontecendo. Descobri que era um pessoal que se reunia uma vez por semana para praticar a meditação. Gostei da fala macia e dos gestos leves da pessoa que conduzia o grupo. Achei que aquela atmosfera de paz, de olhares doces, naquele lugar cheio de vida, de plantas, de busca pela saúde, só poderia me fazer bem. Lá aprendi algumas maneiras de meditar, mas preferi a mais simples. Apenas ficar em silêncio, prestando atenção na própria respiração. Sem música, sem mantra, apenas uns minutos de silêncio. Descobri que quando medito com freqüência, minha concentração melhora, minha disposição aumenta, durmo melhor e fico menos ansiosa.

São quinze minutos do meu dia em que me sinto inteira, centrada. Embora pareça fácil, não é. Uma vez minha irmã, Clélia, foi comigo num desses encontros. Quase morri de rir quando olhei pra ela e ela estava lá, sentada, parada, toda molhada de suor, parecendo uma cuscuzeira.Fiquei pensando “como uma pessoa pode transpirar tanto fazendo meditação?”. No final, muito irritada, ela me disse: “Por que não me disse que era meditação de alto impacto?”. Ri demais da conta, mas entendi o que ela quis dizer; ficar parada, sem pensar em nada, por um minuto sequer, neste mundo que está sempre em movimento, requer um esforço sobrenatural. Ela é super ativa, está sempre produzindo muito - uma característica muito linda e muito dela.

Somos todos diferentes e temos necessidades diferentes. Eu sinto necessidade de dar esta pausa no meu dia. Não é um ato esotérico ou religioso. É uma necessidade pessoal. Quando medito me sinto viva. Volto da meditação e vejo as cores mais vivas. Sinto o movimento em volta de uma forma diferente, nova. É como se fizesse uma breve viagem e voltasse cheia de saudade da parte de mim que quer aproveitar o que a vida tem pra oferecer.

Perdi o contato com este grupo do parque, nunca mais os vi. Já meditei também no Templo Budista, mas não me dou bem com cheiro de incenso, me dá dor de cabeça. Atualmente medito em casa ou em outro lugar tranqüilo. Se você nunca tentou, tente um dia, você pode se surpreender.


Anita Safer