quinta-feira, 18 de abril de 2024

Sabe o que eu estava pensando?

 





Perto de onde moro, um homem está sempre sentado de manhã. bem cedinho. Às vezes faço o trajeto por onde ele costuma estar. Sempre na mesma posição, como se tivesse sido esculpido por Rodin. O Pensador. Parece ser uma pessoa em situação de rua, mas noto que está sempre com um lanche por perto e, relativamente, bem vestido. Uma lona, uma mesinha, uma cadeira. Como uma casa itinerante. Minha mente vai chegando perto, carregada de pensamentos; me aproximo do local e o avisto, meus pensamentos param. É como se não quisesse que o meu barulho mental atrapalhasse os pensamentos dele. Como se houvesse uma placa imaginária avisando: Silêncio, ele está pensando. 

E começo a divagar. Existe um mundo onde moram os pensamentos? Os meus, os seus, os dele? Eles ficam numa espécie de nuvem? Se amontoam fazendo barulho como uma revoada de pássaros? Nós os jogamos para o alto ou eles caem dentro de nós? Talvez passeiem pelo espaço, como em ondas de rádio. Volta e meia percebo um pensamento que não é meu. Opa! Por que estou pensando nisso? - penso.

E quando nossos pensamentos chocam com outros pensamentos de pessoas conhecidas?

- Que coincidência, estava pensando em você agorinha.

- Eu também.

Quando estou meditando, eles - os tais pensamentos - ficam me rodeando. São como meninos travessos, proibidos de entrar em um quarto. Eles tentam de todo jeito, sorrateiros. Mas quando eles dão um sossego... ah, que momentos de paz! É bom pensar; do pensar surgem ideias, soluções... às vezes surgem problemas que nem existem também, não vou negar. De repente começo a pensar "abobrinhas". Acho engraçado esse termo, "falar abobrinhas". Dizem que essa expressão  surgiu na época em que nossa moeda ainda era o cruzeiro e a inflação imperava. Será que as pessoas só conseguiam comprar abobrinhas e só falavam disso?...rs. Eu penso em cada besteira.

Pensando bem, por que estou escrevendo tudo isso? Mas acho que penso porque existo, né, Descartes? E assim vai...


Anita Safer


terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

O trajeto e o destino

Foto: Érica S.

Ah, a vida! Ela é como uma viagem que você faz todo ano para o mesmo destino. A estrada é a mesma mas, de repente, aparecem uns buracos que antes não existiam. Pode ser que o carro quebre, que a gasolina acabe. Voos cancelados. Coisas inesperadas costumam acontecer. Muitas são bem chatas. Te desanimam. Você amaldiçoa. Algumas fazem com que você aprenda a se precaver. Evita alguns trechos, busca novas rotas. Leva itens que não levava antes. Uma lanterna, um galão vazio para gasolina. Isso se chama experiência. Em outros momentos surpresas boas acontecem. Abrem uma franquia de um restaurante que você adora, bem na beira da estrada. Você percebe que a paisagem está mais bonita, que as árvores - que antes eram pequenas, agora estão grandes e frondosas. É a vida sendo vida, como diz um jovem sábio.
A gente sofre quando vive na expectativa de que a viagem seja perfeita. Ela nem sempre será. Mas o destino final nos puxa, nos atrai. Podemos seguir acompanhados ou sozinhos. As companhias podem ser boas - ou nem tanto. Depende do trecho, depende das escolhas. O ideal é levar uma bagagem leve, mas com tudo o que for preciso pra enfrentar os desafios da travessia. Não dá pra controlar tudo. Pode acontecer um acidente fatal, que nos tire do trajeto antes do planejado. O recomendável é ter cuidado, mas sem perder a coragem e o entusiasmo. Afinal, a estrada pode ser longa, mas só pode ser percorrida um dia de cada vez. O jeito é curtir o que der pra curtir, se chatear quando for o caso e seguir adiante. E lá vou eu, com meu carrinho 1.0 (só metaforicamente, porque viagem literal não está rolando no momento...hehehe). Boa viagem a todos nós.

Anita Safer