De
tempos em tempos reviso alguns conceitos que tenho. Acho que isso é natural à
medida que o tempo vai passando e a existência apresentando novos elementos.
Agora, quando começo a pensar na aposentadoria, me bate um sentimento que é um
velho conhecido: o medo da mudança.
Ai,
meu Deus... É a frase que sempre me vem à cabeça - e quase sempre escapole
pelos lábios - quando algo novo acontece e eu penso que não saberei lidar com
aquilo. Pensando bem, tem algo positivo nesta frase, afinal, acho que no
impulso, entrego nas mãos de Deus aquele problema que acredito não ser capaz de
resolver. Acontece que muitas vezes nem são problemas, são situações que me
tiram da minha zona de conforto. São transformações ao meu redor que desafiam a
minha vontade ridícula de ter algum tipo de controle sobre as coisas.
Ter
medo é normal e saudável. Todo mundo sabe, já leu, já ouviu, já vivenciou que o
medo é uma medida de proteção contra perigos. Mas, presta atenção, contra perigos.
Mudar de trabalho, mudar de cidade, de atividade, de relacionamento não
representa necessariamente um perigo, mas uma transformação, uma mudança. Muitas
vezes o perigo está em continuar na mesma situação.
O
engraçado é que se eu tivesse algum poder para impedir que mudanças
acontecessem, teria grudado no útero da minha mãe e não sairia de jeito nenhum.
Isso não teria dado certo. Ela teria morrido na ocasião e eu não estaria aqui,
filosofando comigo mesma.
O
I Ching, o Livro das Mutações diz: “... algumas mudanças afortunadas, no
início, nos parecem inquietantes”. Quantas vezes passamos por mudanças na vida
e pensamos que não sobreviveríamos a elas. No entanto percebemos, depois de um
tempo, que chegamos a uma outra realidade e nos adaptamos perfeitamente a ela;
para depois termos medo novamente de que esta nova realidade se transforme. É
um círculo vicioso para medrosos, como eu.
Foto: Vítor Perotto |
Para tentar domar meu medo de mudanças,
procuro fazer uma atividade diferente a cada ano. Afinal, uma palavra que tem
“dança” no final, não pode ser tão ruim assim. Então, opto por não pensar agora
na aposentadoria. No momento em que ela chegar lidarei com ela, sabendo que é
apenas mais um momento de transformação na vida. Então vou seguindo, me
adaptando a outras tantas mudanças que se apresentam a toda hora; mas para
aquelas que parecem difíceis demais de lidar eu não abro mão da minha frase
célebre... Ai, meu Deus!!!!
Anita Safer