sexta-feira, 20 de abril de 2018

Uma linda senhora chamada Brasília

Foto: Simone 
Recebi um telegrama do meu pai com os seguintes dizeres: Parabéns pelos seus dois aninhos. O papel amarelado e cheio de vincos foi lido e relido toda a minha vida. Especialmente porque ele faleceu três anos depois, mas o telegrama resistiu como prova de sua existência e de seu carinho por mim. Na ocasião do telegrama ele estava no Piauí e nós já estávamos em Brasília.
Do Piauí eu trouxe o amor por pitombas e bacuris, o gosto por balançar em redes e o calor entranhado na pele. Trouxe nas veias a herança ancestral das minhas famílias de pai e mãe. Tenho muito amor pela minha terra.
Cresci em Brasília e com Brasília. A cidade era toda feita de distâncias, terra vermelha e redemoinhos. Na infância vi prédios sendo construídos, avenidas tomando formas naquela imensidão sem fim. Por sermos todos pioneiros éramos muito próximos e formávamos uma grande família; espalhada pelas poucas e jovens superquadras. Assim brincávamos, brigávamos, vivíamos o primeiro amor e mais alguns, às vezes.
Na adolescência as festas aconteciam nos apartamentos, sem que os vizinhos reclamassem, pois os filhos de todos estavam lá. Embaixo dos prédios sentávamos em roda, tocávamos violão e falávamos de tudo. Com toda a calma do mundo. 
A cidade cresceu e hoje é uma linda senhora. Brasília é diferente, sempre tem algo a ser descoberto. É como uma mulher enigmática, que revela-se aos poucos; e eu aprendi a olhar sempre pro céu. O céu de Brasília, que é cantado e descrito em poemas, é lindo de doer. É a minha paisagem, como para alguns é a praia no litoral, a vegetação de mandacaru no sertão.
Amo esse lugar. Posso viajar o mundo, mas aqui é minha casa. Aqui eu danço, escrevo, amo, desenho e vivo tudo o que sou.
Escrevi tudo isso pra Simone, minha amiga que também viveu uma trajetória assim e disse querer ler algo escrito por mim sobre a cidade. Ela também faz parte da minha paisagem há muitos anos. Uma amiga que é uma Beleza, com perdão do trocadilho. Sem contar que tenho poucos leitores e não quero perder os poucos que tenho...rs
Beijos Brasília, beijos Simone. Grata por me acolherem e fazerem parte do que sou.

Anita Safer

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