quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O poder infantil do não

Geraldo fotografado por José Carlos
Minha casa foi presenteada com a visita de uma criaturinha muita linda chamada Geraldo. Ele passou uma semana nos encantando com seu sorriso feliz, seus cabelinhos de Pequeno Príncipe (só que negros) e sua voz serelepe de uma criança de três anos de idade. Cheio de assuntos e curiosidades.
A predominância da palavra não nas falas de Geraldo me fez lembrar de Alice, filha da minha sobrinha, que quando tinha a mesma idade exercia, incansavelmente, o poder do não.

- Alice, quer suco?
- Não!... Quero suco

E tomava o suco satisfeita.

Quando ia pular de uma mureta:

- Alice, dá a mão, eu te ajudo...
- Não! Eu pulo sozinha!.... Me dá a mão...

Geraldo, por sua vez, vinha logo com a palavra assim que eu começava a cantar pra ele

- Não! Essa música é da minha madrinha, você não pode cantar (aliás, madrinha é a segunda palavra preferida dele. É muito amor...rsrs)

Na verdade acredito que seja a idade em que a criança está tomando consciência de sua individualidade e quer testar seu poder. É apenas uma fase, passa. Infelizmente, muitos de nós perde o poder do não pela vida afora. Vamos sendo ensinados a dizer sim pra tantas coisas que vira um hábito. O bom é dizer sim quando for pra ser sim e um sonoro NÃO, como os Geraldos e Alices nos ensinam, na hora de dizer não.
Agora é a hora em que vocês pedem pra eu parar com esse assunto e eu respondo:

- Não!... Vou parar

Anita Safer

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O que te cura?

Foto de Liana Rocha com Israel Rocha
Durante nossa vida passamos por muitos momentos difíceis, que nos fragilizam. Perdemos energia e nossa imunidade baixa. Não falo só da imunidade física, mas da imunidade de alma mesmo. 
Acho que pra momentos assim precisamos ter uma "farmácia" pessoal, que disponibilize nutrientes para enfrentar a batalha.
Mas o que nos cura? O que alivia nossos males momentâneos? Seria bom se, como em filmes de fantasia ou jogos de RPG, existissem antídotos para todo tipo de adversidade. Na vida real a coisa não é tão simples.
Talvez tenhamos que exercitar a aceitação, num primeiro momento. Identificar a origem da situação, vivenciá-la e depois partir em busca do que possa nos melhorar. Conversar com pessoas que nos compreendem, estar em lugar que gostamos, caminhar para espairecer. Orar, ouvir aquela música que traz alegria e paz pros nossos sentidos.
No fundo sabemos o que nos faz bem e o que nos debilita. Nosso corpo sente, nossa mente alerta, nossa alma reflete. 
Eu gosto de buscar minhas pequenas curas no carinho de quem me ama de verdade, numa caminhada, na dança, no canto, numa livraria grande - onde possa sentar, tomar um café e escrever, como faço agora.
Para males diferentes, remédios diferentes.
Se uma boa parte das dores que sentimos vem de dentro de nós - da nossa maneira de lidar com frustrações e adversidades, por exemplo - é razoável pensar que a solução também esteja no ambiente interno.
Entre chazinhos de coragem, comprimidos de afeto e compressas de bons momentos e fé vamos nos curando e seguindo a vida; ela é desse jeitinho.
Pra todos nós, saúde!

Anita Safer

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

O que te impede de ser livre?

Foto de Dayane Oliver com Liana Rocha
Sempre que a asma deixa eu vou caminhar e, de uns tempos pra cá, flerto com a corrida. É uma piscadela só, uns cinquenta, cem metros a cada volta. Acredite, isso é o suficiente pra eu botar os bofes pra fora. Não os "bofes", hoje conhecidos como crushs. Não to com essa bola toda pra ter que colocá-los pra correr. Confesso que também não tenho disposição pra correr atrás deles. 
Então, estava toda empolgada com essa minha tentativa de corrida quando comentei que esse pouquinho que corria me dava uma sensação incrível de liberdade. Eis que me atiraram uma pergunta na cara, à queima-roupa: "E o que te impede de ser livre?"
O que me impede de ser livre? Penso eu desde então. Desde que comecei a pensar nisso sinto que me liberto um pouco mais a cada dia. Percebi que sou responsável por minha própria prisão. Acredito que cada um de nós está aprisionado a algo. Pode ser a relacionamentos infelizes, empregos insatisfatórios, estilos de vida incompatíveis com nosso desejo. Podemos estar presos às opiniões alheias ou mesmo às opiniões próprias inflexíveis. Prisioneiros do medo, dos vícios, de uma rotina massacrante...
De todas essas prisões podemos nos libertar. São algemas imaginárias, celas povoadas  de limitações a que nos submetemos.
Já encontrei a resposta pra pergunta. Já sei o que me impede de ser livre. Sou a minha própria carcereira. Agora é abrir as portas e tentar concluir a maratona, onde comecei a correr alguns metros.
E você, o que te impede de ser livre?

Anita Safer

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Objetos espertos estão por perto

Foto: Érica Perotto
Ando maravilhada e espantada com o tanto que o mundo tá ficando sabido. Os objetos estão cada dia mais inteligentes. Fui ao shopping e a escada rolante não estava rolando - crise de identidade, será? Só sei que ela tava lá, estática, só enrolando (mas não rolando, como já disse). Pensei que era economia de luz por causa da crise, mas foi só colocar um pézinho no degrau que VUPT, ela começou a rolar e eu quase rolei junto. A danada, além de inteligente e ter sensor de contato, deve se divertir às nossas custas.
Mundo tecnológico versus humana vintage. Muitas emoções. Os elevadores, minha gente, cada dia tem mais assunto pra tratar com a gente. Eles falam o tempo todo... Subindo... Descendo... Quarto andar... Como vai a vida? (Essa última não, mas acho que é porque ainda não temos muita intimidade).
Nos banheiros as pias jorram água, sabão e papel sem que a gente precise encostar. São meio temperamentais, já percebi, não curtem muito contato físico. Só não entendo aquele ar que tenta em vão secar nossas mãos, mas não consegue. Deve ser o menos brilhante da família.
Os carros, então, estão cada dia mais espertos. O perigo são os celulares conectados a eles. Você não pode falar o o nome de alguém que ele já liga pra pessoa. Você tá conversando no carro com alguém e diz... "Sabe o fulano?"... aí o celular TUTUTU, liga pro Fulano e você tá dizendo... "Fulano não vale nada". Acabou uma amizade.
Eu vou tentando me adaptar, me modernizar e prestar atenção onde piso, porque se pensar que só queria esticar as pernas um pouquinho algum equipamento tecnológico pode ouvir e, inteligentemente, vai me fazer parar no fundo de um caixão.

Anita Safer