quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O mato cresceu ao redor

Foto: Arquivo Pessoal
Vou pedir licença e criar uma interpretação de uma canção infantil, pra ilustrar meu momento atual. Por que infantil? Porque to agindo feito criança sobre uma coisa que é pra ser simples, pessoas queridas. É o melô da reeducação alimentar. Vamos lá:

A LINDA ROSA JUVENIL, JUVENIL, JUVENIL... E aí repete, todos os trechinhos são repetidos, vocês conhecem a música e sabem como funciona. Vou poupar vocês das repetições porque vocês não são mais crianças. (No caso, a linda rosa seria eu... Vá... Deixa eu me achar... Juvenil, tudo bem, já é um exagero)

VIVIA ALEGRE EM SEU LAR (Alegre em seu lar significa uma casa cheia de gostosuras e gordices: chocolates, pizzas, refrigerantes... Quase igual à história de João e Maria)

UM DIA VEIO A BRUXA MÁ... E ADORMECEU A ROSA ASSIM (A bruxa má sou eu mesma, meu alter ego, a usurpadora que, num ataque de loucura, resolveu que eu deveria fazer uma reeducação alimentar. Coisas da minha Bruxa de  "Blehhhh" interior)

O TEMPO PASSOU A CORRER... (Só ele mesmo que corre, eu consigo, no máximo uma caminhadinha!)

O MATO CRESCEU AO REDOR... (Essa é a pior parte! Começou a entrar um monte de mato na minha casa! Hortelã, manjericão, salsa - que nem é de dançar, afff... - agrião, couve... Cinquenta tons de verde. Qualquer hora o porteiro interfona e diz "O senhor Hulk tá aqui, pode subir?".

UM DIA VEIO UM BELO REI... E DESPERTOU A ROSA ASSIM, BEM ASSIM... (Aqui nasce a esperança... Venha George Clooney, meu lindo, me acorde, criatura! Bom, mas não to falando de romance. Afinal, romance é romance e um lance é um lance; e o lance em pauta é a reeducação alimentar. O rei em questão seria o IMC - Índice de Massa Corporal - conquistado. Calma, Clooney, aguenta aí que nossa hora vai chegar.

BATEMOS PALMAS PARA OS DOIS... (Que dois? Agora deu medo. Será que desenvolvi uma dupla personalidade? Não sei, também não sei se no final receberei vaias ou os louros... Ah, não! Louro também, não aguento mais tanto mato... Voltemos à estrofe:

O MATO CRESCEU AO REDOR, AO REDOR...

Anita Safer

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Mais redes, por favor!

Foto: Cláudia Barros
Hoje vi uma matéria na TV falando sobre transplantes de órgãos. Eu estava distraída arrumando umas coisas, não prestei atenção direito. Uma cena, porém, chamou minha atenção e tocou meu coração. Um paciente, curado de um câncer, presenteou o médico que o curou com uma rede. Olha que coisa mais fofa, uma linda rede. O médico, visivelmente tocado com o presente disse ao repórter: "Estes pacientes acalantam meu coração". Ambos felizes, um porque estava curado e outro porque ajudou na cura. Compactuavam daquele momento. Ao dar a rede ao médico era como se o paciente dissesse: "O senhor cuidou de mim, agora deixe eu cuidar um pouquinho do senhor". A rede nos remete à imagem de descanso, sossego, ACALANTO. Acalanto é uma variação de acalento. Acalentar significa ninar uma criança, mas também significa suavizar, aliviar, consolar. Este diálogo, cheio de delicadeza, me comoveu pela simplicidade. Atitudes singelas num mundo tão duro. 
Transferindo para a nossa rotina, é aconchegante encontrar alguém que nos ofereça uma "rede", onde possamos ficar quietos, nos refazendo do cansaço das lutas, embalados pelo rangido monótono que o balançar proporciona...REC REC. Esta rede a que me refiro é simbólica, pode ser uma porta aberta, um colo amigo, a simples presença de um querer bem sincero - que nos proporciona um ambiente propício para acalmarmos a alma. 
Roberta Miranda desejou uma "rede preguiçosa pra deitar", quando compôs seu sucesso A Majestade, o Sabiá. Logo Jair Rodrigues, Chitãozinho e Xororó e diversos outros intérpretes entoaram o mesmo canto. Quem não deseja? Eu, que trago o nordeste nas veias sei como uma rede faz bem. E pra quem "acalanta" nosso coração devemos expressar nossa gratidão. Precisamos de mais redes e acalantos neste mundo. Afinal, a falta de paz e acolhimento pode causar males difíceis de serem curados.


Anita Safer

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Vixe, a cobra vai fumar!

Foto: Tina Arce
Um dia estávamos conversando abobrinha em casa e, não sei como, falamos sobre cobras. Eu, inocentemente, disse:
- Gente, essas cobras gigantes são assustadoras, elas matam quebrando os ossos da presa. Ainda bem que elas não mordem.
- Mas elas mordem - responderam.
Como assim, gente? Que absurdo! Aí todos pegaram os celulares e depois de poucas buscas vi em vídeo a realidade nua e crua. COBRAS GRANDES MORDEM, COM SEUS DENTÕES, ANTES DE ESTRANGULAR SUAS PRESAS! Não basta serem geladas, gosmentas, picarem e destilarem veneno. Elas também sabem as manhas da hipnose e até nos expulsaram do Paraíso, as danadas! É muito poder pra um ser. Fico chocada! Chocados também ficam todos, com a minha ignorância. Pessoal, tem muitas coisas que desconheço, por isso "Eis o que não sei" é o nome do meu blog.
Costumam chamar algumas pessoas de cobras, porque cobras são venenosas e dão o bote, quando menos se espera. Espero que não existam pessoas como este tipo de cobra, que agora vejo com outros olhos. Pessoas que não são venenosas, mas que te mordem antes de te sufocar num abraço. Epa! Pensando bem, se for uma mordidinha de leve o conjunto da cena não parece tão ruim; é até romântico...hehe. Peraí, deixa eu voltar ao assunto. O caso é que a ideia é ficar longe das cobras. Vamos deixá-las lá, no ambiente delas, uma engolindo a outra.
Eu falo de forma exagerada,na verdade é uma brincadeira. Todo mundo sabe que nós, seres humanos, somos mais perversos com os animais do que eles são conosco e não tenho interesse em perpetuar a imagem de vilã desta espécie de bicho. Estão apenas se defendendo e tentando sobreviver.
Algumas delas até servem pra salvar nossas vidas. Além do veneno delas ser a cura para o veneno delas - isso é estranho - na década de 60 criaram um famoso anti-hipertensivo com o soro da jararaca.
Sou hipertensa, aí já viu, a pressão subiu... Jararaca na veia. Vixe, será que eu tô provando do meu próprio veneno?

Anita Safer

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Enxaguando os pensamentos

Foto: Tina Arce
Algumas verdades são duras. Incontestáveis. Uma dessas verdades é a seguinte: Louças sujas tem um estranho prazer em se amontoar na pia e ficar olhando pra minha cara. Elas parecem conversar:

PRATO: Ei garfo, vem cá, acho que agora ela vai criar vergonha na cara e lavar a gente.
COLHER: Cala a boca, prato, você é muito chato!
PRATO: Olha aí garfo, lá vem a colher se metendo onde não foi chamada.
GARFO: Fato! Mas acho que essa mulher não vai lavar a gente ainda não, ela ainda nem suspirou; ela sempre dá aquele olhar desolado e faz...affff... curvando os ombros. É a deixa...
O copo, com aquele bocão, não consegue fechar a boca e diz:
COPO: Cara, aposto que quando meu último camarada chegar na pia ela toma uma atitude.

Aí eu chego na cozinha, curvo os ombros e suspiro...afff. Vejo que a bagunça tá armada, um por cima do outro. Comemorando, eu acho. Aí entra em cena o ensinamento da tia Zê. Ela é avó dos meus filhos e... Imagina uma pessoa organizada! Tentou me ensinar muitas coisas. Para arear panela de alumínio tem que usar uma certa força, até a bunda mexer, ela dizia. Eu ficava lá, me achando a Anitta. Prepara! Tentar chegar ao naipe da tia Zê é como apostar corrida com o Bolt, não dá. Mas uma coisa que ela me ensinou eu incorporei. Na hora de lavar a louça eu organizo tudo. Prato com prato. Talheres aqui, copos bocudos ali e vou lavando por itens. Incrível! Muito melhor!
Aí começo a lavar e divagar. Bem que eu podia aplicar o método "Zê Bolt" pra organizar meus pensamentos. Eles ficam todos bagunçados, misturados na minha cabeça. Eu deveria (depois do afff) organizá-los e lidar com um de cada vez. Primeiro jogar os restos no lixo. Limpar, enxaguar, secar as ideias. Olhar pra minha mente toda limpinha, toda bonitinha. Que maravilha!
Pensamentos desnecessários são como louça suja, vão te importunar até você tomar uma atitude em relação a eles.

Anita Safer

Sobre o amor

Foto: Arquivo Pessoal de Liana e Vítor Perotto
Será que faz sentido falar sobre o amor? Parece que já falaram tudo. Em prosas, versos, canções, filmes. Às vezes ele esbarra na gente e a gente cai. Cai e se entrega; com ele saímos de mãos dadas pro cinema, pro parque. Estalam-se beijos, apertam-se abraços, fortalecemos os laços.
Nas novelas o amor é sempre difícil, há sempre uma terceira pessoa minando o amor do "casal principal". Aí eu ando na rua e ouço uma moça falando pra outra, tal qual roteiro de novela das oito, que passa às nove: "Ele pode não ficar comigo, mas com ela ele não fica. Espera só pra ver quem vai ganhar essa briga". Ah, esse tom raivoso... Ele destoa tanto da palavra AMOR. Amor me parece uma palavra livre, que brinca, mas se compromete, que voa, que deixa chegar e partir. Porque amor que é amor não precisa aprisionar. De que adianta manter ao seu lado quem quer partir, viver outras histórias, carregar seu amor pra outro canto? Porque o amor é de cada um, ele não pertence ao outro. Daí o tal do amor próprio. Cada um com o seu. Não adianta querer prender o outro se não for a vontade dele, ele pode até ficar com você, mas o amor dele não estará ali. O amor gosta de ficar onde se sente bem.
Talvez eu esteja errada e a moça certa. Vai que o amor é como uma luta de vale tudo, ou uma corrida com obstáculos. Se for isso, sem problemas, não faço o tipo esportivo. Mas se for um jogo prefiro que a pessoa esteja jogando no meu time, onde possamos enfrentar juntos os embates da vida.
Prefiro juntar o meu amor com o amor de alguém que o queira e aí ir ao cinema, compartilhar pipocas e beijinhos.

Anita Safer

Será que sou quem pareço ser?

Foto by @holy.e.jon
Quem é você? Quem sou eu? Quem somos nós? Acredito que somos fruto das nossas experiências pessoais, das coisas que nos foram ditas e também dos silêncios. Vários fatores externos e internos fizeram com que nossa mente criasse uma imagem de nós mesmos. Esta imagem construída pode nos convencer de que somos pequenos, incapazes, inferiores. Às vezes esta impressão é reforçada pelas outras pessoas que nos limitam, rotulam, nos julgam ou se decepcionam por não correspondermos às suas expectativas. Por outro lado podemos ter uma autoimagem, também distorcida, que nos faz acreditar que somos perfeitos, superiores. Ao acreditar que somos perfeitos é a nossa vez de rotular, julgar e tentar subjugar o outro pra evidenciar essa suposta superioridade. Acontece que esta imagem criada não reflete a nossa verdadeira face. Daí a importância do autoconhecimento. Através dele poderemos ser quem somos. Nem mais, nem menos. Apenas um ser imperfeito procurando ser melhor.
Conhecer quem somos é um processo doloroso, mas libertador. Doloroso porque não é fácil encarar de frente nossos defeitos e limitações. Libertador porque abrimos mão de alguns rótulos e crenças que nos aprisionam. Deixando de olhar pra essa imagem construída e buscando nossa verdade, brindaremos o mundo com nossa singularidade e encontraremos mais energia e alegria. Abrimos mão da busca de uma perfeição idealizada. Freud já deu a dica: "Nós poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons".

Anita Safer