domingo, 8 de fevereiro de 2015

Analisando...




Foto: Arquivo Pessoal
Uma vez li um livro interessante chamado Mentiras no Divã, de Irvin D. Yalom. É a história de uma mulher que fica revoltada porque o marido resolve abandoná-la depois de fazer terapia. Ela decide, então, vingar-se do terapeuta. Esta é a trama principal, mas trata também de outros assuntos, como a relação interpessoal no ambiente terapêutico, ética e outros mais. O que achei legal foi a reviravolta que aconteceu na vida dela enquanto tentava “enganar” o terapeuta. Diz a música do Legião Urbana que “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”. Isso é verdade. Fiz terapia algumas vezes, em momentos pontuais, onde precisava de ajuda para lidar com algo naquele momento. E digo a vocês, foi a melhor coisa que pude fazer. Certas dores são muito difíceis de encarar e eu precisava de alguém neutro, que me ajudasse a encontrar uma forma de vivenciar aquela avalanche de sentimentos. Sem dispensar o ombro amigo das pessoas que me amavam, claro, que também foram e sempre serão fundamentais em minha vida.

Agora parti para um mergulho mais profundo. As dores superficiais já haviam sido aliviadas. Então era hora de remexer naquelas gavetas velhas que nunca foram organizadas. Cheias de poeira e traças. Estou fazendo psicanálise. Deste baú tenho começado, aos poucos, a jogar coisas fora. São certezas, medos infundados (na verdade nem eram infundados, eles foram verdadeiros naquele momento, mas não preciso carregá-los indefinidamente, preciso dar espaço para novos...rs); impressões de uma menina assustada que fui e ainda sou.

O início de um processo terapêutico é difícil. Vou fazer uma analogia, como sempre... Quando reformaram a portaria do meu prédio - que ficou linda, por sinal – eu fiquei indignada porque colocaram uns espelhos enormes e eu tinha que me deparar com minha imagem inteira, toda gordinha, refletida. Eu só gostava de olhar pra espelhos minúsculos que mostrassem apenas meus belos olhos ou meu sorriso encantador. Ao fazer análise aconteceu a mesma coisa; comecei a me ver inteira, as partes agradáveis e as detestáveis. Mas aos poucos vou me observando, me vendo por vários ângulos e me conhecendo. Posso fazer alguns retoques aqui e ali, onde for possível e desejável. Outras coisas eu vou aprendendo a aceitar como parte do que sou. Hoje entendo porque escolhi o nome do meu blog EIS O QUE NÃO SEI, tenho muito ainda o que descobrir e agora sei que não preciso saber de tudo.

Um amigo disse que não faz terapia porque sabe tudo o que o terapeuta vai dizer. Quem dera fosse assim, que alguém nos desse todas as respostas, tirasse todas as nossas angústias e resolvesse todos os nossos problemas. Outra pessoa me disse: Eu não vou fazer terapia, pra que? Pagar um dinheirão pro terapeuta dizer que sou eu quem tem que encontrar as respostas? Tô pagando pra que? hahahaha. Mas esta falou de brincadeira. Confesso que tinha medo de me transformar naquelas pessoas que usam a terapia pra falar tudo o que querem, do tipo - Comigo não, agora sou uma pessoa analisada e por isso blábláblá... Despejar anos de frustrações e ressentimentos. Ao contrário disso, tenho tido mais consciência das minhas limitações, o que de alguma forma, me ajuda a compreender um pouco mais as limitações dos outros. Aprender a dizer não é um outro desafio; mas não é justo dizer sim para não magoar o outro quando este mesmo sim me magoa ou não é verdadeiro. Outras vezes me compadeço tanto com a dificuldade do outro que me sinto na obrigação de fazer algo para aliviar a sua dor. Mas existem dores que apenas o outro pode carregar, não posso fazer isso por ele, assim como ninguém pode carregar as minhas. Cada um tem a sua forma de vivenciar suas experiências. Isso é muito individual. Sei que é bom procurar alívio para as dores, sejam elas de ordem física, mental ou espiritual. Eu só tenho a agradecer a pessoas como Wallace, Luciana Leite e Tales (terapeutas e analistas)
Nessa viagem que é a vida é muito bom contar com o apoio de profissionais como eles, que ajudam as pessoas a se livrar do excesso de bagagem.

Anita Safer