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Foto: Liana Perotto |
Fiquei sabendo um dia desses de uma coisa que nunca tinha ouvido falar. Pelo jeito só eu, porque fui contar a novidade toda animada pra algumas pessoas e ouvi a seguinte frase: "Sabia não? Vixe, sempre soube....". Isso me faz sentir uma alienada total, sabe? Assim como quando descobri (e fiquei escandalizada) que cobras grandes mordem; achava que elas só apertavam a gente até quebrar os ossos. Ainda bem que me escondo no nome do meu blog... Eis o que não sei!
O fato que descobri agora, depois de uma vida morando em Brasília, é que há uma vila submersa no Lago Paranoá. Gente, uma vila, quase uma cidade. Lá moravam pessoas. Pessoas diversas. Eram 15 mil trabalhadores que vieram para a construção de Brasília e lá se instalaram. Haviam casas, mercados e até um cineminha simples. A vila era chamada de Vila Amaury. Amaury era um funcionário da Novacap que recebia os migrantes e os alojava. Todos os assentados estavam cientes de que aquela região toda se tornaria um grande lago artificial e que, em algum momento, eles teriam que ser transferidos pra outro lugar. Mas as pessoas se apegam às coisas, aos lugares. Acho que algo dentro de uma parte de nós é meio planta, necessita de criar raízes. O fato é que foi chegando o dia e alguns não queriam sair de lá. Só perceberam que teriam que sair quando a água começou a invadir todos os espaços. Ainda bem que isso aconteceu lentamente e todos puderam ser realocados em cidades satélites que foram criadas.
Mas hoje, há 38 metros de profundidade, existe uma história tomada pela água e isso mexeu comigo. Queria ser mergulhadora pra ir lá espiar. Mas vai que além de uma vila submersa há um submarino também... hahaha... Essa minha fobia de submarino permeia muitos textos e pesadelos.
Isso me faz pensar em como as coisas são impermanentes. Tudo vem e vai. Tudo se transforma. Diria o filósofo Lulu Santos "nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia". Isso assusta e conforta ao mesmo tempo. Assusta porque mexe com nossas estruturas, nosso desejo de controle. A tendência que temos de nos acomodar com o que nos é conhecido. Por outro lado nos conforta, porque vemos que as coisas podem se transformar em outras, por vezes mais grandiosas e belas. Afinal, onde estaríamos se nada nunca mudasse?
É intrigante saber que muitas vezes estive na orla daquele lago e ao olhar pra ele não sabia que toda uma história se escondia de mim. Quantas mais estão camufladas por aí, escondidas do meu olhar? Eis o que não sei...
Anita Safer