sábado, 21 de maio de 2016

Assim caminha a ansiedade...



Foto: Tina Arce
Fazia uma caminhada e vi umas cenas que ativaram minha veia filosófica. Costumo dar umas voltas em torno de uma quadra. Em um dos lados desta quadra vi uma moça que varria a calçada de um dos prédios. Do outro lado, em outro prédio, um rapaz realizava a mesma tarefa. Enquanto ela varria de forma serena - até mesmo distraída - ele esbravejava e se agitava, reclamando o tempo todo. Não farei aqui juízo de valores, até porque, assim como ele, todos temos nossos dias de fúria e insatisfação. Como eu passei várias vezes pelos dois, pude observar o seguinte: Ela varria poucos quadrados de cada vez, juntava um montinho no centro, catava com uma pá e jogava num saco de lixo. Enquanto isso cantarolava baixinho, acompanhando uma música qualquer que tocava em seu fone de ouvido. O rapaz, por sua vez, saía dando vassouradas nervosas... flap flap flap... Tentando, em vão, jogar as folhas na grama. O vento (acho que de pura sacanagem!) trazia tudo de volta. Ele maldizia o vento, o tempo, a repetição. É assim que a gente costuma fazer muitas vezes. Os problemas caem na nossa frente, como as folhas daquelas árvores. Nós não queremos lidar com eles e tentamos jogá-los de lado. Culpamos a tudo e a todos. Nos outonos da vida estes "problemas/folhas" caem aos montes. São nossas fases ruins, onde tudo acontece ao mesmo tempo. A gente pensa que não vai dar conta, bate um desespero. Não importa de que galhos essas folhas venham, se do galho do trabalho, família, finanças... Só conseguimos achar que "tudo" está ruim e somos dominados pela ANSIEDADE. Ansiedade de que tudo passe logo. Ficamos paralisados, sem saber como agir. Frustrados por nosso caminho não ser perfeito, por nossa calçada não estar sempre limpa. Seria sábio se conseguíssemos, em momentos assim, agir como a moça do lado de cá da quadra. Separar as folhas/problemas por partes, tentar resolvê-los. Depois passaríamos para os outros quadrados. Sem deixar que os ventos da ansiedade e do desespero misturassem tudo dentro da nossa cabeça. Com calma, talvez ao som de algumas coisas boas. Mesmo em momentos ruins, algo de bom há de haver para nos ajudar a passar por eles. Daí a necessidade de fazer coisas que nos deem prazer. Uma pausa para respirar. Afinal, a estação muda, as folhas param de cair, o vento acalma, o tempo esfria, esquenta... E a vida segue. O ideal seria a gente seguir também; um passo de cada vez e, se possível, com menos ansiedade.
Nunca conseguiremos nos livrar, completamente, das folhas. É da natureza da árvore da vida que as folhas caiam e é da natureza do vento as espalhar.
 
Anita Safer
Foto: Tina Arce
 

domingo, 8 de maio de 2016

Feliz Dia de Alice!



O nome dela é Alice. Nome lindo e doce para uma mãe. Carinhosamente nos referimos à ela como dona Ala. Dona. Dona mesmo, porque ela se apropriava de tudo. Era dona da casa, dos filhos, das noras, genros, netos, amigos, da família toda. Mas não era dona no sentido possessivo e egoísta que é atribuído ao termo,muitas vezes. É porque ela era tão dona de si e tão amorosa que atraía a todos. Minha mãe gostava de tirar fotos com flores e plantas e sempre falava um ohhh na hora do click, como se o som fosse ser revelado junto com a imagem. Ela gostava de jovens, de casa cheia, de melancia e rapé. Gostava de dançar ao som de Clara Nunes, Luiz Caldas e Renato Borghetti. Ela ajudava as pessoas com generosidade natural, mas não gostava de fazer caridade com lugar e hora marcados. Ajudava no momento em que a necessidade do outro se manifestava. Era como um livro de autoajuda em forma de gente. Sabe aquelas coisas que a gente lê sobre autoestima, viver o momento, buscar seu caminho, sua felicidade, etc? Ela era assim, toda trabalhada na sabedoria. Chupa, Augusto Cury!... hahaha. Mas todo mundo tem defeito, né? Acho que o dela era ser uma só, porque ela era tão querida que a criança egoísta que eu era a queria só pra mim e relutava em dividí-la, não só com os muitos irmãos mas com todos que batessem à nossa porta. Isso acontecia porque minha mãe gostava de gente... mas, o melhor, gostava da gente. Te amo, mãe!

Anita Safer