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Foto: Liana Rocha |
Quando é janeiro
a cidade se cala. Assim sinto Brasília todos esses janeiros que tenho vivido
aqui. Parece uma criança que tagarela o dia todo e quando dorme você olha pra
ela e pensa, é tão linda dormindo, parece um anjo. Quando Brasília adormece
podemos ver com calma sua beleza. O trânsito flui devagar e gostoso – ok, já
foi melhor, eu sei. Os ônibus nos recebem com lugares diversos, vazios,
convidativos – nem de todas as linhas, sei disso também, não precisa me lembrar. Mas nesta época reina uma atmosfera que faz com que eu repare em coisas que não reparo
habitualmente. Um morador de rua está deitado no chão do ponto de ônibus. Ele
lê livros didáticos que buscou nas estantes culturais do T-Bone. Com um toco de
lápis ele tenta responder às questões dos livros. Ele também está usufruindo do
momento parado da cidade. Na rede social vejo fotos e mais fotos de viagens.
Muitos amigos que estão de férias estampam seus sorrisos cheios de praia e sol. Brinco com as amigas dizendo que elas estão horríveis de sujas (na
verdade estão com um lindo bronzeado, é que a invejinha me aflora um lado meio
perverso... haha). Eu, como sempre, estou trabalhando nesta época. Antigamente
odiava isso. Ter que trabalhar quando meus filhos estavam de férias?!? Era o fim. Os filhos estão adultos e esta
fase passou. Hoje vivo outro momento. Amo tirar férias fora de temporada. As
coisas são menos caras. Os lugares estão mais vazios. Viajar é uma das coisas
de que mais gosto na vida, uma forma boa de me conhecer melhor. Temos sempre a
impressão de que um lugar diferente vá fazer com que a gente se sinta
diferente. Isso nem sempre acontece, porque, normalmente, escolhemos as roupas
e acessórios que estamos levando, mas não temos como selecionar nossa bagagem
emocional. Minha avó dizia uma frase engraçada para esses casos - “Besta aqui,
besta em qualquer lugar”. Não é o lugar que muda algo, é o que há dentro de nós
que pode fazer com que nossos sentimentos sejam felizes ou não; independente de onde estivermos;
porém, olhar outras paisagens quase sempre me inspira. Prefiro fazer minhas
viagens de ônibus, justamente para acompanhar a mudança da paisagem, dos
sotaques, das árvores, dos cheiros, das fisionomias. O mais divertido é fazer
todo um planejamento e as coisas saírem sempre diferentes do planejado. É grande
a possibilidade de as coisas não acontecerem exatamente como nós gostaríamos. Isso tem um lado positivo, podemos vivenciar situações inusitadas e agradáveis, que não aconteceriam se nossos planos tivessem vingado. De cada viagem uma lembrança. O suco
maravilhoso de Aracaju, a comida de Blumenau, a deliciosa hospitalidade mineira
em São João Del Rey, meus amigos de infância de Jundiaí em Caldas Novas (recém
conhecidos), os dedos colados com aquela cola (que tudo cola) em Maceió... São
Paulo... ah, São Paulo, deixou um gostinho de “quero mais”. Foram muitos os
Anita Safer