sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Lago Paranoá e seu segredo - ou não

Foto: Liana Perotto
Fiquei sabendo um dia desses de uma coisa que nunca tinha ouvido falar. Pelo jeito só eu, porque fui contar a novidade toda animada pra algumas pessoas e ouvi a seguinte frase: "Sabia não? Vixe, sempre soube....". Isso me faz sentir uma alienada total, sabe?  Assim como quando descobri (e fiquei escandalizada) que cobras grandes mordem; achava que elas só apertavam a gente até quebrar os ossos. Ainda bem que me escondo no nome do meu blog... Eis o que não sei!
O fato que descobri agora, depois de uma vida morando em Brasília, é que há uma vila submersa no Lago Paranoá. Gente, uma vila, quase uma cidade. Lá moravam pessoas. Pessoas diversas. Eram 15 mil trabalhadores que vieram para a construção de Brasília e lá se instalaram.  Haviam casas, mercados e até um cineminha simples. A vila era chamada de Vila Amaury. Amaury era um funcionário da Novacap que recebia os migrantes e os alojava. Todos os assentados estavam cientes de que aquela região toda se tornaria um grande lago artificial e que, em algum momento, eles teriam que ser transferidos pra outro lugar. Mas as pessoas se apegam às coisas, aos lugares. Acho que algo dentro de uma parte de nós é meio planta, necessita de criar raízes. O fato é que foi chegando o dia e alguns não queriam sair de lá. Só perceberam que teriam que sair quando a água começou a invadir todos os espaços. Ainda bem que isso aconteceu lentamente e todos puderam ser realocados em cidades satélites que foram criadas.
Mas hoje, há 38 metros de profundidade, existe uma história tomada pela água e isso mexeu comigo. Queria ser mergulhadora pra ir lá espiar. Mas vai que além de uma vila submersa há um submarino também... hahaha... Essa minha fobia de submarino permeia muitos textos e pesadelos.
Isso me faz pensar em como as coisas são impermanentes. Tudo vem e vai. Tudo se transforma. Diria o filósofo Lulu Santos "nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia". Isso assusta e conforta ao mesmo tempo. Assusta porque mexe com nossas estruturas, nosso desejo de controle. A tendência que temos de nos acomodar com o que nos é conhecido. Por outro lado nos conforta, porque vemos que as coisas podem se transformar em outras, por vezes mais grandiosas e belas. Afinal, onde estaríamos se nada nunca mudasse?  
É intrigante saber que muitas vezes estive na orla daquele lago e ao olhar pra ele não sabia que toda uma história se escondia de mim. Quantas mais estão camufladas por aí, escondidas do meu olhar? Eis o que não sei...


Anita Safer

terça-feira, 29 de outubro de 2019

As delícias da fortuna

Quando minha amiga Márcia me convidou pra comer um "nhoque da fortuna" na Boutique das Delícias eu topei na hora. Primeiro porque curto tradições (não todas, mas algumas sim) e porque tinha comida no meio, aí não dá pra recusar...hehehe. Foi também uma oportunidade de conhecer um novo lugar.
Não sei se vocês conhecem essa tradição. Basicamente ela diz que todo dia 29 de cada mês, comer nhoque colocando uma nota de dinheiro embaixo do prato atrai fortuna. Na dúvida vamos tentar, né? E fomos. A Boutique das Delícias é um lugar muito charmoso, na 113 Norte. Lá são vendidos produtos alimentícios e artesanais produzidos no Distrito Federal. São pães, geleias, massas, bebidas, artesanatos, pastas. Produtos naturais, sem conservantes e várias opções veganas, alguns sem lactose, sem glúten. 
A proprietária, Alessandra, periodicamente cria um evento para que as pessoas conheçam a loja. A bola da vez foi o nhoque. Chegamos lá, escolhemos os nossos, colocamos as notas embaixo do prato (dólar, gente! Porque Márcia é a cara da riqueza) e nos deliciamos. Que maravilha! Massa leve, molho gostoso, ambiente bonito. Amei!
Reza a lenda que em um dia 29, durante o século IV, São Pantaleão andava como um andarilho em um vilarejo italiano. Ele tava morto de fome. Bateu à porta de uma casa pedindo comida. Uma família grande o acolheu. Como a comida era pouca pra tanta gente, os donos da casa serviram 7 unidades de nhoque pra casa pessoa. Quando o santo foi embora, descobriram que havia uma quantia de dinheiro embaixo de cada prato. Daí surgiu a tradição.
O certo é comer 7 unidade de nhoque, em pé (lembrando de antes colocar a cédula embaixo do prato) e para cada unidade fazer um pedido.
O fato é que não sabíamos dos detalhes da tradição e caímos de boca no nhoque todo. Agora a Alessandra vai ter que fazer o nhoque todo dia 29 pra gente executar a coisa direito.
E de bucho cheio  percebemos que a maior fortuna é estar perto de pessoas queridas. E saímos de lá felizes e contentes, como diz nossa amiga Côca.

Anita Safer

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

OS FIOS DE ALICE

A PARTIR DE QUE MOMENTO NOSSA VIDA COMEÇA A SER TECIDA? A NOSSA COMEÇOU NO MOMENTO EM QUE A AGULHA E A LINHA DO DESTINO ENTRELAÇARAM AS VIDAS DE MATIAS E ALICE. NA VERDADE BEM ANTES DISSO. OS QUE VIERAM ANTES AINDA JÁ FAZIAM PARTE DA TRAMA. MAS DESSE ENCONTRO - NUMA TERRA NORDESTINA, DE REDES, PITOMBAS E RIOS, CHAMADA PIAUÍ - FOMOS SENDO GERADOS UM A UM. CADA FILHO UM PONTO; E O DESENHO FOI SE FORMANDO.
E A VIDA, QUE É MOVIMENTO, NOS TROUXE PARA BRASÍLIA, A CIDADE NOVA, RECÉM INAUGURADA. CHEIA DE TERRA VERMELHA E REDEMOINHOS QUE BRINCAVAM, SEM SE PREOCUPAR COM A BRANCURA DOS MÁRMORES DOS PRÉDIOS PÚBLICOS.
ENTÃO MATIAS PARTIU E DEIXOU PARA ALICE E SEUS FILHOS O DESAFIO DE DAR CONTINUIDADE À HISTÓRIA. E NUM APARTAMENTO PEQUENO EM TAMANHO - MAS UM GRANDE CORAÇÃO - OS NOVELOS FORAM SE DESENROLANDO. CLIMÉRIO, CLÉSIO E CLODO E SUAS CANÇÕES CRIAVAM A TRILHA SONORA DE NOSSAS VIDAS. SUAS MÚSICAS FALAVAM DOS RIOS, DO POVO, DAS LEMBRANÇAS DA NOSSA TERRA. ENCHIAM A CASA DE SONS E LETRAS, ESPALHADOS POR TODOS OS CANTOS. PURO ENCANTO, TALENTO E POESIA.
CLEITON SERIA MAIS UM DOS MENINOS DA CASA, MAS FALECEU AINDA MENINO E FICOU EM NOSSA TERRA NATAL FEITO SEMENTE. UMA LUZ INTENSA E BREVE.
CLEONICE E HELOÍSA ERAM AS PRIMEIRAS MULHERES QUE CHEGARAM NA FAMÍLIA. MENINAS FORTES, RICAS EM LEMBRANÇAS QUE IAM SENDO TRANSMITIDAS ÀS MAIS JOVENS: CRISTINA, CLÉLIA E CLEANE.
NOSSA MÃE FOI COMO UMA LUZ QUE NOS GUIOU COM SEU "SILÊNCIO AGRÁRIO" - COMO SEUS FILHOS COMPOSITORES MUITO BEM DEFINIRAM EM UMA CANÇÃO QUE TERMINAVA POR TRANSMITIR A MENSAGEM DE QUE "A PROFISSÃO DOS SONHOS NÃO TEM SALÁRIO".
E COMO ERA BOM ESTAR PERTO DELA, COM SEU CHEIRO DE RAPÉ E OS ENCONTROS À TARDE COM AS AMIGAS E SUA IRMÃ OCIENE. O CHEIRO DE CAFÉ E A ROSCA DE POLVILHO. OS BORDADOS IAM SENDO FEITOS AO SOM DE RISADAS, EMBALADOS PELAS LINHAS DA AMIZADE SINCERA.
DONA ALICE, OU DONA ALA (COMO GOSTAMOS DE CHAMÁ-LA) ERA UMA PORTA ABERTA, PRONTA PARA RECEBER QUEM QUISESSE, OU PRECISASSE; UM ABRIGO SEGURO E CHEIO DE AFETO. ELA ERA UM RIO DE SABEDORIA QUE NUNCA SECAVA.  UM OLHAR TÃO CALOROSO QUANTO NOSSA TERRA. E BORDOU NOSSAS VIDAS COM TANTA BELEZA E CUIDADO QUE TUDO FICOU LIGADO A NÓS: A TERRA, A BELEZA DA MÚSICA DE SEUS FILHOS, O TECIDO XADREZ BORDADO, A PRESENÇA DE NOSSA AVÓ E TIAS E O EXEMPLO PARA AS FILHAS DE QUE MULHER DE VERDADE É LIVRE PARA CRIAR SUA VIDA E BUSCAR SER FELIZ.
E COMO AS SURPRESAS DA VIDA NÃO CESSAM NUNCA, UNIMOS NOSSAS LINHAS ÀS LINHAS DA FAMÍLIA DUMONT. AS ARTES, AFETOS E BELEZAS ATRAEM E PRODUZEM GRANDES FEITOS. POR ESSE LINDO ENCONTRO SOMOS TODOS MUITO GRATOS.

ESSE É UM TEXTO DE GRATIDÃO À FAMÍLIA DUMONT, QUE COM MUITO CARINHO HOMENAGEOU MINHA MÃE E MEUS IRMÃOS EM UMA OFICINA DE BORDADOS EM TERESINA. SEMPRE FUI GRANDE ADMIRADORA DO TRABALHO DE MATIZES DUMONT E A APROXIMAÇÃO COM A ÂNGELA E DONA ANTÔNIA,  TROUXE O BORDADO PRA MINHA VIDA. E NÃO SÓ O BORDADO, TROUXE COR, TEXTURA, LAÇOS E O NASCIMENTO DE UMA AMIZADE ENCANTADORA. 

ANITA SAFER 

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Um amor de livro


Minha amiga Edna Maria de Siqueira publicou seu primeiro livro: O AMOR QUE CURA, pela Editora Palavra e Prece. 
Marcamos de nos encontrar perto de sua casa, para um café onde ela me apresentaria sua obra. E eu fui. Logo de cara adorei a escolha do local do encontro, onde tocava um forrozinho delicioso ao vivo. Isso não é um amor?
Amor. O amor deveria estar em cada lugar. Em cada casa, nas ruas, nas escolas, em todo canto. Esse olhar amoroso para tudo é o que a autora prega. Não só o amor romântico, mas o amor em geral, que perdoa, que cuida, que cura. Também o amor próprio, pois precisamos estabelecer limites que garantam nossa saúde física, emocional, mental. O amor cristão permeia toda a obra, faz parte da vivência espiritual da escritora.
Edna ainda se sente surpresa com o livro, que nasceu de forma natural. O texto traz situações observadas que a fizeram refletir. Ela queria dizer algo importante às pessoas e o que pode ser mais importante que o amor? Ser amado nos fortalece e amar nos liberta.
Beto Guedes diz em uma canção que "o medo de amar é o medo de ser livre...".
Para Edna "o amor que não for distribuído é como uma água que apodrece.."
Então vamos amar! Amei saber que minha amiga concretizou um projeto; e que venham outros, para que eu possa encontrá-la para muitos cafés. Quem sabe novamente ao som de um forró como música de fundo.

Anita Safer

sábado, 31 de agosto de 2019

Forró Ispilicute: Matando a saudade

Arquivo pessoal: Ispilicute das antigas com as "bunitas" de sempre
Meu irmão, Clodo Ferreira,  tem uma música chamada Mentira da Saudade. O que é mentira da saudade? É quando você revisita algo ou algum lugar do passado e vê que as coisas não são exatamente como você lembrava. Um trecho da letra diz: 

"Tirando as pessoas encantadas 
E alguma alma bem-amada
O resto é mentira da saudade..."

Em 2013 escrevi neste blog sobre o Forró Ispilicute, que acontecia todas as sextas no Cota Mil Iate Clube de Brasília. Fui frequentadora assídua desde o início. Recentemente o forró mudou de endereço duas vezes. Ontem, porém, aconteceu uma Edição da Saudade, lá no Cota Mil  (onde tudo começou). Claro que fui. Fui acompanhada das minhas amigas "bunitas" com muita vontade de dançar e alegria no coração.  O que vi lá? Que não era "mentira da saudade". A magia que existe naquele forró, naquele ambiente, é uma coisa gostosa de sentir. Estava lotado e as pessoas se abraçavam como se tivessem voltado pra casa.  E como disse em 2013 - e reitero - o DJ Lêu é o melhor e é "o DJ que agita a galera do forró pé de serra".
Naquele ambiente nasceram grandes amizades, amores. No palco, oportunidade de grandes bandas locais e nacionais se apresentarem. No salão, aulinha para ensinar novos passos e fazer com que todos se sintam  acolhidos. 
Agradeço imensamente à Cris, que nos presenteou com a criação deste forró e ao Cota Mil, que nos recebeu pra este evento e nos fez sentir em casa. Todos adoramos rodopiar naquele lugar especial, que se tornou um ponto de encontro para os forrozeiros da cidade. 
E na próxima sexta tem de novo. E que outros e outros e outros venham, afinal,  não é mentira... Só saudade! 

Anita Safer


terça-feira, 20 de agosto de 2019

A sombra que nos assombra

Foto: Matias Monteiro
Filme de terror novo no cinema? Me segura.... Preciso ir passar medo! Chamo meu companheiro especial para filmes de terror, o Arth, e sua mãe - que adoramos torturar - e vamos lá. O filme promete. Histórias assustadoras para contar no escuro é o nome do filme. Por que promete? Porque é produzido por Guillermo Del Toro (que não é o ator Benício del Toro, sempre confundo os dois). Guillermo é um diretor/produtor/roteirista mexicano que faz uns filmes com uma pegada diferente. Premiado recentemente com o Oscar pelo filme A Forma da Água. Pois bem, fomos conferir, munidos de pipocas gigantes e refrigerantes (que são sempre mais caros que os ingressos). Não vou falar do filme em si. Tem aqueles elementos clássicos: halloween (sim), jovens de cabeça oca (sim), casa mal assombrada (sim), cenas de susto com aquele som de susto que faz você dar um pulo na cadeira (sim), o Arth não achou grande coisa (sim); porque o Arth é expert em filmes de terror e não se agrada tão facilmente, aliás, um dos meus sonhos de vida é encontrar aquele filme que ele dê nota 10. Enquanto isso não acontece, seguimos com nossa saga em busca do terror perfeito.O que gostei no filme, além da ambientação e fotografia, foi que achei que tinha um fundo filosófico no meio. Nova categoria: Terror filosófico...rs. 
Somos assombrados por nossas fragilidades, por histórias que contaram, ou nós mesmos criamos, a nosso respeito. Somos assombrados por abandonos, carências, por atitudes que tivemos e nos punimos, por coisas pelas quais nunca nos perdoamos. 
Na psicologia Carl Jung trouxe o conceito de sombra. Seria aquela bagagem reprimida da nossa personalidade que jogamos, de forma inconsciente, na maioria das vezes, pra debaixo do tapete. Todos nós, seres lindinhos e perfeitos que somos, temos esse lado sombrio. Mas, além dessa sombra, temos aquelas lendas pessoais assustadoras. Pesadelos marcantes ou histórias contadas na infância que nos marcaram, tipo a mulher da faca "passando manteiga no pão", o velho do saco que carregava crianças teimosas... Eu mesma tinha um pesadelo recorrente com uma velhinha que me esfaqueava quando eu chegava em casa. Eu até tentava enganar a chata da velha  com entradas alternativas, tipo entrar pela janela, mas a velha era sempre mais esperta que eu e me pegava de todo jeito. Acho que vou falar pro Del Toro escrever algo sobre aquela velha maldita, quem sabe ele ganha mais um prêmio com o filme A Forma da Véia...hihihi. 
Bem, esse texto não é uma indicação cinematográfica, até mesmo porque muita gente não gosta do gênero. Mas podemos trocar figurinha sobre os medos que nos assombraram ou nos assombram ainda. Dizem que o enfrentamento pode nos ajudar a nos libertar deles. Por isso, se cuida, senhora idosa do meu pesadelo, não sou mais aquela garotinha.

Anita Safer

terça-feira, 7 de maio de 2019

De repente o tempo muda

Foto: Érica P.
Vou contar uma coisa que aconteceu no ano em que nasci - não, não foi em 2000 como minha jovem aparência indica...hehehe - mas prefiro não citar o ano. Sem comentários sobre isso. Abafa o caso. Mas, para os curiosos de plantão vou dar uma dica, aí é só pesquisar.
No ano em que nasci, um meteorologista americano chamado Edward Lorenz estava lá - sendo meteorologista - e viu que uma tempestade tropical estava prevista para cair em Louisiana. Mas ele notou - sem querer, querendo - que estava acontecendo uma mudança climática no Alaska. O que eu pensaria? Você talvez, também. "Hã? O que uma coisa tem a ver com a outra?". Mas Edward era "o cara" e refez lá seus cálculos e viu que a tempestade não ia rolar como o previsto, nem no local previsto; em compensação, um mega ciclone atingiria outra região americana. Tudo por causa da mudança de clima lá do Alaska. E não é que aconteceu? Danadinho, esse Ed. Daí surgiu a teoria do Efeito Borboleta. Na cultura popular dizem que o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, quiçá (sempre quis usar essa palavra...rs) provocar um tufão do outro lado do mundo.
Tudo bem que essa frase é meio dramática, mas sabe o que a descoberta quer dizer? Com certeza não é que meu nascimento mudou o curso da humanidade e nem que eu saí por aí batendo minhas asinhas e causando os maiores estragos. Significa que um pequeno detalhe pode mudar o todo ou, ao menos, uma parte do todo. 
Quando eu era "xóven" ficava indignada quando errava toda uma equação matemática só por causa de um maldito sinalzinho. E eu errava muitooooo. Hoje eu entendo o porquê de meu professor de Matemática ser doido pra me reprovar. Ele estava certo. Ora, ora, quem diria. Um erro de cálculo pode derrubar um avião, fazer um prédio desabar, um foguete sair da órbita ou, até mesmo, fazer um comerciante levar um tiro de algum doido por um troco errado.
O Universo é sensível, gente. Nada é totalmente previsível. O máximo que podemos fazer para redução de danos é o que Lorenz fez, prestar atenção nos detalhes. Se (teoricamente) uma borboleta faz um estrago danado, imagina o que fazemos com nossas decisões. Uma pequena atitude de um pode afetar a vida de muitos, para o bem ou para o mal.
Agora me deu pena da dupla Victor e Léo. Eles acreditam que as borboletas sempre voltam... Às vezes elas estão por aí, distraídas, batendo asas e mudando o curso das coisas.

Anita Safer

sábado, 23 de março de 2019

O sonho não acabou

Ilustração: "Escapismo" de Isadora Duarte
Algumas pessoas andam me perguntando sobre meus textos no blog. Por incrível que pareça tenho alguns leitores...rsrs. Para eles, meu amor eterno (veja dedinhos indicadores e polegares se juntando em forma de coração). O fato, queridos, é que amo falar de coisas corriqueiras, leves, engraçadas. Curto apreciar as coisas bonitas da vida, pensar e escrever para tentar entender sobre aquilo que não sei - daí o título do blog.
Eis o dilema: Como escrever sobre coisas simples e leves em meio a tanto sofrimento como temos visto? Como falar de amor e delicadezas num ambiente contaminado pelo ódio e intolerância? Seria como se eu fosse uma alienada, uma Alice no País das Maravilhas. 
Talvez em função dessas inquietações tive um sonho lindo um dia desses. Sonhei que me encontrava com John Lennon e tínhamos uma linda, longa e inspiradora conversa. No sonho ele desnudava minha alma e dizia saber da minha tristeza em relação ao que estava acontecendo com o mundo e com as pessoas. Mas ele dizia que muitas outras pessoas também se sentiam como eu e estavam acuadas. O fato de estarem acuadas não estava permitindo os encontros. 
Ele sugeria que eu buscasse a alma leve em meio ao caos, o amor em meio ao ódio, o sorriso sincero no meio da dor. Para que cada um que se sentisse desalentado ao meu redor soubesse que não está só.
Esse é um breve resumo do sonho, tipo um trailer...hehe. Mas acordei muito emocionada, chorando. Com o sentimento de que é preciso, sim, resistir. Aceitar as diferenças. Acreditar nas pessoas, verdadeiramente do bem, que não destilam ódio. Seguir a intuição e o coração. Acreditar em sonhos. Na música Dream do meu amigo íntimo e querido John Lennon (olha os indicadores e polegares se juntando de novo, minha gente), ele diz:

"Sonhe, sonhe sempre.
Magia no ar, tinha magia no ar?
Eu acredito, sim, eu acredito"

Anita Safer