segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Nossos sentidos

O rádio do carro tagarela sem parar. Diz que parece que não vai chover tão cedo. E tome notícias de política, promoções e brindes. A mente se desdobra entre o trânsito, os assuntos que a emissora despeja e os pensamentos que pulam de lá pra cá e de cá pra lá. Então toca uma música e aquela música te desperta um sentimento. "Acho que estou apaixonada. Ops... nem tô!" Mas a música faz com que me sinta assim; então, deixa rolar. As cigarras cantam desesperadas, quase estourando, tentando anunciar a chuva que a emissora de rádio acredita não estar próxima de chegar. Na rede social uma música do Beto Guedes me faz lembrar de quem ainda sou. Muito em mim mudou, mas o Beto permaneceu (danadinho!).
Em momentos de ansiedade apertar as bolinhas de um plástico bolha
trazem uma sensação incrível.
Não adianta mentir, sei que muita gente não pode ver um plástico desses. Pode até rolar um fight pelo seu domínio...hehe. São as sensações que o tato trazem. Uma toalha macia, o pelo de um animal (desaconselho leões e afins...rs)...
Os olhos são as janelas da alma, dizem. É bom quando nossas janelas estão abertas para as coisinhas lindas da vida. A visão de uma criança feliz, uma paisagem bonita, as pessoas que amamos.
No meio da estrada havia uma fábrica de café e aquele cheiro incrível nos remete ao aconchego de um lar, que pode ser o nosso, algum lar cristalizado nas lembranças de infância, uma cafeteria. Algum momento em que nos sentimos alimentados com aquele aroma como pano de fundo. E olha que nem sou muito de tomar café, mas vamos combinar, aquele cheiro vale, por si só.
E os sabores? Aquela sopa de ervilha num dia de chuva. O sorvete devorado do pote, naquele momento de fúria e desencanto. O bolo da Maria (quem conhece sabe), que se faz presente em momentos de alegria, especialmente pela sua doce presença.
Os sentidos também podem trazer lembranças ou sentimentos ruins. Não há nada de legal em ver uma barata olhando pra você com aquela superioridade de quem vai te nocautear com um voo certeiro. Quando algo não cheira bem (pode ser em sentido literal ou figurado). Aquela comida que te juraram que era uma delícia... Só que não!!! E o que dizer do barulho de britadeira às oito da manhã de um sábado qualquer te tirando o sono e o humor? Passar a mão, por engano, em um tecido que te dá gastura... Arghhh!!!
Quando as coisas estão difíceis - e elas teimam em ficar - são esses sentidos associados ao bem estar que podem nos salvar. Podem transferir nossos pensamentos ruins, pelo menos por uns instantes, para breves momentos de paz e prazer. Nossos sentidos são tão importantes que quando somos privados de algum os demais tentam compensar. 
Acho que na verdade os sentidos fazem muito sentido.

Anita Safer

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