quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Pré-Natal

Foto: Thiago Lopes
Vou eu dirigindo "rumo ao meu rumo". Precisava muito entrar à direita na rua principal. Apesar do meu carro piscar insistentemente sua seta sedutora, demonstrando a intenção de mudar de faixa, os carros ao lado ignoravam. Seus condutores deveriam estar com as mentes ocupadas por providências a tomar, não tinham tempo para seduções e gentilezas. Opa! Uma possibilidade agora, depois daquele carro branco. Agora dá. É agora ou nunca. It's now or never. Virei, não antes de levar uma buzinada da moça do carro cinza. Ela estava no tal do ponto cego. Que dizem que existe e existe mesmo. A gente não vê o ponto, então não entendo como um ponto que ninguém vê ao certo pode-se afirmar que seja cego, mas as coisas desaparecem mesmo misteriosamente naquele lugarzinho do retrovisor. São abduzidas e reaparecem depois, quase sempre acompanhadas de freadas bruscas ou buzinadas. Nesse caso foi só a buzinada mesmo. Mas foi uma buzinada leve, até mesmo aveludada. Apenas uma pequena advertência, gentil, um simples bibip, como quem diz: "Cuidado, você tá ameaçando invadir meu espaço, posso até bater em você se eu quiser, mas não o farei porque sou gentil e tenho uma buzina educada". Ainda bem! Poderia ser outra buzina qualquer, como aquela que ouvi em outro momento; mas não pra mim, no caso. Era uma buzina irritada e irritante, que berrava de forma estridente na traseira de um carro indeciso que vacilava em entrar, ou não, no estacionamento pago.
Quis gritar para o homem... Homem, não entre neste estacionamento pago! Jamais! Eu já cometi esse grave erro. Só de entrar você fica falido. Quando o Natal está chegando você precisa priorizar; ou paga o estacionamento ou faz a ceia, os dois não dá. Se pagar o estacionamento, comprar presentes fica inviável. Exagero meu pensar assim. Aliás, ser exagerada nos meus pensamentos é uma especialidade que desenvolvi. Pensei então na roupa que deveria usar numa confraternização à noite, nesta meia estação - meio calor extremo, meio extremo calor. 
Peço desculpas a quem achou que vou dar à luz por causa do título do texto. Não estou grávida, nem fazendo este tipo de pré-natal. É que esse período do ano é quase um parto. Mas é só uma preparação para o Ano Novo, onde a gente renasce com nossas promessas e planos que, quase sempre, serão esquecidos. Mas desta vez não (é o que sempre digo, tenhamos fé). 

Anita Safer

sábado, 1 de dezembro de 2018

Mudança de hábito

Foto: Liana Rocha (com Isabela)
Muita gente aqui deve ter assistido ao filme Mudança de Hábito. É com a maravilhosa e incrível Whoopi Goldberg. Eu lembrei dele porque, gente, é muito difícil mudar um hábito. Sei do que estou falando. Eu tento, tento, e quando vejo tô eu lá de novo, nos velhos, ultrapassados e conhecidos hábitos. E olha que a minha lista de hábitos pra mudar é extensa. Vou citar só alguns, pra não cansar vocês...hehe.
Hábitos alimentares... afff... por que chocolate tem que ser escandalosamente mais gostoso que um brócolis? Por que há seis mil anos os egípcios misturaram farinha com água e inventaram a pizza? E os portugueses, danadinhos, ainda trouxeram as empadinhas pra cá. Galera, o mundo inteiro se une pra dificultar a sua vida, desde que o mundo é mundo. Como se não bastasse, aqui mesmo no Brasil, em 1940, em uma campanha com o intuito de promover a eleição do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da república os moradores de Pacaembu criaram um doce pra vender e arrecadar fundos e esse doce passou a ser chamado como? de brigadeiro. Fala sério! E eu aqui... na luta. 
Mas não é só esse hábito que tenho pra mudar, quem dera fosse. Tenho outros, tipo, me preocupar demais com tudo o tempo todo. Meu filho viaja pro exterior e manda uma foto todo feliz em um bar estiloso. O que eu vejo? Que ele está de camiseta enquanto o cara na mesa de trás está todo empacotado, de gorro, casaco e sabe lá mais o que. Aí eu jogo aquela indireta: "Humm, parece que o frio resolveu dar uma trégua...". Então eu lembro a tempo que estou sendo um pouco ridícula e foco no sorriso lindo dele (isso já é fruto de um trabalho incansável que tenho feito pra brecar as preocupações...rs). 
Voltando um pouco ao filme, a personagem da Whoopi precisa se esconder em um convento. Ela é chave de cadeia, aquela pessoa que vive se metendo em enrascadas e, pra sua proteção, é escondida lá pela polícia. Então ela vai reger o coral e blá blá blá, vocês já devem saber. Mas olha que interessante. Pra sair da vida que ela tinha foi preciso que ela fosse exposta a um outro estilo de vida. Acho que ela adotou um "novo hábito" (aqui cabe mais de um sentido). Dizem que o segredo é esse mesmo. Para mudar um hábito não adianta entrar no fight com ele, ele pode ser mais forte que você; é preciso aderir a um novo hábito, mais saudável do que aquele que te aprisiona e prejudica. 
Não que eu precise comer brócolis nas festinhas infantis no lugar do brigadeiro, mas posso priorizar os alimentos saudáveis. Quanto aos pensamentos eu posso substituí-los por outros mais agradáveis no momento em que eles surgirem. E fazer assim com cada hábito a ser mudado, aos poucos, mesmo escorregando, às vezes. A própria atriz falou sobre dificuldades quando entrevistada: "Tomar uma atitude é difícil, mas sabe o quê? Aguentar uma situação ruim pode ser um inferno".

Anita Safer