terça-feira, 29 de outubro de 2019

As delícias da fortuna

Quando minha amiga Márcia me convidou pra comer um "nhoque da fortuna" na Boutique das Delícias eu topei na hora. Primeiro porque curto tradições (não todas, mas algumas sim) e porque tinha comida no meio, aí não dá pra recusar...hehehe. Foi também uma oportunidade de conhecer um novo lugar.
Não sei se vocês conhecem essa tradição. Basicamente ela diz que todo dia 29 de cada mês, comer nhoque colocando uma nota de dinheiro embaixo do prato atrai fortuna. Na dúvida vamos tentar, né? E fomos. A Boutique das Delícias é um lugar muito charmoso, na 113 Norte. Lá são vendidos produtos alimentícios e artesanais produzidos no Distrito Federal. São pães, geleias, massas, bebidas, artesanatos, pastas. Produtos naturais, sem conservantes e várias opções veganas, alguns sem lactose, sem glúten. 
A proprietária, Alessandra, periodicamente cria um evento para que as pessoas conheçam a loja. A bola da vez foi o nhoque. Chegamos lá, escolhemos os nossos, colocamos as notas embaixo do prato (dólar, gente! Porque Márcia é a cara da riqueza) e nos deliciamos. Que maravilha! Massa leve, molho gostoso, ambiente bonito. Amei!
Reza a lenda que em um dia 29, durante o século IV, São Pantaleão andava como um andarilho em um vilarejo italiano. Ele tava morto de fome. Bateu à porta de uma casa pedindo comida. Uma família grande o acolheu. Como a comida era pouca pra tanta gente, os donos da casa serviram 7 unidades de nhoque pra casa pessoa. Quando o santo foi embora, descobriram que havia uma quantia de dinheiro embaixo de cada prato. Daí surgiu a tradição.
O certo é comer 7 unidade de nhoque, em pé (lembrando de antes colocar a cédula embaixo do prato) e para cada unidade fazer um pedido.
O fato é que não sabíamos dos detalhes da tradição e caímos de boca no nhoque todo. Agora a Alessandra vai ter que fazer o nhoque todo dia 29 pra gente executar a coisa direito.
E de bucho cheio  percebemos que a maior fortuna é estar perto de pessoas queridas. E saímos de lá felizes e contentes, como diz nossa amiga Côca.

Anita Safer

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

OS FIOS DE ALICE

A PARTIR DE QUE MOMENTO NOSSA VIDA COMEÇA A SER TECIDA? A NOSSA COMEÇOU NO MOMENTO EM QUE A AGULHA E A LINHA DO DESTINO ENTRELAÇARAM AS VIDAS DE MATIAS E ALICE. NA VERDADE BEM ANTES DISSO. OS QUE VIERAM ANTES AINDA JÁ FAZIAM PARTE DA TRAMA. MAS DESSE ENCONTRO - NUMA TERRA NORDESTINA, DE REDES, PITOMBAS E RIOS, CHAMADA PIAUÍ - FOMOS SENDO GERADOS UM A UM. CADA FILHO UM PONTO; E O DESENHO FOI SE FORMANDO.
E A VIDA, QUE É MOVIMENTO, NOS TROUXE PARA BRASÍLIA, A CIDADE NOVA, RECÉM INAUGURADA. CHEIA DE TERRA VERMELHA E REDEMOINHOS QUE BRINCAVAM, SEM SE PREOCUPAR COM A BRANCURA DOS MÁRMORES DOS PRÉDIOS PÚBLICOS.
ENTÃO MATIAS PARTIU E DEIXOU PARA ALICE E SEUS FILHOS O DESAFIO DE DAR CONTINUIDADE À HISTÓRIA. E NUM APARTAMENTO PEQUENO EM TAMANHO - MAS UM GRANDE CORAÇÃO - OS NOVELOS FORAM SE DESENROLANDO. CLIMÉRIO, CLÉSIO E CLODO E SUAS CANÇÕES CRIAVAM A TRILHA SONORA DE NOSSAS VIDAS. SUAS MÚSICAS FALAVAM DOS RIOS, DO POVO, DAS LEMBRANÇAS DA NOSSA TERRA. ENCHIAM A CASA DE SONS E LETRAS, ESPALHADOS POR TODOS OS CANTOS. PURO ENCANTO, TALENTO E POESIA.
CLEITON SERIA MAIS UM DOS MENINOS DA CASA, MAS FALECEU AINDA MENINO E FICOU EM NOSSA TERRA NATAL FEITO SEMENTE. UMA LUZ INTENSA E BREVE.
CLEONICE E HELOÍSA ERAM AS PRIMEIRAS MULHERES QUE CHEGARAM NA FAMÍLIA. MENINAS FORTES, RICAS EM LEMBRANÇAS QUE IAM SENDO TRANSMITIDAS ÀS MAIS JOVENS: CRISTINA, CLÉLIA E CLEANE.
NOSSA MÃE FOI COMO UMA LUZ QUE NOS GUIOU COM SEU "SILÊNCIO AGRÁRIO" - COMO SEUS FILHOS COMPOSITORES MUITO BEM DEFINIRAM EM UMA CANÇÃO QUE TERMINAVA POR TRANSMITIR A MENSAGEM DE QUE "A PROFISSÃO DOS SONHOS NÃO TEM SALÁRIO".
E COMO ERA BOM ESTAR PERTO DELA, COM SEU CHEIRO DE RAPÉ E OS ENCONTROS À TARDE COM AS AMIGAS E SUA IRMÃ OCIENE. O CHEIRO DE CAFÉ E A ROSCA DE POLVILHO. OS BORDADOS IAM SENDO FEITOS AO SOM DE RISADAS, EMBALADOS PELAS LINHAS DA AMIZADE SINCERA.
DONA ALICE, OU DONA ALA (COMO GOSTAMOS DE CHAMÁ-LA) ERA UMA PORTA ABERTA, PRONTA PARA RECEBER QUEM QUISESSE, OU PRECISASSE; UM ABRIGO SEGURO E CHEIO DE AFETO. ELA ERA UM RIO DE SABEDORIA QUE NUNCA SECAVA.  UM OLHAR TÃO CALOROSO QUANTO NOSSA TERRA. E BORDOU NOSSAS VIDAS COM TANTA BELEZA E CUIDADO QUE TUDO FICOU LIGADO A NÓS: A TERRA, A BELEZA DA MÚSICA DE SEUS FILHOS, O TECIDO XADREZ BORDADO, A PRESENÇA DE NOSSA AVÓ E TIAS E O EXEMPLO PARA AS FILHAS DE QUE MULHER DE VERDADE É LIVRE PARA CRIAR SUA VIDA E BUSCAR SER FELIZ.
E COMO AS SURPRESAS DA VIDA NÃO CESSAM NUNCA, UNIMOS NOSSAS LINHAS ÀS LINHAS DA FAMÍLIA DUMONT. AS ARTES, AFETOS E BELEZAS ATRAEM E PRODUZEM GRANDES FEITOS. POR ESSE LINDO ENCONTRO SOMOS TODOS MUITO GRATOS.

ESSE É UM TEXTO DE GRATIDÃO À FAMÍLIA DUMONT, QUE COM MUITO CARINHO HOMENAGEOU MINHA MÃE E MEUS IRMÃOS EM UMA OFICINA DE BORDADOS EM TERESINA. SEMPRE FUI GRANDE ADMIRADORA DO TRABALHO DE MATIZES DUMONT E A APROXIMAÇÃO COM A ÂNGELA E DONA ANTÔNIA,  TROUXE O BORDADO PRA MINHA VIDA. E NÃO SÓ O BORDADO, TROUXE COR, TEXTURA, LAÇOS E O NASCIMENTO DE UMA AMIZADE ENCANTADORA. 

ANITA SAFER