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Foto: Morgana Guimarães |
Fui assistir uma apresentação de uma orquestra de câmara um dia desses. Aqui em Brasília a orquestra sinfônica do Teatro Nacional tem promovido esses eventos. O que é quase maravilhoso. Digo "quase" porque as apresentações da orquestra do Teatro Nacional NÃO acontecem no Teatro Nacional. Aquele teatro lindo - em forma de pirâmide cheia de quadradinhos, uma lindeza arquitetônica e cartão postal da capital federal - está fechado desde 2014. Lá assistia peças e apresentações memoráveis. Como a vez em que minha irmã fez uma chapinha pra assistir uma peça onde atuaria Thiago Lacerda. Vai que ele olharia pra ela. Quem sabe? Final da peça veio o comentário: "Ele não me viu, mas quando ele gritou CALÍGULAAAA... meus cabelos trabalhados na chapinha balançaram ao vento..."kkk. Vou voltar agora à orquestra de câmara (desculpem a divagação, sou mestra nesta arte). Uma das peças apresentadas foi o final da Sinfonia n° 45, de Haydn, conhecida como Sinfonia do Adeus. Eu nunca tinha assistido, então foi um susto quando os músicos, durante a apresentação, foram saindo aos poucos do palco. Saía um, saía outro, às vezes dois ao mesmo tempo. E eu pensando, gente, o que está acontecendo? Será que comeram alguma coisa estragada? Só ficaram dois no palco. Aí minha filha, que é muito sabida, disse: Saquei, é a sinfonia do adeus. Eles estão dando um "então, tchau" e indo embora. Nossa, achei genial. No folheto da apresentação tava lá, explicando tudinho. Eu sempre tenho preguiça de ler antes. A sinfonia foi escrita por Haydn baseada numa história real. Ele tinha um príncipe como patrono, que fazia umas estadias danadas de demoradas no verão em um palácio remoto, lá na Hungria. Os músicos, coitados, tinham que ficar lá, apresentando, longe de suas famílias. Aí ele bolou essa sinfonia, onde os músicos iam saindo à francesa. Foi um jeito esperto de mostrar pro príncipe que aquele programa tava demorado demais. E o príncipe sacou a mensagem. Que menino esperto, esse Haydn. Aí fiquei pensando. Quantas vezes na vida a gente dá uma de Haydn e vai saindo de fininho de alguma situação que tá meio chata. Às vezes é a melhor maneira de sair, sem estardalhaço, sem estragar uma relação que nos é cara, mas que não tá muito legal naquele momento. E isso vale nas diversas áreas do relacionamento. Mas pensei também em como a arte encontra maneiras de protestar e se posicionar no decorrer da história. Às vezes protestos em forma de gestos, de músicas, de poesias ou qualquer outra forma de manifestação artística. Por essas e outras amo a arte, ela nos transporta, nos instiga, nos inspira. Sem ela o mundo seria um lugar muito mais árido para se viver. Agora, vou saíndo de fininho, antes que vocês me mandem para um palácio qualquer nos confins da Hungria... Então, tchau!
Anita Safer