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Foto - arquivo pessoal |
Minha amiga de trabalho, Cida, está cuidando de dois passarinhos que foram rejeitados após a caída de um ninho. Ela leva os dois pra todo lado, dentro de uma caixinha. Os alimenta com uma papinha própria através de uma seringa.
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Foto - arquivo pessoal |
Eu confesso que estou amando a presença desses dois queridos na escola. Quando ela não está perto e eles começam a reclamar de fome eu corro lá, me sentindo a própria substituta da mãe substituta. Eu os chamo de Zé e Mané. Um deles é todo esperto, cheio de si. O outro é bem menor e fraquinho. Sua perninha é meio aleijada e a respiração é sempre ofegante. Mas é um bravo guerreiro, pois está sobrevivendo, apesar de todas as dificuldades. Semana passada minha amiga teve que viajar e levou os dois. Uns dias sem vê-los e me surpreendi com o desenvolvimento que tiveram nesses dias. Voltaram mais fortalecidos. De vez em quando troco o nome dos dois. Sei quem é quem, mas sei que Mané é um nome usado de forma pejorativa, o que é uma maldade com um apelido carinhoso dado a tantos Manuéis que existem por aí. Fico observando o mais forte deles preparando pena por pena para o grande voo. Ele se ajeita vaidoso, se estica, bica as penas e se atreve a pular da caixinha para o fio do computador. O pequeno, depenado de dar dó, luta para manter a respiração constante, o equilíbrio "possível" em cima do fio e dá pequenos e desajeitados pulinhos do fio para o chão.
Isso lembra muito as pessoas. Umas são corajosas, fortalecidas, se preparam para se lançar rumo ao desconhecido. Outras estão debilitadas em algum aspecto, não se sentem seguras ainda. Todo mundo, acredito, tem uma certa bipolaridade neste sentido, somos corajosos em alguns aspectos e medrosos ao extremo em outros.
Meu filho trouxe de São Paulo uns biscoitos da sorte. O meu dizia: O cabelo não cresce mais rápido se o puxarmos. Então o segredo é ter paciência e lidar pouco a pouco com as dificuldades que forem surgindo. Não importa se vamos voar logo ou não, a vida não precisa ser uma competição. Os passarinhos são um exemplo disso, eles têm a mesma meta, mas os caminhos e os tempos são diferentes para atingi-la. Bonitinho mesmo é que eles estão dispostos e lutando. Enquanto isso cantam, exploram o lugar e logo os veremos voando pela janela, deixando as mamães substitutas felizes e cheias de saudade.
Anita Safer