terça-feira, 4 de outubro de 2022

Ao pé da letra

 

Desenho inspirado em imagem do Google Imagens

Hoje me peguei sentindo saudades das letras (acho que é porque estou treinando lettering, que é a arte de escrever letras em estilos diversos - é a minha atividade neste momento, minha estranha mania de fazer atividades diferentes a cada semestre...rs). 

O mundo digital, há pouco datilográfico, expulsou para as paredes das lembranças, as boas e velhas letras escritas de forma cursiva. Aquelas letras que eram esperadas nas cartas de amor; que identificavam os amigos e parentes. 

Nas escolas as letras ainda teimam em existir, ainda que a contragosto das crianças da nova geração, que têm pressa e consideram desnecessário todo aquele esforço de bailar o pulso, com uma caneta em punho, para fazer desenhos em um pedaço de papel - e, vamos combinar, aquele quadro cheio de letrinhas cansa mesmo. É muito mais atraente e rápido passar os dedos por um teclado, cada vez mais futurista. Nos celulares as palavras querem formar-se sozinhas. Muitas vezes, O tal corretor ortográfico nos faz enviar mensagens absurdas e comprometedoras, como "Que Deus te elimine" ao invés de Deus te ilumine; vai que é um ato falho tecnológico...rs 

Mas, voltando à nostalgia deste meu momento, lembro que o meu primeiro amor escrevia lindamente o número 2. Vamos dar um desconto, quando apaixonados achamos tudo lindo. Me recordo da letra bem desenhada da minha mãe. Ela foi alfabetizada mais tarde, então, escrevia seu nome com muito capricho e orgulho. As letras são tão variáveis e pessoais! Algumas têm pressa e passeiam quase deitadas, como se fossem motos fazendo curvas em um campeonato. Outras são pequenas, tímidas. Existem as altivas, longas, firmes. As enigmáticas, como aquelas de alguns médicos, em que se juntam alguns atendentes na farmácia tentando decifrá-las, como se fossem personagens de um filme do Indiana Jones. Soube de um médico que foi procurado pela enfermeira para falar sobre um medicamento que havia prescrito e ela não estava entendendo. O médico, com seus óculos na ponta do nariz, tentava, em vão, decifrar a própria escrita; quando a enfermeira avisou: Doutor, o papel está de cabeça pra baixo...

Minha neta agora está aprendendo as primeiras letras. Lindas letras espelhadas, que vão para onde querem, assim como ela. É a liberdade infantil, antes de sermos condicionados para que o mundo nos valide. E temos que aprender a escrever e também a ler, pois todos sabem, escreveu e não leu, o pau comeu... O que é não é uma verdade absoluta, pois convivo com uma pessoa que não sabe escrever nem o próprio nome e, no auge dos seus 84 anos, não nasceu ainda um ser humano capaz de passá-la pra trás. A sabedoria e inteligência são superiores às convenções. 

Escrevo essas bem traçadas linhas, para dizer que sinto saudades das cartas, de reconhecer as pessoas queridas pela forma como escrevem seus "as" ou "xis"... 

Me despeço agora, digitando essas letrinhas, sem ter a oportunidade de colocar os pingos nos is, aqui os is já vêm prontinhos. Mas vejo as letras aqui formadas, são as irmãs mais jovens das antigas cursivas e desenhadas com nossas mãos. Elas também formam palavras. Palavras formam ideias, mas esse assunto fica pra outro momento. Três pontinhos.


Anita Safer


sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Cat Café em Brasília

Fotos: Liana Rocha

A vida é uma experiência diária. Embora ela pareça ser a mesma o tempo todo, ela nos surpreende, aqui e ali, com delicadezas. Talvez a vida seja como um gato, às vezes preguiçosa,  às vezes arisca, divertida, mas sempre bonita e misteriosa. Acarinhar um gato (quando ele permite, é claro, porque são eles que mandam na relação...rs) é tão gostoso quanto o cheirinho de café, que acabou de ser coado.  São sensações que aquecem a alma.
Minha nora me convidou para conhecer um lugar que descobriu em Brasília. As cidades, assim como a vida, são cheias de descobertas a serem feitas. Eu, claro, topei na hora. É sempre bom conhecer novos lugares.  
Fomos ao Betina Cat Café, na 409 Norte. O lugar é cheio de encanto e ternura. Logo ao chegar fomos recepcionadas pela Bárbara. Muito atenciosa e prestativa.  Ela nos explicou como era o lugar; isso aconteceu na frente de uma vitrine de vidro.

Lá dentro, gatinhos diversos, num espaço todo preparado pra eles; brincavam, ou dormiam, ou comiam suas rações. A proposta do lugar é unir essas duas experiências, oferecer um ambiente gostoso para um bom café, e proporcionar aos gatinhos (que são vacinados e castrados) a oportunidade de encontrarem um lar. Quem se interessar, pode se candidatar à adoção de um deles. Olha que objetivo nobre. Amei!

Fomos fazer nosso lanche. Todo o ambiente remete aos lindos bichanos. Numa parede estão as fotos dos bichinhos que já foram adotados. Os copos, talheres, doces, a decoração, tudo tem os gatos como tema. Minha neta ficou maravilhada. Pagando uma taxa, você pode entrar, por alguns minutos, no ambiente que os gatinhos ficam. Ela, claro, quis aproveitar e brincar com aquelas lindas bolas de pelo. Eles são muito bem cuidados. Tem até um banheiro privativo pra eles, acreditam nisso? Um luxo.


Deixo, então, a dica para os amantes de gatos. É uma experiência gostosa e diferente. Caso tenha curtido a sugestão, vá lá e tome um café "gatoso"... hahaha. 

Anita Safer

domingo, 11 de setembro de 2022

No balanço das marés

Foto: Paty Arce 

Fui tomar um café da manhã com amigos. A ocasião era o aniversário de uma das amigas, muito, muito amada. Ela nos contou que estava numa fase mais reclusa, sem pensar em grandes comemorações e festividades. Então, outra amiga contou que os antigos da terra dela usavam a expressão pré-mar para designar o momento entre a maré baixa e a maré alta. Onde a sensação é de que está tudo quieto. Achei linda a expressão e o significado dado a ela. Cheguei a pesquisar, mas não encontrei nada que falasse a respeito. Mas, isso não tem a menor importância, quem somos nós para questionar a sabedoria popular, tão poética e que busca palavras e expressões que tentem fazer com que entendam as coisas do mundo. O interessante é que quando chegamos, meus amigos sentiram um cheiro de peixe, vindo de algum lugar. Eu não senti porque estava com o nariz congestionado, mas incluímos esse fato às nossas teorias de que existe uma conexão entre todas as coisas.
A conversa, então, se desenvolveu neste sentido. A vida é cíclica, como o mar. Momentos de mar agitado, de mar calmo, ciclones, ressacas (que nos livramos, no caso, porque ficamos só no cafezinho mesmo...rs). Então, demos as mãos - era um momento em que a emoção tomava conta do ambiente e queríamos trocar aquela energia gostosa, que acontece quando estamos entre pessoas queridas, com quem podemos compartilhar o que sentimos. O rapaz, que nos atendeu, se aproximou. Sentiu o clima e, cheio de sensibilidade e bom humor, comentou que havia chegado pra participar de um momento especial. Olhei para o crachá dele e o seu nome era Moisés - hahaha, ele veio para abrir as águas.
Nos divertimos com a ideia e isso foi papo para muita filosofia de café. E vem aquela sensação gostosa de que está tudo mesmo interligado. O importante é saber que as marés vêm e vão. E nessa malemolência, no balanço do mar da vida, vamos conduzindo o leme do nosso barco da melhor maneira que conseguirmos, rumo ao nosso destino. Quanto ao que não podemos controlar, lembro da frase de um amigo muito querido e engraçado que falava... "Jesus disse, faça a sua parte que eu fazerei a minha"... rs

Anita Safer