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Foto: Tina Arce |
Fazia uma caminhada e vi umas cenas que ativaram minha veia filosófica. Costumo dar umas voltas em torno de uma quadra. Em um dos lados desta quadra vi uma moça que varria a calçada de um dos prédios. Do outro lado, em outro prédio, um rapaz realizava a mesma tarefa. Enquanto ela varria de forma serena - até mesmo distraída - ele esbravejava e se agitava, reclamando o tempo todo. Não farei aqui juízo de valores, até porque, assim como ele, todos temos nossos dias de fúria e insatisfação. Como eu passei várias vezes pelos dois, pude observar o seguinte: Ela varria poucos quadrados de cada vez, juntava um montinho no centro, catava com uma pá e jogava num saco de lixo. Enquanto isso cantarolava baixinho, acompanhando uma música qualquer que tocava em seu fone de ouvido. O rapaz, por sua vez, saía dando vassouradas nervosas... flap flap flap... Tentando, em vão, jogar as folhas na grama. O vento (acho que de pura sacanagem!) trazia tudo de volta. Ele maldizia o vento, o tempo, a repetição. É assim que a gente costuma fazer muitas vezes. Os problemas caem na nossa frente, como as folhas daquelas árvores. Nós não queremos lidar com eles e tentamos jogá-los de lado. Culpamos a tudo e a todos. Nos outonos da vida estes "problemas/folhas" caem aos montes. São nossas fases ruins, onde tudo acontece ao mesmo tempo. A gente pensa que não vai dar conta, bate um desespero. Não importa de que galhos essas folhas venham, se do galho do trabalho, família, finanças... Só conseguimos achar que "tudo" está ruim e somos dominados pela ANSIEDADE. Ansiedade de que tudo passe logo. Ficamos paralisados, sem saber como agir. Frustrados por nosso caminho não ser perfeito, por nossa calçada não estar sempre limpa. Seria sábio se conseguíssemos, em momentos assim, agir como a moça do lado de cá da quadra. Separar as folhas/problemas por partes, tentar resolvê-los. Depois passaríamos para os outros quadrados. Sem deixar que os ventos da ansiedade e do desespero misturassem tudo dentro da nossa cabeça. Com calma, talvez ao som de algumas coisas boas. Mesmo em momentos ruins, algo de bom há de haver para nos ajudar a passar por eles. Daí a necessidade de fazer coisas que nos deem prazer. Uma pausa para respirar. Afinal, a estação muda, as folhas param de cair, o vento acalma, o tempo esfria, esquenta... E a vida segue. O ideal seria a gente seguir também; um passo de cada vez e, se possível, com menos ansiedade.
Nunca conseguiremos nos livrar, completamente, das folhas. É da natureza da árvore da vida que as folhas caiam e é da natureza do vento as espalhar.
Anita Safer
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Foto: Tina Arce |