quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Casa tatuada - Árvore da (dá) Vida

Foto: Clélia Parreira (Quadro Azulências - Matizes Dumont)



Sabe quando você tem um vínculo de amor muito grande com alguém - ou alguéns...rs - e quer demonstrar esse sentimento? Como representar isso através de um símbolo? Muitas vezes as pessoas fazem uma tatuagem. Isso me fez lembrar de um jovem que queria muito fazer uma tatuagem e sua mãe não deixava de jeito nenhum. Ele fez uma, sem que ela soubesse. Quando ela viu que tinha algo diferente no braço do filho, já preparou o grito, mas ao levantar a manga do braço do garoto, estava tatuado: "Mamãe, te amo!"; com aquele desenho do coração cortado por uma flecha. Ai ai... aí fica difícil exercer a autoridade... haha. Mas foi partindo desse conceito, de simbolizar a união e o amor, que minha irmã sugeriu que pensássemos em algo pra nós. Tatuagem estava fora de questão, porque nossa pele já não tá mais tão firme e a coragem, então... Mas ela, danadinha como é, teve uma ideia linda, delicada, apaixonante. Tatuaríamos nossas casas. Escolheríamos um quadro e colocaríamos uma reprodução desse mesmo quadro em cada casa. Resolvemos escolher uma obra do Matizes Dumont, porque amamos seus bordados e sentimos que um fio nos uniu a eles. De alguma maneira mágica nossas famílias se encontraram num ponto do caminho, o que rendeu arte movida à música e conversas amorosas. Mas são tantos quadros lindos... Como escolher? Olhando as opções com a minha filha, ela viu que em um deles havia crianças em cima de uma árvore. Ela disse: "Voto nesse, vocês todos vieram de uma mesma árvore". Pronto. Era o símbolo que procurávamos. Todos da mesma árvore. Árvore de raízes profundas, da época anterior ainda ao nosso antepassado conhecido na ocasião como "canela de ferro", que chegou ao Piauí e deu sequência à jornada que nos trouxe até aqui. E quantos homens e mulheres passaram por esta árvore. A vida tem seus mistérios e encantos. E não é que são nove crianças na árvore? Assim como somos nove irmãos. Não tínhamos notado isso quando optamos por essa obra. Mas eu acredito nesse Universo que conspira e une pessoas e fatos, que liga a todos num grande e lindo bordado que se chama Vida. Assim completo essa postagem com um trecho da letra de uma música de Edson Gomes, gravada por Elba Ramalho, que diz:

"Ando sobre a terra e vivo sob o sol e as minhas raízes eu balanço... eu balanço... eu balanço..."

 Anita Safer

domingo, 30 de agosto de 2020

Mexericando

 

Foto de Liana Rocha (com Isabela)

Tem coisas que são chatas de fazer na vida, mas são necessárias. Uma delas é fazer exames. E lá fui eu fazer uma endoscopia um dia. Você já fez? Também ficou resistindo quando o anestesista diz... Conte até 10? Eu reluto, pareço criança. Não vou dormir, não vou dormi... não vou dorm... não vou d... Absurdo, ele sempre vence. 

Mas o mais bizarro ainda está por vir. Quando retornei da sedação estava em casa. Estatalada no sofá. Meus filhos às gargalhadas. É muita vulnerabilidade pra uma pessoa só. Eu nem costumo beber pra não sair de mim, se é que é possível a gente sair da gente...rs. Ou será que quando a gente bebe ou está sob efeito de alguma sedação, aí sim, a gente sai de si? Aquela pessoinha nossa que está escondida lá nos confins da alma? Aquela criatura bizarra que faz coisas sem pé nem cabeça sou eu? Ou  sou essa criatura aqui que escreve coisas sem sentido? Eis o que não sei.

Veio então o relato. Meu filho Bruno, que me acompanhou ao exame, disse que quando saímos da clínica - eu meio grogue - pedi que ele comprasse umas mexericas de um vendedor na rua. Ele achou que tava tudo certo, não suspeitava, então, das minhas faculdades mentais. Chegando ao estacionamento,  disse que eu pedi a ele que desse umas mexericas para o guardador de carros e perguntei: Ele ficou feliz? Creio que meu filho ficou meio confuso neste momento, se me levaria pra casa ou se me levaria pra uma clínica psiquiátrica. Mas as pessoas são estranhas, às vezes, e na minha família somos... quase sempre. Embaixo do prédio, diz ele, repeti o ato. Mexericas para o porteiro, seguidas da frase "ele ficou feliz?"... Moça da limpeza com os braços cheios de mexerica ouvindo confusa a pergunta "ela ficou feliz?". Diz ele que foi entre mexericas e votos de felicidade que chegamos em casa e eu desmontei no sofá.

Depois de ficar um pouco indignada com o relato e gargalhadas, fiquei a pensar. Por que, na minha inconsciência, me tornei uma mexeriqueira? kkkk...

A origem da palavra mexericar vem de denunciar, já que a fruta, mexerica, tem um cheiro forte e denuncia quem se delicia com ela. Acho que minha inconsciência mexeriqueira queria denunciar que todas as pessoas deveriam buscar ser felizes. Que essa felicidade saísse pelos poros, que seu aroma ocupasse as ruas, os prédios, a cidade, o mundo... 

Mexeriqueiros do planeta... Isso está cheirando bem... 


Anita Safer

Estantes, ipês e outros pensamentos

 

Foto: Tina Arce

Hoje acordei muito cedo e olhei pela janela. Sempre faço isso quando acordo. É um dos movimentos que me permito fazer nesses tempos de pandemia. Olhando pela janela pensei: "Nossa, o dia hoje tá parecendo uma estante...". Me diverti com a ideia. Devíamos dar nomes aos dias. Talvez letras de música... hoje o dia tá tão "o sol há de brilhar mais uma vez..." - ou nome de alguém, tipo um crush... o dia hoje tá tão fulano de tal, uma corralinda. Acho que essa ideia da estante veio por algumas razões. Uma delas vem das lives e entrevistas da atualidade. Sempre a pessoa está na frente de uma estante e a gente fica na maior curiosidade tentando descobrir os livros que a pessoa tem. Às vezes nem dá pra prestar atenção direito ao que a pessoa tá falando. A conclusão que chego é que vou ter que evitar fazer lives e dar entrevistas, por enquanto, porque não tenho uma estante... hahaha. 

Voltando ao dia, com cara de estante, respirei o ar da manhã e dei de cara com O Ipê Floresce Em Agosto,livro de Lucilia Junqueira de Almeida Prado. Um lindo e amarelo ipê. Diversos deles estão espalhados pela cidade e também nas redes sociais. Eles amam a seca e sorriem. Depois eles  esparramam-se pelos gramados e outros aparecem deslumbrantes - rindo e bordando o chão com suas cores. Me faz pensar nesse momento triste, seco e cheio de restrições e dor que passamos. Se é da natureza florir, contrariando as agruras do tempo, seria da nossa natureza florir um pouco que seja para dar um respiro neste tempo de espera e incertezas? Creio que sim.  #somostodosipês,

Na estante da minha janela também não faltam os pássaros. Não os de Hitchcock, graças ao bom Deus...rs. Mas pássaros diversos que cantam, voam e... seguem sendo pássaros. Eles remetem ao livro de Érico Veríssimo - Olhai Os Lírios Do Campo. Não há lírios em frente à minha janela, infelizmente. Mas os pássaros estão lá e me lembram a parábola do Sermão da Montanha, em que os pássaros estão presentes confiando que estão protegidos e não precisam se preocupar com nada, porque tudo está nas mãos de Deus. No livro de Érico Veríssimo, Olívia tenta convencer Eugênio que ele deve deixar de ser tão ambicioso e prestar atenção às coisas simples da vida, como observar os lírios do campo. Olívia, não tenho lírios, mas tenho pássaros, serve? Sim, serve. Eu pergunto, eu respondo. Afinal, estou só comigo mesma diante desta janela/estante; falando sozinha, nem sequer tenho botões na roupa para falar com eles. 

Na estante imaginária também constam outros livros: Vidas Secas, A Revolução dos Bichos (dedicado ao cachorro interativo do andar de cima)... 

Quero que tudo passe e a gente volte a transitar sem medo pelas ruas, criando novos temas pro livro de nossas vidas. Com todo respeito e admiração por Gabriel Garcia Márquez, não quero viver Cem Anos de Solidão.


Anita Safer

sábado, 30 de maio de 2020

Saudade do calor, né, minha filha?

São sete horas da manhã. Já estou de pé. Por que, meu Deus do céu? O dia será longo e não há tanto assim a ser feito. O pão de leite comprado ontem grita por um café. Como negar? Mas o café quente, especialista em esquentar a alma não surte efeito. Tudo porque uma frente fria, vinda sei lá de onde, bate de frente com meu DNA nordestino, que é todo trabalhado no calor. Resolvo então voltar pra cama. Ninguém precisa saber, né? Dormir mais um pouquinho não fará diferença no andar lento do dia. Cama tá ok. Coberta tá ok. Mas o sono não vem. Então pego o livro e alterno suas folhas com as mensagens que chegam. Respondo, volto, leio. "dingling"... outra mensagem, respondo, volto, leio. Nas páginas do livro o Dr Macbeth acorda meio sem saber quem é e onde está. Aquela sensação que todos temos às vezes, especialmente quando dormimos fora de hora. Ele é psiquiatra, deve entender melhor essas coisas... "dingling"... Preciso levantar às 11 horas pra fazer almoço. Meu DNA continua lutando com o frio. Preciso agir. Não posso passar o dia deitada, lendo e trocando mensagens debaixo do cobertor quentinho e macio. Ahhhh... que delícia. Tá. Posso, mas o almoço precisa de um apoio pra acontecer. Depois de muito relutar resolvo tomar um banho. Entre tirar a roupa e entrar debaixo do chuveiro o tempo parece longo, mas me apresso, como se minha vida dependesse dessa pressa. Pronto! A água quente começa a escorrer pelo meu corpo. Aos poucos vou me reconhecendo; como o doutor do livro começa a se ambientar com o quarto do hotel. Essa sou eu, a mulher que veio do calor. Minha mente começa a se agitar e me imagino sendo uma sereia que vive em uma piscina em Caldas Novas, ou quem sabe na Pousada do Rio Quente (nunca fui nessa pousada, mas com esse nome deve ser uma maravilha!). Quero eternizar esse momento. Viveria pra sempre dentro desse banheiro, esfumaçado, reconfortante. Ficaria assim, mas sou defensora do controle do uso da água.
Essa ambientalista que vive em mim não permite negociação. Com muito custo e relutância desligo o chuveiro. Agora que tomei posse de quem sou posso voltar minha atenção às coisas do dia. Quem sabe mais tarde retorno à cama, à coberta, ao livro... "dingling"...

Anita Safer

domingo, 26 de abril de 2020

Isola!

Quem imaginaria que um dia enfrentaríamos uma pandemia capaz de virar todo o mundo de cabeça pra baixo? Acho que ninguém, né? Epa! Tem uma pessoa sim. O Bill Gates - que em 2015 afirmou em uma palestra que o grande risco pra humanidade não era uma guerra nuclear, mas um vírus poderoso que poderia ameaçar a vida de milhões de pessoas. Daí começaram as fake news, sugerindo que Bill (gosto de parecer íntima de bilionários; vai que 'bilionarice" pega...hehehe) teria criado o vírus pra depois oferecer a cura. Pode isso, Bill?
O fato é que a coisa aconteceu e estamos vivendo o inimaginável. A maioria da população do planeta isolada em suas casas. Outro tanto não podendo seguir as orientações por precisar trabalhar em serviços essenciais. Outro tanto burlando o sistema e flertando com o perigo, ou por necessidade financeira ou por achar que tem o corpo fechado e é só uma "gripezinha".

Os efeitos colaterais da abstinência de rua começam a se manifestar em mim:

- Descobri que meu cabelo é capaz de conviver com 50 tons de cinza e ainda crescer ao infinito e além;
- Olho pros meus gatos de igual pra igual. Saímos de um sofá pro outro espreguiçando. Passamos o dia atacando o prato de ração (ops, de comida, no meu caso. Olha só a bagunça que tá ficando minha cabeça!);
- Meus braços começam a perder aquele bronzeado que tanto destoava da brancura do meu bucho;
- Aquelas tarefas domésticas, que eu achava o trem mais chato do mundo, agora me salvam do tédio (quem poderia imaginar esse milagre?)
- Saudade dói demais!!!!
- A coceira no rosto é acionada automaticamente na hora em que você põe a máscara no rosto.
- Sinto no meu peito a dor dos outros. Dor dos que sofrem nos hospitais, dos que perdem os entes queridos, dos que não conseguem atendimento médico, dos profissionais de saúde. Também dos que perderam suas fontes de renda... 
- Me pego  chorando ao ver algumas manifestações de afeto - pessoas que batem palmas pros curados, que comemoram aniversários nas janelas...
- Sinto um desamparo profundo ao perceber que não temos uma autoridade no País pra nos ajudar a enfrentar esse momento, pois quem deveria fazê-lo está ocupado tocando fogo no parquinho.

Mas a vida segue, um dia após o outro e tudo isso vai passar. Porque tudo passa (não, não vou fazer aquele trocadilho de tio sobre as uvas...rs). Enquanto isso vou usando a criatividade pra fazer uma comida com o que tenho em casa e cantando...
Aí eu penso... Será que vai piorar?... Isola!

Anita Safer

sábado, 11 de abril de 2020

O amor nesses tempos estranhos

Foto: Romero Perotto
Estranhos dias esses que estamos vivendo. Não podemos abraçar e nem ficar junto de quem amamos; porque os amamos! Não é estanho?
Por amor nos privamos da liberdade de ir e vir, para que o pessoal da saúde possa se proteger e nos salvar. Os que trabalham com serviços essenciais estão correndo risco por nós. É o amor e a empatia que faz com que nos preocupemos com aqueles que perderam seus empregos e rendas. Neste estranho momento esperamos que sejam protegidos e assistidos pelo Estado, afinal, para isso seus representantes foram eleitos.
Então traçamos estratégias pra lidar com tudo isso. Pessoas cantam e tocam instrumentos nas janelas e nas redes sociais. A arte cumprindo sua tarefa de proteger nossa saúde mental. Afinal, o que seria de nós sem os artistas? Com suas músicas, filmes, escritos, estão sempre nos transportando a um lugar melhor. Enquanto isso, cientistas de todo o mundo buscam - incessantemente - a cura, o alívio para esse vírus que, tão pequeno, mostrou nossa pequenez.
Nesses tempos estranhos não devemos nos deixar seduzir pela ideia de que não estamos vivendo tempos estranhos. Não são tempos de férias, onde podemos caminhar pelas ruas e parques. É o tempo da espera, para que ao fim possa vir um novo começo; a reconstrução de tudo.
Tudo por amor. 
Hoje os pássaros cantaram alto em frente à minha janela. Sempre cantaram, mas meus ouvidos não estavam tão treinados para ouvir, pois os sons da cidade não permitiam. Eles vivem a liberdade e devem se perguntar que tempos estranhos são esses em que os humanos estão engaiolados.
Pássaros, nós também amamos a liberdade. Para usufruirmos dela, e por amor, ficamos o máximo possível em casa. Vamos nos proteger e proteger quem amamos, para sairmos juntos desses tempos estranhos.

Anita Safer

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Meu dia de Cristina

Imagem: Google
Em minha casa criamos a tradição de realizar, semestralmente, uma festa temática. O tema da vez foi Idade Média. Estavam lá os templários, rainha, freira, miladies, pirata, mamãe fantasma, ferreiro, cavaleiro, viajantes do tempo, até um casal que foi fantasiado de "população"...rs. Eu fui de Cristina de Pisano (essa da imagem que ilustra o post). Nossa festa tem a peculiaridade de evitar fantasias prontas. O jeito é usar a criatividade. Então, peguei um diadema, taquei uns chifres nele e joguei um TNT branco por cima e, pronto, virei Cristina.
Cristina de Pisano foi uma filósofa e escritora italiana que viveu na França desde os quatro anos de idade. Foi a primeira mulher a viver de literatura na Europa no período medieval. Fiquei encantada com sua história. Saber que naqueles tempos de trevas havia uma mulher lutando para conquistar seu lugar no espaço. Triste saber que nos dias de hoje isso ainda acontece. As mulheres continuam lutando muito para serem reconhecidas e respeitadas.
Em minha família temos duas Cristinas: A Tina, minha irmã e a Cris (ou Tininha), minha sobrinha. Duas mulheres incríveis, lindas, fortes e ao mesmo tempo sensíveis. 
Sem desmerecer os homens, afinal, gosto e admiro muitos deles, sou muito fã dessas Cristinas (independente dos nomes que tenham). Mulheres que viveram e vivem, em qualquer época, contribuindo imensamente - através de suas profissões, talentos, inteligência e poder de luta- para um mundo mais igualitário e rico.

Anita Safer

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Desafio 2 - O Melhor do Cortella

Seguindo minha lista de desafios literários vou para o segundo item...

Desafio 2 - Ler um livro de um autor que eu ainda não tenha lido
Livro lido - O Melhor do Cortella, de Mário Sérgio Cortella (presente da minha norinha Morgana)

O livro é uma compilação de ideias e frases escritas pelo autor em 30 anos de publicações. Aborda temas diversos: religião, arte, ciência, política, tecnologia, etc.
Foi legal ter sido presenteada com este livro num momento em que tenho lido e assistido a vídeos sobre filosofia. É difícil falar sobre o livro, no geral, uma vez que ele é todo fragmentado; optei, então, por reproduzir uma das citações que me fez pensar, filosofar, dar aquela viajada...rs.

"Parece que a possibilidade de contemplação foi esquecida. A contemplação da obra, do som, do outro. Isso exige uma visão diferente do tempo; trata-se do tempo para você e não daquela noção do tempo que se esvai". (Nos labirintos da moral. P.89)

Verdade. Com o ritmo frenético em que vivemos, bombardeados de informações, conectados todo o tempo aos nossos aparelhos, deixamos de lado o simples ato de contemplar. Um instante de contemplação - sem pressa, pelo prazer de observar - dá profundidade ao momento. Altera o sentido do tempo. Quando paro e observo alguém, uma obra, a natureza, me conecto e valorizo o que vejo. Retenho a imagem, dou importância e significado ao que é observado.
De vez em quando vale a penar apertar o pause na vida, abrir mão do fast food de informações e saborear com calma o que tenho diante de mim. Essa atitude, de certa maneira meditativa, pode fazer com que contemplando algo, ou alguém, possa enxergar a mim mesma.
No clássico Alice no País das Maravilhas, Alice pergunta ao coelho:
- Quanto tempo dura o eterno?
- Às vezes apenas um segundo - responde o coelho.

Anita Safer


sábado, 11 de janeiro de 2020

Desafio 1 - O MUSEU DO SILÊNCIO

"A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde" (André Maurois)

Em busca deste diálogo me propus um desafio para este ano, ler 15 livros seguindo uma lista de sugestões que vi no site medium.com
Eu piro com listas, quando vejo uma interessante... "me segura, quero seguir....haha".
Aqui não farei uma resenha ou crítica dos livros. Talvez um resumo mínimo, pra dar a deixa para as minhas divagações.

Desafio 1 - Um livro escrito por uma mulher
Livro lido - O Museu do Silêncio, da japonesa Yoko Ogawa (sugerido pela Érica, minha filha)

Um museólogo é contratado por uma mulher bem velha para construir um museu em sua propriedade. A proposta é bem excêntrica. As obras a serem expostas serão objetos furtados de pessoas que morreram na vila onde ela vive.

Como deve ser difícil tentar encontrar um único objeto que resuma e represente toda a existência de alguém. Talvez seja um pouco mais fácil quando a pessoa dedicou boa parte da vida a uma coisa em especial. Um músico, um médico, por exemplo.
Fiquei pensando sobre que objeto me definiria. Percebi que minha vida é feita de pequenos momentos, sem grandes arroubos. Meus interesses são vagos e flutuantes. Eles pulam e brincam, vão e voltam. Nenhuma profissão que me defina, ou hobby, ou talento especial. Sigo tentando encontrar sentido e coisas que me despertem o interesse e me acrescentem vida à vida.
Por esta razão, acredito que o objeto que definiria a minha vida seria a minha caixinha de atividades, onde sorteio uma atividade nova para fazer a cada semestre (antes era a cada ano, mas com o tempo vai ficando pouca vida pra tantas atividades...rs).
No livro a personagem diz ao museólogo: "O que quero são coisas que guardam, da forma mais vívida possível, a prova de que aqueles corpos realmente existiram..."
Para mim, algumas raras pessoas se eternizam por grandes obras. A maioria de nós paira por um tempo na lembrança daqueles que nos amam e, em algum momento, após uma ou duas gerações, segue para o "museu do silêncio"; onde os objetos e palavras são desnecessários. O que fica e vai é nosso Ser, nossa essência, única, intransferível e eterna. O que não é pouca coisa, no meu entendimento.
Mas não custa nada imaginar... Que objeto definiria a sua existência?

Anita Safer