Ela estava no trabalho, em uma loja comercial. O dia era como outro qualquer. Movimento regular. Tudo sem grandes sobressaltos, como seu coração, que andava pacato de tudo, sem maiores intenções. Então ela viu um rapaz do outro lado da loja, absorto, olhando umas coisinhas. Ela começou a sentir-se mal. Falta de ar, cabeça rodando, o suor começou a escorrer pela face.
- Não acredito, disse ao colega que trabalhava ao lado. Estou tendo um ataque de pânico. Já tive isso antes.
O amigo, processando a informação e pensando no que fazer, ouviu uma risada. Ela ria.
- Ah não - ela disse - achei que era um ataque de pânico, é igualzinho, mas acho que é só aquele rapaz morto de lindo que tá ali...
Ela me contou isso e rimos muito. Muitos sentimentos e sensações se confundem dentro da gente. Raiva, ciúmes, inveja; podemos colocar todos esses sentimentos num saco só, sacudir e sofrer sem nem saber pelo que exatamente. Sem identificar a emoção e o que há por trás dela, como reagir? Corremos o risco de ter reações desproporcionais, acreditando que o outro é o causador do que nos magoa. Às vezes é mesmo, mas em alguns casos o problema pode estar em nós. Expectativas e idealizações criadas, interpretações erradas, tendência a recriar emoções antigas das quais não nos libertamos.
Citei as emoções consideradas negativas porque são mais comuns de serem ignoradas ou camufladas. A maioria de nós tem um pé atrás com nossos sentimentos "feios". Caramba, sentimento é sentimento, não precisa ser classificado. Ainda bem que eles existem, não somos máquinas. Eles apenas estão tentando dialogar com a gente, nos chamando a atenção sobre algo a nosso respeito.
Acredito que se eu conseguir identificar o que estou sentindo lido melhor com a situação. Mas preciso aprender ainda, porque costumo achar que tudo é fome...haha. Quero aprender a reconhecer meus sentimentos porque eles são meus e "quem pariu o sentimento que o embale", como falam sobre o Mateus.
Se não soubermos reconhecer o que sentimos corremos o risco de sermos colocados numa ambulância do SAMU e entubados quando, na verdade, sofremos apenas um ataque de belezura causado por alguém que anda entre prateleiras, desconhecendo o estrago que tá causando nas pessoas à sua volta.