quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Mudança nossa de cada dia



            De tempos em tempos reviso alguns conceitos que tenho. Acho que isso é natural à medida que o tempo vai passando e a existência apresentando novos elementos. Agora, quando começo a pensar na aposentadoria, me bate um sentimento que é um velho conhecido: o medo da mudança.
            Ai, meu Deus... É a frase que sempre me vem à cabeça - e quase sempre escapole pelos lábios - quando algo novo acontece e eu penso que não saberei lidar com aquilo. Pensando bem, tem algo positivo nesta frase, afinal, acho que no impulso, entrego nas mãos de Deus aquele problema que acredito não ser capaz de resolver. Acontece que muitas vezes nem são problemas, são situações que me tiram da minha zona de conforto. São transformações ao meu redor que desafiam a minha vontade ridícula de ter algum tipo de controle sobre as coisas.
            Ter medo é normal e saudável. Todo mundo sabe, já leu, já ouviu, já vivenciou que o medo é uma medida de proteção contra perigos. Mas, presta atenção, contra perigos. Mudar de trabalho, mudar de cidade, de atividade, de relacionamento não representa necessariamente um perigo, mas uma transformação, uma mudança. Muitas vezes o perigo está em continuar na mesma situação.
            O engraçado é que se eu tivesse algum poder para impedir que mudanças acontecessem, teria grudado no útero da minha mãe e não sairia de jeito nenhum. Isso não teria dado certo. Ela teria morrido na ocasião e eu não estaria aqui, filosofando comigo mesma.
            O I Ching, o Livro das Mutações diz: “... algumas mudanças afortunadas, no início, nos parecem inquietantes”. Quantas vezes passamos por mudanças na vida e pensamos que não sobreviveríamos a elas. No entanto percebemos, depois de um tempo, que chegamos a uma outra realidade e nos adaptamos perfeitamente a ela; para depois termos medo novamente de que esta nova realidade se transforme. É um círculo vicioso para medrosos, como eu.
Foto: Vítor Perotto
            O mais incrível é saber que a natureza nos mostra todo o tempo que é preciso mudar. A paisagem vai mudando com o passar dos anos, seja por ação do homem ou por ação do tempo. A gente nasce, aprende a falar, a andar. A gente fica adolescente, os hormônios nos transformam em uma bomba prestes a explodir. Nossos pais, por sua vez, se tornaram adultos e tem uma bomba nas mãos. Noutro momento nós somos os pais... Ou não, as trajetórias são tão diferentes. Mas cada um - independente do estilo de vida, dos seus preceitos religiosos, morais, escolhas amorosas – está em transformação constante.

             Para tentar domar meu medo de mudanças, procuro fazer uma atividade diferente a cada ano. Afinal, uma palavra que tem “dança” no final, não pode ser tão ruim assim. Então, opto por não pensar agora na aposentadoria. No momento em que ela chegar lidarei com ela, sabendo que é apenas mais um momento de transformação na vida. Então vou seguindo, me adaptando a outras tantas mudanças que se apresentam a toda hora; mas para aquelas que parecem difíceis demais de lidar eu não abro mão da minha frase célebre... Ai, meu Deus!!!!

Anita Safer