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Foto: Liana Rocha |
Recebi uma missão. Cuidar de três gatinhos durante a viagem de seus donos. Deveria ir ao apartamento todos os dias, colocar água e ração, limpar a areia e chamegar as fofurinhas. Tarefa das mais agradáveis e que me dá muito prazer. Mas eis que surge o inesperado, o imprevisível. Os viajantes esqueceram de deixar a chave de casa. Ai, meu Deus!!!
O jeito é chamar um chaveiro. Seu Antônio chega com todo seu conhecimento e parafernália. Diversas chaves de fenda, arames, uma mini furadeira, enfim, um arsenal digno do evento. Tudo inacreditavelmente alojado em uma pequena caixa de ferramentas. Coisas que a Física tem dificuldade de explicar.
Começa o serviço. Enrosca... Puxa... Bate... Desparafusa e... NADA. A fechadura é o que há de mais eficaz em termos de segurança. Chave tetra é pros fracos. É um modelo mais sofisticado. Inabalável, inviolável. Mas Seu Antônio não é homem de se abater e está lá, suando às bicas. Os vizinhos vem e vão, tentando disfarçar a desconfiança diante do visível arrombamento. Eu explico a natureza do acontecido para um, dois, três. Lá se vão quase duas horas e minha mente começa a pensar num Plano B. Me imagino confeccionando uma roupa de Mulher Aranha. Subirei pelas paredes de fora do prédio até o quarto andar. Ah, não posso esquecer o equipamento pra cortar a grade da janela.
Custe o que custar cumprirei minha missão e salvarei os gatinhos. Seu Antônio também está imbuído do espírito heroico - O homem de ferro, talvez - e, embora exausto, não desiste nunca. Diz-se brasileiro.
Enfim um TRECK... E a porta se abre debochadamente. Como se nenhum esforço tivesse sido feito. Depois de palmas e pulinhos entro ansiosa no apartamento, pensando na agonia dos bichanos. Lá estão os três gatos, gordos, estatalados. Indiferentes a tudo, eles dão um olhar entediado e se ajeitam confortavelmente. Nenhum sorriso, nenhum miadinho de gratidão. Mas fazer o que, amo esse desinteresse felino. É o charme deles.
Seu Antônio está visivelmente satisfeito. Fala reiteradas vezes de quanto tempo não se sentia tão desafiado. Eu faço o que queria fazer desde o início. Encho os bichos de beijos, apertos, sem ligar pras tentativas de fuga de cada um. Faço tudo isso sem roupa de Mulher Aranha. Não preciso de disfarce, sou uma heroína... hehehe.
Anita Safer