domingo, 17 de janeiro de 2021

Cartas para o passado


Um dia desses tive a oportunidade de fazer um contato interessante com uma pessoa que fez parte da minha vida há vinte anos atrás. Esse contato foi através de uma carta, que escrevi pra ela. Lembrei de como ela era na ocasião; seus medos, suas dúvidas, o amor que sentia, o amor que deixara de sentir. Na ocasião, o futuro era incerto, cheio de fantasmas. Quem nunca teve um momento em que a cabeça era como uma mansão mal assombrada, cheia de sustos e aparições? Aquele arrepio na alma, como quando se ouve o estalar de um telhado antigo? Mas, também, quem nunca teve a cabeça povoada de lindos sonhos, planos e desejos? Como se o Universo fosse indicar os melhores caminhos em direção ao tal "final feliz"?
Foi gratificante lembrar a essa pessoa que as coisas mudam, que os desafios podem ser superados, que a gente cresce com as dificuldades e que aprende a valorizar os bons momentos. Ela mudou nesses vinte anos, mas é ainda a mesma. A mesma pessoa, só que transformada. 
Essa pessoa sou eu.
Fui desafiada por uma amiga a escrever uma carta para mim mesma de vinte anos atrás. Ela se inspirou naquela propaganda em que o Rodrigo Santoro escreve cartas para ele jovem e ele jovem escreve cartas para ele mais velho. Mas, como não se inspirar com Rodrigo Santoro, não é mesmo? hahaha.
E se você se desafiasse a fazer esse contato com você de vinte anos atrás... o que diria? O que conseguiu superar, aprender, conquistar? 
A verdade é que faz muito sentido uma frase dita por Heráclito, ou Buda, ou não sei quem (hoje atribuem as frases mais diversas até à Cecília Meireles... vai saber... rsrs)  -  "Nada é permanente, exceto a mudança". 
Você ainda mora no mesmo lugar? Convive com as mesmas pessoas? Realiza as mesmas atividades? Seu corpo ainda guarda as mesmas características? Com certeza nem todas as respostas serão sim. Mas contar para você do passado o que encontrou no futuro pode ser terapêutico. Talvez você perceba que conseguiu chegar até aqui. Que algumas coisas ficaram melhores, outras não, mas que essa é a sua história e de mais ninguém. Você é autor e personagem. O roteiro foi escrito por você, com participação de pessoas que passaram por sua vida e que, com seus atos, alteraram alguns capítulos. Da mesma maneira que você alterou o capítulo de muitas histórias que andam por aí. 
Sua história pode ser um romance, uma tragédia, uma comédia ou drama. No geral é tudo isso, junto e misturado. Mas tudo está em constante mudança e é isso que posso dizer para a pessoa que serei daqui a vinte anos, se tiver a oportunidade de estar lá. Bora escrever mais uns capítulos, mesmo que sejam curtos, até concluir a nossa história.

Anita Safer

sábado, 9 de janeiro de 2021

Geografando

Foto: Cléo Arce

Meu desafio no segundo semestre de 2020 foi estudar Geografia. Achei legal, porque a pandemia não permitiu que eu fizesse coisas que precisasse sair muito de casa. A internet está povoada de vídeos e textos sobre qualquer assunto que a gente quiser, então foi só separar um horário do dia e mandar ver nos estudos. Encontrei até um professor bravo, que parecia estar me vendo e quando eu ia me distraindo, ele gritava: Presta atenção!!! hahaha... era cada susto. E lá fui eu, passeando por planícies e rios, me queimando no interior do planeta. Visitei espaços urbanos e rurais. Esbarrei em fronteiras e sistemas socioeconômicos diversos. As marés subiram e desceram. Os ventos vieram de todas as direções. Lembrei da música Sangue Latino que diz: "Os ventos do norte não movem moinhos"; dizem que é porque o tal do "vento alísio - que é um vento do norte -  perde a força em contato com o ar quente equatorial e não consegue mover moinhos". Achei divertido saber que tem um estádio no Macapá que tem o apelido de Zerão; o apelido é porque a linha do meio de campo coincide com a linha do Equador, ou seja, cada lado do campo fica em um hemisfério... hahaha. 
Mas é incrível como me identifiquei com o planeta, e não só por sermos dois gordinhos. Temos rios (veias), estações (estados de humor), temos nossas fronteiras (limites). Percebo como maltratamos o planeta todos os dias; pensei em como cuido de mim. Sei que deixo a desejar nessa luta individual e coletiva, por melhorar as coisas. 
É incrível como tudo na natureza é muito perfeito, como ela tentou se adaptar às mudanças que sofreu, como o planeta tenta carregar com o mesmo cuidado todas as criaturas - palavras do I Ching, oráculo milenar chinês. Então aprendi com a Geografia que preciso ser mais consciente, que não sou o centro e sim uma pequena parte de um todo. Dependemos uns dos outros e todos de um sistema maior que nós. Quero observar mais as paisagens internas e externas e aprender com elas. Cada desafio que me proponho me abre um horizonte. Por isso quero seguir sorteando desafios da minha caixinha de atividades. Neste semestre vou treinar karatê  e espero estar contando que aprendi algo novo, pois tenho muito o que aprender. Muitas coisas eu sei que ainda não sei.

Anita Safer