quinta-feira, 18 de abril de 2013

Um abraço excepcional

Ela é uma senhora de idade. Estava na fila preferencial de um hospital público. Pequena, magra, com um lenço na cabeça e um chinelinho velho, costurado. Quando me aproximei recebeu-me com um olhar cansado,  meigo e um sorriso acolhedor. Seu olhar destoava dos outros, que caiam em mim com o peso da inquisição, como se quisessem saber a razão de uma mulher com menos de sessenta anos, aparentando saúde, estar naquela fila de atendimento exclusivo.
Na verdade eu não estava na fila, mas certamente estava em um perímetro pouco seguro. Aguardava minha rainha, D. Maria, que tinha entrado pra fazer um exame. Mas, tudo esclarecido, todos mudaram o olhar para o modo "suave" e pude retomar minhas atenções para a mulher de chinelo estragado e olhar transbordante.
Apesar da idade avançada a senhora guardava lugar para o filho que, a um sinal seu, aproximou-se. Rodolfo, de 25 anos, é portador da Síndrome de Down. Um rapaz lindo, com um sorriso encantador, como o de sua mãe. Ao contrário dela, estava todo arrumadinho. Ela, orgulhosa, me apresentou ao rapaz, que me abraçou com um abraço desarmado e demorado e eu, por minha vez, desarmadamente me abandonei e desfrutei daquele carinho.
Por um momento me senti inserida naquela família. Acho que existem pausas no tempo, onde tudo fica suspenso para que o amor possa se manifestar. Essas manifestações ocorrem em momentos inusitados, quando estamos distraídos. É uma forma que a vida encontra de chamar nossa atenção para nossa humanidade.
Sentí naquelas duas pessoas uma elevação de alma; onde as dificuldades vão sendo enfrentadas com amor e cumplicidade. Para isto as pessoas são empurradas umas para as outras, para que neste encontro aconteça o aprendizado. 
Se todos nós tivéssemos a capacidade de dar um abraço sincero como o de Rodolfo, sem reservas e pudéssemos ter o cuidado e o amor estampados no olhar, como o de sua mãe, o mundo seria um lugar bem confortável de se viver.

Anita Safer

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