sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Calma! Nada de pânico!

Ela estava no trabalho, em uma loja comercial. O dia era como outro qualquer. Movimento regular. Tudo sem grandes sobressaltos, como seu coração, que andava pacato de tudo, sem maiores intenções. Então ela viu um rapaz do outro lado da loja, absorto, olhando umas coisinhas. Ela começou a sentir-se mal. Falta de ar, cabeça rodando, o suor começou a escorrer pela face.
- Não acredito, disse ao colega que trabalhava ao lado. Estou tendo um ataque de pânico. Já tive isso antes.
O amigo, processando a informação e pensando no que fazer, ouviu uma risada. Ela ria.
- Ah não - ela disse - achei que era um ataque de pânico, é igualzinho, mas acho que é só aquele rapaz morto de lindo que tá ali...
Ela me contou isso e rimos muito. Muitos sentimentos e sensações se confundem dentro da gente. Raiva, ciúmes, inveja; podemos colocar todos esses sentimentos num saco só, sacudir e sofrer sem nem saber pelo que exatamente. Sem identificar a emoção e o que há por trás dela, como reagir? Corremos o risco de ter reações desproporcionais, acreditando que o outro é o causador do que nos magoa. Às vezes é mesmo, mas em alguns casos o problema pode estar em nós. Expectativas e idealizações criadas, interpretações erradas, tendência a recriar emoções antigas das quais não nos libertamos.
Citei as emoções consideradas negativas porque são mais comuns de serem ignoradas ou camufladas. A maioria de nós tem um pé atrás com nossos sentimentos "feios". Caramba, sentimento é sentimento, não precisa ser classificado. Ainda bem que eles existem, não somos máquinas. Eles apenas estão tentando dialogar com a gente, nos chamando a atenção sobre algo a nosso respeito.
Acredito que se eu conseguir identificar o que estou sentindo lido melhor com a situação. Mas preciso aprender ainda, porque costumo achar que tudo é fome...haha. Quero aprender a reconhecer meus sentimentos porque eles são meus e "quem pariu o sentimento que o embale", como falam sobre o Mateus. 
Se não soubermos reconhecer o que sentimos corremos o risco de sermos colocados numa ambulância do SAMU e entubados quando, na verdade, sofremos apenas um ataque de belezura causado por alguém que anda entre prateleiras, desconhecendo o estrago que tá causando nas pessoas à sua volta.

Anita Safer
Foto: Érica Perotto

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Aos mestres!

Foto: Arquivo Pessoal de Selma Marques
Não sei se vocês tem filhos. Tenho três, já adultos. Dizem que criar filhos só é difícil nos primeiros cinquenta anos, depois melhora... Hahaha. Adorei esta frase, apesar de não saber de quem é a autoria. A infância e a adolescência são fases em que os pais pensam, em alguns momentos,"de hoje não passa, vou enlouquecer". É muita coisa pra administrar. Aí eu os levava pra escola e lá estavam os professores recebendo - em suas salas calorentas - trinta ou mais meninos como os meus. Que criatura é essa, minha gente, que escolhe ficar cinco horas por dia, no mínimo, com essas pessoinhas cheias de energia, humores diversos, educação (ou falta dela) diferente e ainda ter que repassar a elas um conteúdo?
Trabalhei 33 anos em escolas públicas (na parte administrativa, graças a Deus!!!) e acompanhei de perto a rotina dos colegas professores. Com os que tinha mais intimidade expressava a minha opinião sobre eles com a seguinte frase: "Vocês são um bando de doidos!". Sei que em todas as profissões existem péssimos profissionais, mas a maioria dos que conheci eram pessoas dedicadas e corajosas. Professores precisam lidar com muitas coisas pra enfrentar uma sala de aula. Turmas grandes, falta de material pedagógico, instalações sucateadas, tempo insuficiente pra estudo e planejamento didático; sem falar nos pais de santo (não, não estou falando de religião, mas daqueles pais que juram que seus filhos merecem ser canonizados; esse mesmo filho que tá tocando o terror e inviabilizando o trabalho em sala). Enfim, se dar aula fosse um jogo de vídeo game seriam muitos os desafios pra conseguir passar de fase.
Tenho ouvido direto que pretendem cortar as " regalias" dos professores. Regalias? Que regalias? Cadê? Onde? Estão falando da aposentadoria especial? Se eu fosse professora pediria aposentadoria especial após o primeiro dia de aula... Hahaha. 
A vocês professores, queridos maluquinhos, desejo todas as regalias do mundo, incluindo massagens relaxantes e banheiras de hidromassagem...rs. E se estou aqui escrevendo essas bobeiras a culpa é do Raul, meu professor de Português da sétima série, que fez nascer em mim o amor pelas palavras. 
Valeu, "fessores"!

Anita Safer