domingo, 31 de dezembro de 2017

Mantendo a tradição

Foto de Lia Tavares (Ilustração de Valderio Costa)
Temos uma tradição muito legal na minha família. Nos reunimos no final do ano em um evento intitulado Ferreirinhas e Ferreirões. É tipo um natal fora de época. Uma vez só fomos conseguir nos reunir em fevereiro...rs. Voltando à tradição. Neste encontro costumamos fazer um mural, onde colocamos todas as besteiras que falamos durante o ano. São coisas muito engraçadas, ridículas, às vezes. Aí fazemos uma eleição e a melhor "bestage" é premiada. O vencedor do ano anterior entrega o prêmio com toda pompa e circunstância. O legal é ver como as crianças curtem quando estão concorrendo. Este ano mesmo a nossa pequena vencedora foi a Luana que disse: "Nossa! Mamãe finalmente se animou pro Natal. Esse ano colocou até uma IRLANDA na porta".
Sabe o que é legal nessa brincadeira? Podemos rir de nós mesmos. Podemos ter a pureza da Luana e de todas as outras crianças. O erro faz parte de nossa vida tanto quanto os acertos. E esses nossos deslizes são compartilhados e acolhidos com alegria neste momento.
São momentos assim que alimentam nossa vida e nos fortalecem para as batalhas diárias. Nada melhor que estar perto de pessoas que amamos e dar muitas risadas e, de quebra, também ter espaço para compartilhar as coisas sérias da vida. Precisamos uns dos outros, precisamos dar e receber. Nesta troca vamos enriquecendo a nossa caminhada. Desejo estar sempre cercada de pessoas maravilhosas assim, que me nutrem, me inspiram. Elas estão na minha família, nos amigos maravilhosos que tenho. Desejo também que todos os que estão lendo este post tenham muitos momentos de "bestage" e que reconheçam a benção que é viver momentos de muito amor. Gratidão.

Anita Safer

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O que você vai ser quando crescer?

Foto de Luciana Arce (com Cleo)
Quando a gente é criança sempre nos perguntam: O que você vai ser quando crescer? É difícil entender o que estão perguntando, até porque não entendemos essa história de... quando você crescer... como assim? A gente já se acha gente grande. Mas sempre rola essa pergunta. Ainda lembro, mais ou menos, da conversa com meus coleguinhas sobre esse assunto. As respostas eram clássicas. Médicos, bailarinas, nenhum especialista no ramo funerário ou algo assim. Ah, tinha uma que queria ser Física Nuclear e essa criatura era eu. Eu não sabia o que fazia um físico nuclear e não sei até hoje, pra falar a verdade. Mas achava que era algo muito importante. Também achava que pra morar em Angra dos Reis tinha que ser físico nuclear e eu queria muito morar lá; pelas fotos era um lugar lindo. Mas não há sonho que o Ensino Médio e um professor de Física não possam destruir . Então mudei de planos e resolvi que seria fotógrafa. Não uma fotógrafa qualquer, mas daquelas da National Geographic, porque a gente nunca quer ser pouca coisa, né mesmo?
Dos meus colegas, a única que realizou o desejo de infância foi a que disse que queria ser dona de casa. Isso todos nós nos tornamos, meninos e meninas, independente do que o futuro profissional nos reservou. Fiz uma pesquisa, perguntei pra dez pessoas se elas se tornaram aquilo que desejavam ser quando crianças. Cem por cento respondeu que não. Sem margem de erro pra cima ou pra baixo. Então, não fiquemos tristes. O problema não está em nós e sim nessa maldita pergunta. 
Hoje, adulta, nem fotógrafa e nem física nuclear, surgiu uma nova pergunta. Essa sim, libertadora. Quem você quer ser?
Quem queremos ser? Que valores queremos cultivar? Que características temos que nos incomodam e queremos minimizar? Quais vícios queremos deixar de lado? Estas perguntas são importantes porque podem nos transformar em pessoas melhores. A mudança começa sempre pelo querer, pelo desejo de mudar. Se todos os dias me faço essa pergunta, reforço o que é essencial pra mim. Deixo de colocar a minha mudança nas mãos dos outros. "Não sou feliz por causa de tal pessoa", "não consigo realizar tal coisa por causa de..." O que eu quero? Quem eu quero ser? Eu quero ser uma pessoa mais saudável, mais eficiente, mais tranquila, mais ativa, mais amorosa? Veja que todas essas perguntas só se referem a nós e não aos outros. Tem uma frase do Chico Xavier que diz: Aos outros dou o direito de ser como são, a mim dou o dever de ser cada dia melhor.
Eu tenho gostado desta pergunta. Ela tem me provocado...rs. Faço a você essa provocação. Quem você quer ser? E pra ficar divertido, se quiser, comente neste post o que você queria ser quando criança. Isso vai ser bem legal! 

Anita Safer

domingo, 17 de dezembro de 2017

Cadê a cama que tava aqui?

Cama, gente, é um trem danado de bão. É algo que você deseja em muitos momentos. Tem aqueles clássicos, desnecessário comentar; vocês sabem quais... seus danadinhos. Na cama descansamos a carcaça velha depois de um dia exaustivo. Nela você deita pra ler um livro, ouvir música, senta com alguém pra conversar. As crianças adoram pular em cima ou se esconder embaixo dela. Nela você pode dar ou receber massagens relaxantes. E quando você tá gripado, o que te indicam? Vitamina C e...
Mas vou falar de um aspecto polêmico em relação a esse objeto com o qual tenho um profundo afeto. As camas, nos modelos que amo, estão em extinção. Elas mudaram, não são mais as mesmas pra mim. Passando por umas lojas de móveis um dia desses não consegui ver as boas e velhas camas de sempre. Apenas camas box. Sabe o que é uma cama box? Um colchão gigante em cima do outro. Não me entendam mal, não tenho nada contra colchões. Eu os amo, na verdade. Até mesmo porque uma cama sem colchão é como Claudinho sem Bochecha e eu, assim, sem você... Mas a cama box me priva de colocar meus sapatos embaixo dela; um desleixo gostoso que gosto de cultivar. Também não posso colocar a caixa de plástico cheia de fotografias antigas, da época em que as memórias eram reveladas. São camas muito altas e eu muito baixa... Sentiram o drama? E os ácaros que tem nelas? Pra eles a cama é um resort, praticamente. Enquanto escrevo lembro que meus gatos, se soubessem ler e escrever, seriam os primeiros a postar comentários indignados; afinal, tem lugar melhor pra afiar as unhas que uma imensa cama box?
Concordo que as camas precisam de um novo modelo, não podemos continuar destruindo florestas pra fazer camas de madeira.
Ok... Não são só as camas que estão ficando obsoletas, eu também to. Sei que muita gente gosta dessas novas, vai discordar de mim e fazer comentários... in box... (Não resisti ao trocadilho tosco...haha). Mas, fazer o que? Como diz o ditado: Quem faz a cama, deita na cama... Então, fui!

Anita Safer

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

No caminho da caminhada


Fui caminhar, depois de um bom tempo. Não que eu estivesse totalmente sedentária. A verdade é que agora sou uma pessoa acadêmica. Tô tentando frequentar uma academia... É um pouco difícil, lá é cheio de pesos que... PESAM. Aff. Sem contar que tenho a sensação de que fui enganada, porque olhava de fora pelo vidro e só via pessoas super saradas e gostosonas, achei que era só passar pela porta que eu ficaria também...hahaha. Mas vou tentando ser 'FINITS', como diz o cara num áudio que me mandaram. A saúde anda meio capenga, preciso me cuidar um tiquinho.
Bem, voltando à caminhada. Isso sim é felicidade. Descobri que estava morrendo de saudades dos grandes amigos que encontrava todos os dias. Digo grandes amigos, mas não sei seus nomes, o que comem, onde vivem. Mas sei que de tanto vê-los criei um laço de afeto. O primeiro que revi foi o admirável homem de bigode - que estava sem bigode - mas não me enganou, o reconheci assim mesmo. Ele é incrível, você pode caminhar a hora que for, ele sempre está lá. Um sorriso educado, os cabelos brancos. Às vezes caminha com a esposa, alta e séria, mas quase sempre caminha sozinho. E hoje ele correu. Acho que estava me mandando um recado, tipo, olha só como eu progredi nesse tempo em que você desapareceu. 
Tem o casal bonitinho. Eles estão sempre muito elegantes. Caminham devagar e pegam mangas no caminho. Parece que estão dando um passeio em uma cidade do interior. Uma graça.
Outro casal constante é mais agitadinho. Sempre que passam por mim eles param e ele fala algo galanteador... "Vou cantar uma música pra você: Ela não anda, ela desfila...". Coisas assim. Ela olha com aquele olhar de... "Tenha paciência, meu velho é meio ridículo". Mas eles se entendem e fazem parte do cenário.
Existem também as que caminham sozinhas. Uma é uma senhora nordestina que sempre que passa por alguém ergue o braço com o cotovelo flexionado e diz... "A paz de Cristo". Se você passar por ela vinte vezes, vinte vezes serás abençoado e assim eu continuo, na paz.
A outra não vejo sempre, deve ser ocupada. Mas ela dá um belo sorriso carioca. Acho que ela é carioca. O bom dia dela tem aquela cançãozinha chiada. Ela tem cor de carioca também, o que reforça minha teoria. Aquele bronzeado lindo e natural que nunca consegui ter. Minhas tentativas só me trouxeram cinquenta tons de vermelho. Mas tenho uma familiaridade com essa moça porque o carioquês dela me lembra minha amiga Kátia, que deveria se chamar Kátchxia, do tanto que chia...rs..
Então resolvi que vou reservar meus fins de semana para caminhar. Não posso privar essas pessoas queridas da bela pessoa que sou. Vai que eles também estavam sentindo minha falta e comentaram em suas casas... "Você não sabe quem eu vi hoje na caminhada..."

Anita Safer

A tal felicidade

Foto: Érica Perotto (Tirada de uma intervenção urbana)
Ele foi jogador de futebol, jogou no Corinthians, no Flamengo e pela seleção da Polônia. Hoje é motorista de caminhão e diz estar muito feliz. Foi numa matéria de TV que vi esta entrevista. Não lembro o nome dele, mas o importante é que ele está feliz, minha gente!
Muita gente acredita que a felicidade tem receita, tal qual bolo. Você tem que fazer uma faculdade, ter uma carreira de sucesso, ganhar muito dinheiro, ter uma aparência impecável, casar, ter dois filhos e um golden retriever que pulará feliz em um imenso e lindo quintal.
Essas exigências que são impostas vão deixando muito gente infeliz pelo meio do caminho. Deixam infelizes aqueles que procuram corresponder a essas expectativas, que na maioria das vezes, não são deles.
Mas então, onde está a tal felicidade? Depende. Onde VOCÊ encontra a felicidade? Onde EU a encontro? É individual essa busca. Há quem esteja feliz cercado de gente, outros são mais felizes sozinhos. O luxo e a fama, que fazem brilhar os olhos de alguns, não tem a menor importância para outros (veja o caso do jogador/caminhoneiro). Existem pessoas felizes em todas as profissões. Elas vivem em países diversos, podem viver em casarões ou casebres.
Mas a infelicidade quase sempre está em buscar viver uma vida que não é nossa, apenas pra agradar aos outros. 
Umas pessoas conseguem ser felizes quase o tempo todo; passam por dificuldades, decepções, coisas ruins e boas, mas sempre estão inteiras, alegres, cheias de vida e disposição. Outras nunca conseguem sentir-se felizes. Podem estar cercadas de coisas boas, mas sentem um vazio que toma tudo e não deixa espaço pra tal felicidade entrar. E tem também o Odair Jose que diz que: "Felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes". Eu até acredito na felicidade, mas concordo com o Odair, momentos felizes com certeza existem. Quero, sempre que possível, usufruir desses bons momentos. De toda maneira a vida é breve, um sopro. Nessa viagem tão curta é melhor, quando possível, curtir as paradas, a paisagem, a comida, as pessoas. O ônibus (ou carro) pode quebrar na estrada, o avião pode atrasar, mas ali na frente pode ter uma praia, lindas montanhas ou florestas que encherão nossos olhos por um momento de plenitude. E a vida, enquanto vida houver, segue...

Anita Safer